Em individual, Mauro Piva recria testes de cor de pintores consagrados
A exposição na Galeria Leme valoriza as etapas do processo de criação das obras de arte
Enquanto os visitantes da exposição de Matisse, no MoMA de Nova York, admiravam as deslumbrantes pinturas presas à parede, Mauro Piva tomava seu tempo encarando uma mesa de centro, com uma vitrine que guardava os testes de cor do artista francês. Os pequenos papeis não eram considerados obras. Feitos por este mestre da pintura, porém, também não poderiam ser descartados. Se, para muitos, os papelotes passavam despercebidos, para o artista carioca Mauro Piva, eles representavam não só uma nova fase de sua produção, mas uma nova maneira de encontrar sua própria identidade.
“Encarei aquilo como sendo o verdadeiro Matisse”, conta Piva. “As pinceladas espontâneas eram como uma extensão dele, e tão importantes como seus quadros”, explica o artista radicado em São Paulo, que ganha individual na Galeria Leme, no Butantã, até o dia 20 de agosto. Em sua nova exposição, a mesinha de Matisse ganha destaque. Desta vez, porém, reconstituída por Piva: um por um, ele refez cada teste de cor, em que tom, pincelada e movimento foram recriados de maneira a transformar aquilo em obra de arte.
Durante sua primeira mostra na galeria, em 2013, o artista já trazia para o espaço materiais utilizados em seu próprio ateliê, no Morumbi. Lapiseiras, pincéis, fita crepe e restos de lápis apontados foram desenhados por ele e levados à mostra com o título de autorretrato. “Para aqueles que não me conhecem pessoalmente, mas vêem meu trabalho, eu me torno nada mais do que o trabalho em si: sou a tinta, o lápis, o pincel”, afirma.
O desafio cresceu quando Piva decidiu que suas próprias provas de cor também deveriam se tornar obras. Pedaços de papel de rascunho (e até papel higiênico) que tinham pinceladas despretenciosas, eram objetos secundários durante a produção de suas pinturas e, em sua nova mostra, são os verdadeiros protagonistas. Autorretrato como Teste de Cor: O Que Sobrou, por exemplo, é constituída por um papel com pinceladas coloridas. O buraco do meio é onde estava a pintura original, que hoje se encontra no México.
Num próximo passo, Piva reproduziu estudos de tons de outros artistas, para dialogar com os seus próprios. Estão expostos provas de consagrados como Joseph Albers, William Kentridge e William Turner. “Me dei o trabalho de reproduzir, antes do teste em si, o estado de conservação dos papeis”, conta. Assim, cores amareladas, fungos e manchas que marcam o passar do tempo também foram minuciosamente reproduzidos.
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