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Manifestações evocam Caras-pintadas de 1992

Protestos contra Dilma Rousseff lembram passeatas que ajudaram a tirar o presidente Fernando Collor do poder. Veja fotos da época e entenda as diferenças

Por Veja São Paulo
Atualizado em 1 jun 2017, 17h01 - Publicado em 12 mar 2015, 19h57
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impeachment collor foto 1 bx (Antonio Milena/)
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Cerca de 1 milhão de pessoas confirmaram presença em uma manifestação contra a presidente Dilma Rousseff, no domingo (15). Organizada principalmente por três grupos, Vem Pra Rua, Movimento Brasil Livre e Revoltados ON LINE, a passeata está marcada para às 14h, em frente do Masp, na Avenida Paulista. Entre as reivindicações, está o pedido de impeachment da presidente.

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O protesto remete, assim, ao movimento Caras-pintadas, de 1992, que foi às ruas de todo o país exigindo a saída do então presidente Fernando Collor de Melo, o primeiro e único a sofrer impeachment. “Existem algumas semelhanças entre os atos”, afirma Hilton Fernandes, cientista político e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo. “Em sua maioria, apresentam-se como apartidários e estão incomodados com a situação do país.”

Há, entretanto, uma diferença bastante significativa. “Não há nenhuma investigação contra a presidente Dilma, diferentemente de Collor, cujo envolvimento com um esquema de corrupção estava comprovado”, explica Fernandes.

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O alcance de público hoje é maior e mais rápido devido à tecnologia. As redes sociais se mostram o principal meio de convocação, assim como aplicativos de mensagens instantâneas, com as correntes virtuais. No passado, o chamamento foi feito, principalmente, dentro das escolas.

Hoje com 41 anos, a empresária Roberta Suplicy foi uma das estudantes que participaram das passeatas. Ela conta que foi responsável pela convocação dentro de seu colégio, o Pentágono, no Morumbi. “Pedi autorização para a diretora para faltar e levar minha turma ao centro”, lembra. “Naquela época, tinha a esperança de que a minha voz mudaria alguma coisa. Hoje, não mais. Mas vou continuar tentando.” Ela confirmou presença na manifestação deste domingo (15).

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HISTÓRICO

No início de 1992, o presidente Fernando Collor era alvo de investigação. Em maio daquele ano, seu irmão, Pedro, declarou em uma entrevista a VEJA que Collor e seu ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, comandavam juntos um esquema de corrupção, do qual PC era o testa-de-ferro. A notícia só inflamou os ânimos da população.

pedro collor capa da veja
pedro collor capa da veja ()

Na televisão, fazia sucesso a minissérie Anos Rebeldes que incitava ainda mais o sentimento de patriotismo dos jovens. As manifestações, que começaram em agosto, aconteceram principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo. A garotada recitava os versos de canção Alegria, Alegria, de Caetano Veloso. O nome “caras-pintadas” se deu porque os primeiros jovens a aparecerem na mídia pintavam palavras de ordem nos rostos.

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Destacaram-se na multidão Cecília Lotufo, que virou a musa do movimento, e hoje é responsável por um projeto que recupera praças e dona de uma pizzaria em Pinheiros, e Lindberg Farias, senador pelo Rio de Janeiro, que recentemente se viu envolvido na Operação Lava Jato (ironicamente, ao lado de Collor).

Cecilia Lotufo (2)
Cecilia Lotufo (2) ()

Na capital paulista, cada ato chegava a reunir cerca de 10 000 estudantes em frente ao Masp. Em sua maioria de escolas particulares, foram convocados pela União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), que imprimiu 50 000 panfletos e cartazes com dizeres como “Anos Rebeldes, próximo capítulo: Fora Collor, Impeachment Já.”

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“Existia uma ideia de que aqueles jovens só foram curtir, que não ligavam para a política”, diz Fernandes. “Mas mostraram o contrário: existia uma comoção geral, um desejo de mudança, e não a polarização atual.” Segundo o cientista político, por serem de colégios privados, conseguiam acesso mais fácil à informação ou mesmo aproximação com políticos.

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O fato de acontecerem em dias de semana e em horário comercial também ajudou a dar mais destaque aos jovens. “Ou as pessoas estavam trabalhando ou não conseguiam chegar porque moravam mais na periferia”, explica.

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O principal protesto que antecedeu ao impeachment aconteceu em 16 de agosto. Três dias antes, Collor havia convocado em rede nacional aqueles que o apoiavam para vestir as cores da bandeira nao próximo protesto. A população foi para a rua, mas misturou o preto, em sinal de luto, ao verde e amarelo.

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Foram seis atos em São Paulo, com eleitores de diversos partidos. Diferente de passeatas anteriores, como O Petróleo É Nosso, liderada por Getúlio Vargas; Marcha da Família de Deus pela Liberdade, que terminou com a queda de João Goulart e teve apoio de governadores e da Igreja; as Diretas Já, com Ulysses Guimarães e o PMDB por trás; os Caras-pintadas não tiveram nenhum representante majoritário, a não ser os próprios jovens.

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