Eucir de Souza: no teatro, no cinema e na televisão
Após encerrar temporada com <em>A Propósito de Senhorita Júlia</em>, o ator se prepara para investir na carreira de diretor
Os últimos meses têm sido bastante agitados para Eucir de Souza. Além de dividir a cena com Alessandra Negrini em A Propósito de Senhorita Júlia, o ator de 43 anos se revezou na gravação do longa-metragem Na Quebrada, de Fernando Bronstein, e da série policial A Teia, que deve estrear na Rede Globo ainda este ano.
Mas esses não são os únicos trabalhos do mineiro, que deixou Guaxupé, a 480 quilômetros de Belo Horizonte, e veio a São Paulo, no início dos anos 1990, para tentar a carreira artística. Souza ingressou na Escola de Arte Dramática da USP na mesma turma que revelou talentos como Matheus Nachtergaele, Mila Ribeiro, Luiz Miranda, Graziela Moretto e Fernanda D’Umbra, e, mesmo antes do término do curso, foi dirigido por Luis Damaceno, José Celso Martinez Corrêa e José Rubens Siqueira.
Em 1996, no Rio de Janeiro, teve seu primeiro contato com o diretor Walter Lima Jr. através de um workshop. A vontade de ser dirigido por ele, no entanto, permaneceu encubada até 2012, quando Alessandra Negrini indicou o ator para o papel de Moacir na adaptação do texto de August Strindberg, que se despede do Centro Cultural Banco do Brasil no próximo domingo (30). “A indicação aconteceu depois que eu e Alessandra fizemos um filme juntos”, explica o ator, referindo-se a O Gorila, filme de José Eduardo Belmonte. No longa, ele interpreta Ariosto, um crossdresser. “Demorei para entender o personagem, pois sempre associamos o homem que gosta de se vestir de mulher ao homossexual”, afirma o ator, que credita à confissão de um amigo a composição do personagem. “Durante o processo, ele me confessou que era crossdresser. Gostava tanto de mulher que se vestia como uma. Isso foi fundamental para eu entender o Ariosto”.
Além de O Gorila, outro trabalho de Souza que deve estrear neste ano é Todas as Coisas Mais Simples, de Daniel Ribeiro. No longa, uma versão expandida do curta Eu Não Quero Voltar Sozinho (2010) que fez muito sucesso no YouTube, ele interpreta Carlos, o pai de um garoto cego que descobre o amor com um colega da escola.
A carreira de Souza no cinema, no entanto, não é recente — data dos tempos da faculdade, quando fazia curtas-metragens dos alunos do curso de cinema da USP. E foi como uma produção de pequena duração, o premiado Palíndromo (2001), de Philippe Barcinski, que lhe deu visibilidade. “Muita gente ainda me reconhece graças àquele filme”, orgulha-se. Em 2007, venceu o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília por Meu Mundo em Perigo, de José Eduardo Belmonte.
Outros projetos
Foi também na faculdade que o ator conheceu Mila Ribeiro, que mais tarde integraria o Terça Insana de Grace Gianoukas. A amizade de anos também rendeu uma parceria profissional: Mila cumpre temporada no Teatro Itália com a comédia Edifício Shantung, sob direção de Souza. Além da atribulada rotina de filmagens e apresentações de A Propósito de Senhorita Júlia, o ator ensaia um novo espetáculo com Fabrício Boliveira (em cartaz com Faroeste Caboclo) e aceitou o pedido para dirigir um projeto de sua colega de elenco, Dani Ornellas.
Incansável, o ator engrena novos projetos assim que a temporada no CCBB se encerrar. “Também estou trabalhando com Murilo Benício no seu primeiro projeto de direção no cinema”, anuncia Souza que também espera uma resposta da HBO para filmar a segunda temporada da série FDP. “Recebo mensagens de fãs de toda a América Latina pedindo o retorno do Juarez”, afirma, referindo-se ao personagem do juiz de futebol que sonha em apitar a final da Copa do Mundo. Assim como ele, Souza também pensa grande: “Tenho muita vontade de fazer novela. Acredito que é um desafio, pois não há muito tempo para trabalhar o personagem. É quase um exercício de improvisação”.
Contudo, exatamente pelo grande volume de trabalho, ele teve que recusar várias propostas. “Tive e ainda tenho medo de não conseguir honrar todos os meus compromissos profissionais. Mesmo assim sei que a televisão é muito importante, pois dá a chance de um público maior conhecer o seu trabalho”. Onipresente na televisão, no teatro e no cinema, Souza não reclama da falta de trabalho. “Já me disseram que o bom de ser ator é que a gente economiza encarnações. Eu não sei se acredito nisso, mas adoro tocar vários projetos ao mesmo tempo.”