Fãs acampam na fila para as apresentações de Paul McCartney
O ex-beatle se apresenta na terça (25) e na quarta (26) no Allianz Parque, na Barra Funda
Desde 2010, Paul McCartney se apresentou dezoito vezes em terras brasileiras. Ele retorna à capital para dois shows na terça (25) e quarta (26), no Allianz Parque, na Barra Funda. Como pede o ritual, fãs já se amontoam em frente à entrada do estádio. Dentro de um cercadinho montado pela produção ao lado da bilheteria, cerca de 25 jovens e não tão jovens se organizam em onze barracas, número que vem aumentando com a proximidade da apresentação.
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Quem chega ao acampamento deve se identificar e anotar o nome em uma lista (que servirá para não deixar eventuais aproveitadores furarem a fila). Logo, recebe ajuda da turma para montar a barraca e se enturmar. A segurança é garantida 24 horas pelo estádio. Além disso, a própria produção do cantor se encarrega de checar se os fãs estão bem.
“Ontem à noite, eles deixaram água e chocolate pra gente. Eles nos conhecem de outros shows”, diz a estudante Nicole Leite, de 16 anos e a terceira na lista. Ela veio de Caçapava, interior de São Paulo, e está acampada desde as 8h de sábado com a mãe e a irmã mais velha, Valquiria. “Não dá medo porque tem sempre gente aqui”.
“Você tem que falar com o Pedro”
O primeiro da fila vira quase uma celebridade nos dias que antecedem o show. Assim que a reportagem de VEJA SÃO PAULO se identifica, os outros integrantes apontam para aquele que vai entrar antes de todo mundo. “Você tem que falar com o Pedro”, diz um dos integrantes da turma.
Pedro Valli, de 16 anos, chegou com sua barraca na madrugada de sexta-feira (21). O restante do pessoal começou a montar acampamento no sábado (22) e a maioria chegou hoje mesmo.
Valli logo se apresenta, sorrindo com o feito. Ao lado da namorada, Isabella, de 19 anos, ele conta que sempre que pode faz isso. Quer ver o ídolo a qualquer custo. “Quando tinha 13 anos, comprei passagens para Recife e ingresso com o cartão do meu pai, escondido”, afirma. Logo, o tutor percebeu, deu um sermão e, então, permitiu a viagem. Seu sonho é conseguir ver a passagem de som, que acontece na terça (25) à tarde. “Por favor, acha que rola de pedir para a produção deixar eu ver? Só eu?”, pergunta.
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Com uma mochila nas costas, o servidor público Gustavo Luiz Vieira, de 21 anos, entra no espaço. Ele acabou de vir de Brasília, onde assistiu à mesma apresentação neste final de semana. “Preciso estar no trabalho em dez minutos”, diz ao pedir ajuda para separar um espaço na calçada. Dos perrengues que passou para ver o ex-beatle, o desta semana é o de menos.
“Fui de carro até Montevidéu, no Uruguai, no início do ano, porque achei que ele não viria para cá”, diz. Só em 2014, gastou pelo menos 6 000 reais com McCartney, contando passagens aéreas (incluindo aí um voo perdido) e ingressos. “Deve ser por isso que a minha vida não vai para frente”, brinca, correndo para sair para o trabalho, no Anhangabaú. “Preciso ir porque tenho que bancar o show, que ainda não está pago”.
Mãe beatlemaníaca
Aos 67 anos, Neide Gomes está em sua segunda fila para uma apresentação de Paul McCartney. A primeira se deu em 2010, quando o artista tocou no Estádio do Morumbi. Porém, ela não vai assisti-lo. Neide está guardando o lugar desde as 5h da manhã de domingo (23) para o seu filho, Ivan, de 33 anos, que precisou trabalhar.
“Eu já fui a um show, mas era dos Beatles mesmo, em 1966, nos Estados Unidos”, lembra. “Estava com o meu marido e foi lindo. Era no auge, sabe?”
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Ela diz que entende a paixão e, por isso, enfrenta a fila com o ‘coração aberto’. “Sou evangélica, não poderia estar aqui. Mas eu estou fazendo o bem e eu não me importo”, afirma. Na madrugada de terça (25), Neide cede o espaço para o filho, que virá praticamente direto do serviço para tomar o seu lugar. “Volto para casa para dormir. Não tenho mais pique para essa agitação”.
Do outro lado da cidade
Enquanto os fãs se aglomeravam em frente ao estádio, o movimento durante a tarde na portaria do Hotel Hyatt, na Vila Gertrudes, onde McCartney está hospedado, era de apenas seguranças e cerca de cinco vans, todas destinadas à produção do show. Timidamente, dois amigos – uma publicitária e um aviador – observam a fachada do local do lado oposto da rua. “Já fomos expulsos do canteiro duas vezes”, disse o rapaz.
Apesar de estarem ali desde às 10h da manhã, a dupla afirmou ter ficado no local sem muitas esperanças de encontrar com o astro. “Foi um pouco no chute de que ele estaria aqui e no fim, acertamos. Mas já estamos indo para a fila do show”, contou o aviador. No cartaz que ele segurava, via-se a inscrição: “Paul, I am wearing this t-shirt since your concert last year… Could you please sign it? ‘Cause it already stinks” (na tradução livre, “Paul, eu estou usando esta camiseta desde o seu show no ano passado… Poderia, por favor, assiná-la? Porque ela já está cheirando mal”).