Grupo picha Cascão em calçadas para alertar sobre desperdício de água
Movimento já fez cerca de 70 desenhos pela capital; primeiro deles foi na Avenida Paulista
A figura do personagem Cascão, da Turma da Mônica, saiu dos quadrinhos para ganhar as ruas da cidade de São Paulo. Há três semanas, seu rosto, acompanhado da frase “Não quero água!”, vem sendo desenhado nas calçadas para alertar sobre o desperdício de água.
O estado vive uma crise no abastecimento. Os reservatórios da Cantareira e do Alto Tietê são os mais afetados.
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O grupo por trás da iniciativa é formado por jovens com idades entre 20 e 30 anos que notaram o contínuo desperdício de água na cidade, mesmo com as campanhas sobre o racionamento. Decidiram, então, deixar uma mensagem clara à população: picharam o personagem que tem pavor à água nas vias mais movimentadas da capital. “A figura do Cascão é de fácil entendimento, logo a mensagem é compreendida por pessoas de todas as idades”, afirma um integrante do grupo identificado como Colé – os membros pediram anonimato.
Em quase um mês, eles espalharam cerca de 70 desenhos pela cidade. O primeiro deles foi na Avenida Paulista, em frente ao shopping Center 3. “No momento em que chegamos para fazer o desenho havia um caminhão de limpeza lavando a rua”, diz Colé.
A foto do flagra foi postada na conta criada pelo grupo no Instagram (@naoqueroagua), que atualiza diariamente os seguidores sobre a ação. “Muita gente acha que alteramos as fotos quando mostramos que, enquanto fazíamos o desenho, alguém molhava a área. Não é coincidência, é o hábito da população que não mudou”, critica.
Ele diz que as pessoas do grupo são ligadas ao ramo das artes e da comunicação. Elas preferem atuar na madrugada para não atrair a atenção. “Não temos medo de represália, até porque, quando explicamos o que estamos fazendo, as pessoas nos apoiam.”
Além dos endereços escolhidos para fazer os desenhos, o grupo recebe também “denúncias” via Instagram. Os seguidores apontam há pessoas esbanjando água na cidade . “Saímos dois dias por semana para fazer esse trabalho. Em um deles, nos dedicamos aos lugares de bastante visibilidade, no outro procuramos os endereços apontados pelos seguidores”, explica Colé.
Os desenhos são feitos com um molde em estêncil e tinta spray. Isso dá mais agilidade ao processo e maior precisão do traço. Segundo Colé, a ação vai continuar. “Enquanto estivermos recebendo esse retorno das pessoas, continuaremos com o projeto.”
O grupo já recebeu contato de dez pessoas em outras três grandes cidades do país. “Enviamos moldes para Belo Horizonte, Juíz de Fora e Rio de Janeiro.”
Sobre possíveis processos por violação dos direitos autorais pelo uso da imagem do Cascão, Colé é otimista. “Acho que Maurício de Souza veria isso como uma homenagem, especialmente no contexto em que o seu personagem está inserido. Não estamos fazendo uso comercial da imagem.”