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Miriam Mamber mostra seu trabalho em livro

Arquivo mostra o processo de criação das inusitadas joias feitas pela artista

Por Luísa Alcade
Atualizado em 1 jun 2017, 17h59 - Publicado em 23 nov 2012, 15h58

Os colares, pingentes e demais criações da artista plástica Miriam Mamber costumam despertar diálogos improváveis ao redor dos pescoços que adornam. As conversas giram em torno de descobertas a respeito de elementos como fungos urupês e cascas de ovo de dinossauro fossilizado. Esses materiais, que mais parecem tirados de catálogos de museus de geociências, são transformados por ela também em braceletes, anéis, brincos e outras joias inusitadas, vendidas em seu ateliê de Pinheiros por até R$ 10.000,00. “Adoro a ideia de, no meio de uma festa, alguém notar a beleza de uma amonita, por exemplo, e descobrir que se trata de um fóssil de 180 milhões de anos”, diz Miriam.

+ Veja uma galeria de fotos com joias criadas pela artista

Sementes africanas ou amazônicas, capim dourado, fibra de buriti, meteoritos, conchas, lava vulcânica, lascas de pau-brasil, fragmentos de leque de madeira do século XIX, pedaços de vidro romano da Idade Média, moedas judaicas e bizantinas, botões da década de 50. São muitos os itens improváveis, que ganham status ao ser fundidos pela curitibana de 62 anos a diamantes, ouro, prata, pérolas negras, ônix, madrepérolas, ágatas, águas-marinhas ou safiras. “Meu desafio é transformar o banal em precioso”, resume ela, que acaba de lançar um livro para celebrar quarenta anos de carreira.

Na obra, de 240 páginas, editada pela editora BEI, ela mostra dezenas de suas criações e as histórias e referências por trás delas — como as araucárias, presentes nos cenários de sua infância na capital do Paraná —, que lhe ajudaram a conquistar clientes famosas, a exemplo da atriz Irene Ravache e da dramaturga Leilah Assumpção. “Ela é uma bruxa, daquelas que, se aparece uma aranha em casa, logo pensam em alinhavar o inseto na lapela e inventar um broche”, brinca Leilah. A empresária Chieko Aoki, da rede de hotéis Blue Tree, também é adepta das joias: “Pela originalidade, seus trabalhos combinam com os terninhos que uso profissionalmente ou com algo mais informal”.

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O estilo da designer começou a ser moldado nas brincadeiras de menina, no armazém de secos e molhados da família de imigrantes do Leste Europeu. Aos 6 anos, já fabricava máscaras com estopas, cera de abelha, lã de carneiro, botões e tudo mais que encontrasse, e confeccionava brincos e colares com argila. No fim dos anos 60, mudou-se para São Paulo, e começou a produzir as primeiras joias quando ainda cursava jornalismo na USP. Em 1973, recebeu menção honrosa na Bienal de Arte de São Paulo pelo conjunto Poliestruturas, composto de bracelete, colar e um anel de prata com elementos que se movem e emitem sons, feitos a partir da observação de canudinhos de plástico, desses de tomar refrigerante. Depois do curso de comunicação, ela estudou ainda história da arte na Universidade Hebraica de Jerusalém e artes plásticas na Fundação Armando Álvares Penteado.

Joias - Miriam Mamber - Ed. 48
Joias – Miriam Mamber – Ed. 48 ()

As invenções, no início, provocavam resistência dos lapidadores. Uma vez ela pediu a um profissional que fizesse uma peça de cristal branco como se fosse uma echarpe de seda, com textura semelhante e o mesmo movimento do tecido. “Ele achou ruim, mas acabou concordando e se acostumou”, conta. Quando teve a ideia de reproduzir o formato de ervilhas e carambolas em pingentes de ouro, fez um convite ao ourives: “Vá à feira, veja como são”.

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Casada com o obstetra Carlos Czeresnia e mãe de cinco filhos, Miriam conseguiu fazer de seus trabalhos um sinônimo de brasilidade e representou o país em exposições de arte em países como Japão, França, Inglaterra e Alemanha. Já recebeu do governo encomenda de presentes para Hillary Clinton, secretária de Estado americana, e a rainha Margrethe II, da Dinamarca. Durante as comemorações dos 100 anos da imigração japonesa no país, em 2008, o Itamaraty ligou para seu ateliê encomendando um presente do governo brasileiro à princesa Michiko, com seis dias de prazo de entrega. Em vez de sacar algum item da vitrine, ela foi ao bairro da Liberdade em busca de inspiração e deparou com um obidome, uma espécie de fivela usada para fechar quimonos. Reproduziu a bugiganga com ouro, turmalina (simbolizando grãos de café) e lascas de paubrasil. Em outras ocasiões, pôs à venda braceletes produzidos com capim dourado que comprou de um ambulante no Guarujá. “As pessoas que usam as minhas criações gostam dessas misturas porque estão preocupadas em expressar ideias, e não em exibir poder econômico”, acredita Miriam, com razão.

 

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