Namoro no jardim do hospital
Deixada na roda da Santa Casa de Misericórdia, Damaris mora no Dom Pedro II há 68 anos
Damaris Felipe dos Santos, de 79 anos, foi abandonada ainda bebê na chamada “roda dos expostos” da Santa Casa de Misericórdia. Era um cilindro giratório de madeira onde as famílias largavam anonimamente seus filhos. Foi desativado em 1949. Ela tinha paralisia infantil. Não conseguia andar nem se alimentar sozinha. No orfanato da instituição, aprendeu a ler e escrever, além de recuperar parte dos movimentos das mãos — atualmente passa o dia todo bordando borboletas e joaninhas. Aos 11 anos, foi transferida para o Hospital Dom Pedro II, onde mora até hoje. O problema de saúde não a impede de sair, mas ela acaba ficando, pois não tem família conhecida. Deixou o Dom Pedro poucas vezes. Diz que nunca votou em uma eleição, por exemplo. Ali conheceu seu primeiro namorado, outro paciente. Ela se lembra até hoje da paquera. “Ele perguntou: ‘Vamos ali no coreto?’” Como as freiras não aprovavam o relacionamento, aproveitavam para conversar nos dias de festa, quando as religiosas estavam mais ocupadas. Depois desse romance, Damaris teve outros três relacionamentos, também com pacientes do hospital. O último foi apresentado pela filha dele. “Um dia ela me perguntou: ‘O que você acha do meu pai?’. Respondi: ‘Ele não é de jogar fora’.” Um casamento de brincadeira foi celebrado em uma festa junina no local. O companheiro morreu há cinco anos. “Foi o grande amor da minha vida”, conta ela.