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Bom Senso F.C. propõe mudanças no calendário do futebol

Com a adesão de mais de 1 000 atletas, movimento pede alterações importantes na modalidade. Paulo André, do Corinthians, explica como surgiu o grupo

Por Marcus Oliveira
Atualizado em 5 dez 2016, 15h36 - Publicado em 4 out 2013, 18h34

Em suas carreiras, o zagueiro Paulo André, do Corinthians, e o goleiro Rogério Ceni, do São Paulo, já viveram dias melhores. Depois de um 2012 glorioso, com as conquistas da Libertadores e do Mundial de Clubes, o defensor sofre com a má fase do alvinegro do Parque São Jorge neste campeonato brasileiro (na última quarta, a equipe bateu o Bahia por 2 a 0, depois de oito rodadas sem vencer). Pelos lados do Morumbi, o interminável camisa 1, um dos maiores ídolos da história do tricolor, enfrenta um drama ainda maior, com o time rondando a zona de rebaixamento do torneio.

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Nas últimas semanas, porém, Paulo André e Ceni viraram notícia por uma iniciativa fora dos campos que pode ser classificada como um golaço. Eles estão entre os líderes de um movimento de jogadores profissionais que propõe melhorias no calendário do futebol brasileiro, com o objetivo de preservar os atletas de contusões e elevar o nível das partidas nacionais.

Outros craques, como o lateral Alessandro, também do Corinthians, o meia Alex ,do Coritiba, e Valdívia, do Palmeiras, engrossam a ação, batizada de Bom Senso F.C. Nos cálculos de seus organizadores, ela conta com a adesão de cerca de 1 000 profissionais no país. “Os torcedores precisam aprender que não somos apenas um par de pernas ou robôs”, afirma Paulo André.

Na última segunda (30), um grupo formado por vinte desses jogadores se reuniu em uma das salas da agência WMcCann, no bairro Vila Clementino, a fim de detalhar as principais sugestões.“Gostei da iniciativa, por ser uma coisa boa para quem joga, torce, patrocina e transmite os jogos”, diz o publicitário Washington Olivetto, chairman da WMcCann.

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Além de emprestar a sala para a reunião, a empresa ajudou a criar o logo do Bom Senso F.C., semelhante a um escudo de time de futebol. As sugestões discutidas foram reunidas em um documento, entregue à CBF na quarta-feira (2). A diretoria da entidade pretende convocar uma reunião com o grupo em breve.

Uma das principais ideias levadas é rediscutir o calendário de competições para reduzir o número de partidas realizadas por aqui. Nesta temporada, Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo devem disputar de 64 a 89 jogos cada um. Na Europa, gigantes como Barcelona, da Espanha, e Bayern de Munique, da Alemanha, não entram em campo mais de setenta vezes no ano. “É possível que o futebol brasileiro esteja fora da elite mundial daqui a dez anos caso essa questão não seja revista”, entende Paulo Vinicius Coelho, mais conhecido como PVC, comentarista da ESPN do Brasil.

A principal motivação para a criação do Bom Senso F.C. surgiu depois que a CBF divulgou o calendário de disputas em 2014. Segundo a entidade, a bola começa a rolar no país no dia 12 de janeiro, com a disputa dos estaduais. Portanto, os atletas devem se apresentar ao seu clube em 5 de janeiro. Como a última rodada do Campeonato Brasileiro de 2013 está marcada para 8 de dezembro, eles não teriamos trinta dias regulamentares de férias.

Bola na área

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As principais reivindicações dos atletas

› Calendário: três semanas de preparação antes do início da temporada

› Jogos: mais partidas na agenda dos times que disputam apenas estaduais e redução para os grandes

› Férias: no calendário da CBF, os jogadores devem dividir os trinta dias de folga de 2014 em dois períodos. Eles querem quatro semanas seguidas

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› Fair play financeiro: os clubes não devem gastar mais do que arrecadam. Os que não pagam salários em dia seriam punidos

“Não é briga nem boicote. É necessário que o atleta seja parte ouvida na hora de decidir o futuro do futebol no Brasil”, afirmou o goleiro Rogério Ceni logo após a reunião na WMcCann. Há duas semanas, começou-se a discutir a possibilidade do adiamento do início da temporada para 19 de janeiro, já como resultado da pressão dos jogadores.

A participação política de jogadores ainda representa uma novidade em um país acostumado a ver os jogadores mais preocupados com carrões e baladas. Um dos primeiros a se destacar com suas opiniões foi o meia Afonsinho, do Botafogo. Nos anos 70, o craque com atitudes e visual rebeldes (cultivava barba e uma bela cabeleira) entrou na Justiça contra o clube para conquistar o passe livre.

Na década de 80, a chamada Democracia Corintiana deu o que falar. Entre outras coisas, os jogadores aboliram o regime de concentração para os casados. Um dos líderes era o meia Sócrates, que morreu em 2011. Não por acaso, ele é um dos inspiradores do zagueiro Paulo André no atual movimento. “A exemplo dele, quero deixar um legado”, diz. “Sinto que podemos conseguir isso com o Bom Senso F.C.”.

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Confira entrevista exclusiva do zagueiro Paulo André:

› O que motivou você a procurar os jogadores? Não nos sentimos representados da forma que esperávamos pelo sindicato da categoria. Falta bom-senso neste calendário de 2014, mesmo diante de uma Copa do Mundo.

› Acha que a CBF não representa vocês? Ela deve se preocupar com os profissionais em todas as áreas do futebol, com a formação de atletas. O que vejo é uma inércia total. Preocupam-se com a seleção nacional, não com o futuro do esporte no Brasil.

› Você sempre foi ligado à política? Eu não me interessava muito, mas nunca lidei bem com coisas erradas. Se eu acho que está ruim, por que não tentar mudar?

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› Que influência Sócrates e a Democracia Corintiana exerceram sobre você? Ele me ensinou que dormir tranquilo, falando aquilo em que você acredita, não tem preço. Quando o Corinthians foi eliminado da pré-Libertadores de 2011 pelo clube colombiano, o Tolima, escrevi um texto criticando a reação da torcida. Na ocasião, pedi a opinião do Sócrates e ele sabiamenteme disse que nada que eu escrevesse ultrapassaria a paixão do corintiano pelo clube. Isso me ajudou a melhorar a comunicação com os torcedores.

› O Bom Senso F.C. é uma forma de os jogadores que ganham um bom salário jogarem menos? Isso é de uma ignorância tremenda. Não queremos jogar menos por preguiça ou falta de vontade. Queremos que os clubes menores atuem mais e tenham melhores condições. Temos quase um quarto da folga de um trabalhador comum. A gente passa dezesseis semanas sem ter um dia de descanso.

› Teme receber críticas dos torcedores do seu clube? Eu pinto, escrevo e trabalho como modelo, o que vai contra o estereótipo de um jogador comum. Por isso, todo dia recebo uma crítica. Estou acostumado.

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