Em busca da família
Paciente pretende "dar um giro por aí" quando sair do hospital onde mora desde 1999
Na saída do Hospital Dom Pedro II, no Jaçanã, há um pórtico com os dizeres “Você trouxe alegria. Volte!”. O apelo faz sentido. De acordo com a diretora técnica Sueli Luciano Pires, apenas um terço dos 405 pacientes internados ali recebe visitas. Xista Gomes Barros, de 76 anos, está entre eles. A filha de sua ex-patroa de vez em quando aparece e a leva para passear em datas especiais, como aniversários. “Hoje ela tem mais de 30 anos, mas quando eu conheci sua família era uma bebê. Ficamos muito ligadas”, diz Xista.
Xista chegou ao hospital em janeiro de1999 para tratar uma úlcera na perna esquerda que a impediu de continuar trabalhando como empregada doméstica. O problema deixou sequelas. Até hoje, precisa de um andador para se locomover. Poderia sair dali, mas não tem casa. Perdeu há anos o contato com a família, de Pernambuco. “Eu escrevia para eles, mas há muito tempo não tenho mais resposta”, lamenta.Reservada, Xista não se apegou especialmente a ninguém no Pedro II. “Aqui não tem amigo, é mais colega”, diz. Ela não vê problema nisso. “Eu gosto do hospital. O lugar quem faz é a gente.” Embora fale pouco, tem autoridade no quarto, que divide com outras quatro pessoas. Segundo as assistentes sociais, é a única que consegue convencer uma das companheiras, surda-muda, a tomar banho. Faz-se entender por leitura labial. Pacientes como Xista, sem contato com parentes, muitas vezes ficam para sempre no hospital. Mas ela ainda pensa em procurar a família. “Quando a minha perna ficar boa devez, talvez eu dê um giro por aí.”