Como evitar que a combinação entre criança e piscina vire acidente
Afogamento é a segunda principal causa de morte de brasileiros de 1 a 4 anos, segundo dados de ONG
Em sua maioria, as crianças costumam disparar eufóricas em direção à água quando avistam uma piscina, mesmo sem saber nadar, ignorando completamente os riscos. Sem adultos por perto, a diversão pode muitas vezes terminar em tragédia. A quantidade de acidentes que continuam ocorrendo mostra que essa cautela óbvia nem sempre é adotada. Dois casos recentes exemplificam como poucos segundos de descuido podem ser fatais. Na última segunda (10), a cidade de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, foi palco de um episódio chocante. Após acordarem de uma soneca, os gêmeos Lucas Henrique e Pedro Henrique Carvalho Leme, de 1 ano e 6 meses, saíram do colchão em que estavam, escalaram doze degraus de dois lances de escada e chegaram sozinhos até a piscina, na parte de cima do sobrado onde moravam. A mãe dos meninos, a dona de casa Gisele Gomes de Carvalho Romano, 25 anos, fazia faxina num outro cômodo da residência e não percebeu a movimentação. Correu para lá após ouvir os gritos de uma vizinha e encontrou Lucas e Pedro boiando, inconscientes.
Uma das crianças ainda estava viva ao ser socorrida, mas chegou morta ao Pronto-Socorro Municipal Doutor Akira Tada, que fica a 450 metros da casa. Gisele, em estado de choque, até quinta-feira não havia prestado depoimento na delegacia que cuida do caso, o 1º Distrito Policial de Taboão da Serra. O pai dos gêmeos estava trabalhando na hora do acidente e foi direto para o hospital. Ali, antes de saber da morte dos filhos, teria dito exaltado à mulher que a porta que dava para a piscina deveria ter ficado trancada.
Outra tragédia semelhante havia ocorrido na capital no fim de novembro, quando o garoto Bernardo Giacomini Gonçalves, de 3 anos, morreu afogado na piscina do Centro Educacional Brandão Comecinho de Vida, em Moema, durante uma aula de natação. Ele participava de uma atividade acompanhado de dez crianças e com a supervisão de funcionários. Momentos depois, foi encontrado sem boia e inerte. A polícia indiciou uma professora e uma monitora por homicídio culposo. O pai da criança, o juiz Aléssio Martins Gonçalves, diz que processará a escola. “Não estou fazendo isso pelo dinheiro, mas para dar o exemplo e evitar que outras famílias passem pelo mesmo inferno”, afirma. Gonçalves conta que em nenhum momento ele ou sua mulher receberam apoio psicológico da escola. “Não tive sequer um pedido de desculpas. Só consegui reaver as coisas do Bernardo porque fui lá buscar. Eles me entregaram tudo em uma caixa de papelão”, indigna-se.
Afogamento é a segunda principal causa de morte de crianças brasileiras de 1 a 4 anos, segundo dados da ONG Criança Segura, atrás apenas dos acidentes de trânsito. A crença de alguns adultos de que relaxar por instantes a vigilância não faz a menor diferença é contrariada pelas estatísticas médicas. Segundo elas, uma criança pequena pode perder a consciência em poucos segundos e morrer se não for imediatamente socorrida.“As que não sabem se debater levam vinte segundos para submergir, e em quatro minutos o coração pode parar”, afirma o médico David Szpilman, especialista em afogamento infantil e diretor da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa).
Baseada em estatísticas oficiais, a entidade fez um levantamento para tentar quantificar o problema por aqui. O estudo mostra que na cidade de São Paulo oito crianças morreram afogadas em 2010 (veja o quadro abaixo). O número real, porém, tende a ser maior, pois as ocorrências desse tipo costumam ser subnotificadas. “Há casos em que a criança morre porque bateu a cabeça e desmaiou na água em meio a alguma brincadeira ou morre no hospital em decorrência de complicações”, explica Rafaele Madormo, diretor executivo do Instituto de Natação Infantil.
Profissionais como ele lembram que a proximidade entre criança e água sem a supervisão atenta de um adulto pode ser uma combinação fatal (leia mais sobre os cuidados que se deve tomar). Nesta época do ano, com o calor e as férias, a atenção precisa ser redobrada. “É necessário estar de olho o tempo todo, sem ficar de costas, falando ao celular ou lendo”, alerta a pediatra Renata Waxman, do Departamento de Segurança da Criança e do Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Nos últimos tempos, empresas lançaram vários produtos para tentar minimizar os riscos. Os itens mais procurados são as capas para cobrir a piscina, o alarme do tipo pulseirinha, que dispara ao entrar em contato com a água, e as grades de tela. Segundo Ricardo Silva, da Sunny Pool, revendedora de equipamentos como esses, as vendas aumentaram 15% no último mês. “Sempre que a imprensa divulga algum caso de afogamento, os pais correm às lojas”, conta ele. Um dos produtos mais populares entre os consumidores são as boias de braço, usadas para impedir que os pequenos afundem. Mas não se pode imaginar que apenas elas garantem a segurança das crianças. “Há pais que colocam as boias de braço no filho e acham que assim está tudo perfeito”,afirma Claudia Melem, da Academia Brasileira de Profissionais de Natação Infantil. “Elas são um instrumento pedagógico para ensinar à criança que o contato com a água pode ser perigoso, não uma garantia de segurança.” Coletes salva-vidas são os mais indicados para evitar problemas, segundo especialistas.
Grandes condomínios paulistanos, como os tradicionais Ilhas do Sul, no Alto dos Pinheiros, e Portal do Morumbi, contratam salva-vidas para monitorar a criançada durante o tempo em que a brincadeira na piscina é permitida. Como não há legislação específica a respeito do assunto, os cuidados de segurança em piscinas ficam a critério de cada lugar. Independentemente da infraestrutura disponível, não custa lembrar: nada funciona tão bem quanto o olhar atento e vigilante dos pais nesses momentos.
O PROBLEMA NA METRÓPOLE
O número de mortes por afogamento de menores de até 14 anos na cidade
2010 …………………………………………….. 8
2009 ……………………………………………. 5
2008 ……………………………………………. 6
2007 …………………………………………..13
2006 ……………………………………………. 6