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Cosméticos e tratamentos seguem a tendência ‘cara limpa’

Por trás da onda do visual natural se escondem desde cosméticos ultratecnológicos até sessões de reescultura (a 425 dólares) com facialists, os novos gurus da estética

Por Tatiana Cesso
Atualizado em 1 jun 2017, 17h10 - Publicado em 27 nov 2014, 19h17
luxo beleza natural
luxo beleza natural (BERNARD JASPAR/)
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Na campanha da coleção de inverno 2014 da marca francesa Sonia Rykiel, Gisele Bündchen modela tricôs folgados, regatões e calças molengas feito pijamas velhos como se posasse para o fotógrafo Juergen Teller ao acordar. Para reforçar a aparência “acabei de sair da cama”, a diretora de arte inglesa Katie Grand pediu que Gisele fosse clicada sem maquiagem. Apenas rímel e hidratante labial incolores entraram em cena. Até a escova que costuma avolumar os cabelos, alvo de contratos de peso para a gaúcha (estima-se 4 milhões de dólares pagos pela Pantene), foi dispensada. Grand os preferiu “lambidos”, uma das maneiras de evidenciar a sensualidade inata de Gisele. A campanha oficializou na moda um comportamento antiartifícios que começou entre um time de super estrelas. No último ano, Beyoncé, Gwyneth Paltrow e Rihanna, em poucos mas impactantes exemplos, compartilharam selfies sem maquiagem (e sem filtros). Em fevereiro, vinte celebridades, incluindo Julia Roberts e Scarlett Johansson, posaram para o ensaio anual da revista Vanity Fair de cara lavada (e sem Photoshop). A mensagem transparece: é a vez da mulher sem máscaras. “Autoconfiança é o novo sexy”, defende a maquiadora Bobbi Brown, dona de uma linha homônima.

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A tendência “cara limpa” poderia representar o pesadelo da indústria da beleza. No entanto, os fabricantes de cosméticos souberam interpretar o desejo a favor do faturamento anual. “O novo look é descomplicado, mas não livre de cuidados”, diz Eric Antoniotti, diretor de maquiagem da francesa Clarins. Exige, em outras palavras, uma gama de produtos que simulam o efeito natural. Em casos extremos, como o da publicidade de Sonia Rykiel, significa adotar o incolor nos lábios e no rímel — e até a substituição da máscara pelo curvador de cílios. No fim de 2013, a japonesa Shu Uemura lançou o S Curler (24 dólares), resultado de quinze anos de pesquisa e mais de 100 protótipos. O objetivo? Curvar a penugem milímetro a milímetro. Como regra, no entanto, o look natural evidencia os tons de pele (os nudes, ou nus) nas sombras, nos batons e nos esmaltes. É o visual defendido nas passarelas de Giorgio Armani, Isabel Marant, Balmain e Stella McCartney. Se, para os fabricantes de esmalte, a onda nua joga um balde de água fria na esperança de vender cores fortes e pôr as contas no azul (no último semestre, houve uma queda de 15% no faturamento de 1,6 bilhão de dólares), para a maquiagem significa aumentar a oferta. Na Bobbi Brown, o novo e já esgotado estojo de sombras Smokey Nude vai do areia ao marrom (65 dólares).

 

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Além do universo dos nus, a tendência aponta para uma forma mais simples de compor o nécessaire: menos frascos, com conteúdos mais eficazes. “Com os avanços tecnológicos, temos produtos cinco em um, que se adaptam à vida da mulher que não quer nem vai passar horas na frente do espelho ”, diz Linda Cantello, maquiadora da Giorgio Armani Beauty. Vem daí o Maestro Fusion Makeup Foundation (61 euros), base comagentes anti-idade e textura ultra fina. Na Clarins, a novidade é o Instant Light Brush-On Perfector, corretivo que camufla olheiras enquanto trabalha no enrijecimento da pele (114 reais). “O objetivo é revelar sutilmente as características de cada mulher”, afirma Lloyd Simmonds, diretor de maquiagem da YSL Beauté. Ele responde pela linha Rouge Pur Couture Vernis à Lèvres Rebel Nudes, um gloss três em um (hidratante, fixador e iluminador de efeito 3D) vendido a 182 reais.

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É nas camadas mais profundas da pele que o look zero maquiagem se mostra ainda menos zero investimento. A busca pela aparência naturalmente perfeita catapultou a procura pelos chamados facialists, os novos gurus da estética. O termo em inglês define a categoria de profissionais especializados em tratamentos para o rosto. Terri Lawton, facialist de Los Angeles, mistura infusão de oxigênio com massagem craniofacial para atingir o quea medicina chinesa chama de “chi”, pontos de energia vital. Com isso, Lawton diz liberar o stress dos músculos da face, resultando em menos linhas de expressão. Entre as adeptas do tratamento (a partir de 330 dólares) está a atriz Demi Moore. No último ano, Georgia Louise viu dobrar o número de clientes vips (Emma Stone, Cameron Diaz e Linda Evangelista) no consultório de Nova York, com lista de espera de três meses. Tudo por causa do Lift & Sculpt Facial, sessão (400 dólares) de massagens e aplicação do CACI Ultra, equipamento que conduz correntes elétricas de intensidade minúscula. “Funciona como um lifting não cirúrgico com duração de até seis dias. É o que as celebridades buscam antes de um evento”, comenta Louise, que indica o NuFace Trinity Pro (325 dólares), equipamento portátil de estimulação dos músculos, para manutenção em casa.

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No Brasil, onde afunção de facialist fica nas mãos de dermatologistas e esteticistas, a preferência segue pelos produtos manipulados, cada vez mais específicos. “Fórmulas customizadas são sempre mais eficientes”, diz a dermatologista Carla Vidal, de São Paulo. Ela desenvolveu uma receita de máscara feita com veneno da serpente papa-pinto (200 reais por quatro unidades), para um efeito lifting instantâneo. “Dura um dia e é indicado para quem tem uma festa ou sessão de fotos.” Dona de uma das agendas mais estreladas do segmento, há quinze anos Tracie Martyn abandonou a profissão de maquiadora de moda para desenvolver os próprios tratamentos estéticos, baseados em aconselhamento nutricional, ginástica facial e alta tecnologia. “Não existe receita de beleza mais poderosa do que uma rotina cercada de cuidados”, acredita a criadora do Resculptor, um equipamento que ajuda a regenerar a pele, firmando e elevando o contorno do rosto. “Depois de uma sessão de reescultura, há quem diga que passei duas semanas em retiro na Tailândia”, declarou a atriz Kate Winslet no site oficial de Tracie, sobre o tratamento de 425 dólares. Numa jornada de tantos privilégios, parece natural dar férias ao kit de maquiagem.

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