Conjunto Nacional completa 55 anos
Primeiro complexo comercial da avenida Paulista, espaço viveu momento de decadência e hoje é um dos pontos mais disputados da região
No fim da década de 50, a Avenida Paulista começou a passar por uma série de transformações, abandonando o perfil residencial. Nessa época, iniciou-se a construção dos primeiros espigões da via. Foi quando surgiram por ali também os atuais calçadões de pedestres, com um desenho branco e preto formado por mosaico português.
A movimentação criou oportunidades para visionários como o empresário argentino José Tijurs, que era proprietário de um belo terreno de aproximadamente 110 000 metros quadrados na esquina com a Rua Augusta. “Ele pretendia construir um hotel e um centro comercial para exposições de indústria”, lembra David Libeskind, arquiteto contratado para desenhar o projeto. “Tive apenas uma semana para apresentar o esboço do que seria erguido.”
A construção demorou três anos e a inauguração, em dezembro de 1958, contou coma presença do então presidente da República, Juscelino Kubitschek. Na próxima quinta (5), o prédio abre oficialmente sua decoração de fim de ano. A administração investiu em um presépio animado por luz e som, além de itens produzidos com material reciclável colocados na parte externa da fachada. A iniciativa serve também para celebrar e chamar a atenção dos paulistanos para os 55 anos de história do Conjunto Nacional.
Ao longo desse período, o local viveu fases bem diferentes. Começou de forma gloriosa, sendo considerado um dos endereços mais sofisticados da metrópole na década de 60. Entre suas atrações, tinha uma filial do restaurante Fasano, no mezanino (que funcionou ali até 1963). Cresceu junto com a Paulista, investindo em lojas e serviços. Sofreu um grande revés em 1978, quando um incêndio destruiu alguns andares e parte da fachada. Ninguém ficou ferido . A causa provável do desastre teria sido um curto-circuito.
Depois disso, o processo de decadência se acelerou. Virou uma espécie de feira livre, funcionando como ponto de vendedores ambulantes, negociantes de ouro e prostitutas. Em 1984, o grupo imobiliário Savoy comprou o local e deu início ao processo de recuperação. “Tudo por aqui esta va devastado”, lembra a advogada Vilma Peramezza, que assumiu na época como síndica, cargo que ocupa até hoje.
O prédio abriga hoje 66 lojas, incluindo a tradicional Livraria Cultura (inaugurada por ali em 1969, é o estabelecimento em atividade mais antigo do complexo). Além disso, possui quatro restaurantes e duas salas de cinema, atrações que ajudam o endereço a ter uma circulação diária de cerca de 45 000 pessoas, dos mais variados tipos — dos nerds que batem cartão na loja Geek.etc.br para atualizarsuas coleções de mangás a executivos engravatados engolindo rapidamenteo almoço nos fast-foods do pedaço.
Esse movimento ajuda a explicar o alto custo do aluguel (aproximadamente 600 reais o metro quadrado, quase o dobro do que é cobrado no Shopping Pátio Paulista). O Conjunto Nacional possui ainda três torres de edifícios, dois comerciais e um residencial. O aposentado Cláudio Heitor Moreira de Alvarenga, de 80 anos, é um dos seus moradores mais antigos. Mudou-se para lá em 1995. “Escolhi estar aqui por uma comodidade minha e de minha esposa. Adoramos tudo, mas o imposto é alto”, comenta ele, reclamando do condomínio de 2 538 reais.
Ponto tradicional
Alguns números e curiosidades sobre o endereço
› Recebe cerca de 45 000 pessoas por dia
› Possui 66 lojas, duas salas de cinema, quatro restaurantes e uma academia
› Abriga 500 escritórios, com mais de 400 empresas
› Nos apartamentos há uma média de 100 moradores
› A cobertura custa 6,5 milhões de reais e tem área útil de 1 065 metros quadrados
› Produz 5 toneladas de lixo diariamente e recicla 17% desse total