Casas noturnas entram na disputa pelo público endinheirado
Limusines, bebidas premium e mulheres bonitas são as artimanhas para atrair público disposto a pagar 3 mil reais em uma garrafa de champanhe
A disputa entre as casas noturnas da cidade pelo público endinheirado está mais quente nos últimos dois meses. Cada noite da semana um estabelecimento tenta fisgar uma turma que busca regalias e está disposta a pagar em média 4 mil reais em uma noitada comum. O sertanejo da Villa Mix e o eletrônico da Ballroom agora têm como concorrente as noites de hip hop e funk. Nomes como Anitta, Naldo, Kanye West, Jay-Z e Beyoncé dominam os pick-ups às terças no clube Royal, em novo endereço no Itaim Bibi; às quartas, na recém-inaugurada Petit (nos Jardins) e, às quintas, na reinaugurada Pink Elephant (Vila Olímpia). Nas mesas, bowls de vodca ou uísque com energético de até mil reais são abastecidos constantemente por atendentes que correm de um lado para o outro para atender as exigências e excentricidades do público.
De limusine com as amigas
O silêncio de uma madrugada na Alameda Franca, nos Jardins, é quebrado quando uma limusine com sete garotas, todas na faixa dos 20 anos, estaciona em frente à nova casa norturna da região, a Petit. A limusine é um serviço da casa exclusivo para mulheres. Mas não para todas. “Não é para fazer com a galera. O promoter combina com uma das moças, em geral uma aniversariante, e o automóvel busca e deixa em casa”, diz Sylvinho Petit, gerente da casa. A hora ou as viagens são negociadas e custam em média mil reais – que normalmente não são pagos pelas meninas.
Aberta há pouco mais de um mês, a casa atrai meninas bem produzidas de longos saltos e saias curtíssimas, quase sempre com bordados de paetês. O movimento fica mais intenso depois da 1h manhã, mas geralmente não há filas. “A casa é pequena e todo mundo se conhece, até mesmo o staff, por isso, não tem fila”, diz Luiz Roberto Ferraz, administrador de empresas de 24 anos, frequentador recente da balada. “Vim pelos meus amigos e porque a Disco [tradicional casa na Vila Nova Conceição, que tem entre os sócios Michel Saad e Marcos Mion] não funciona de quarta”, diz. O estilo musical também é o atrativo. “É uma opção para quem prefere o hip hop e não o sertanejo da Villa Mix. E tem gente bonita. Isso é importante”, diz Luiz.
Uma das ocupantes da limusine, Alyne Marques, 26 anos, também é frequentadora da casa . “Somos sempre bem recebidas aqui”, conta a modelo formada em direito. Ela afirma também não ter pagado pela carona de luxo e, apesar de sair “pelo menos duas vezes na semana”, garante não gastar muito com as noitadas.
Em um lounge diminuto (afinal, essa é a proposta da casa), os sofás ficam abarrotados de grupinhos mistos, que esperam a pista no piso superior abrir, o que acontece entre 1h e 2h da manhã, quando o espaço se esvazia. Na pista, os hits de funkeiros e rappers da moda embalam mulheres que dançam em rodinhas, enquanto os rapazes consomem baldes de vodca ou uísque com energéticos (até 840 reais) nas mesas laterais. Atendentes andam de um lado para o outro repondo as garrafas vazias. “Por ser um lugar pequeno, não compensa comprar camarote”, diz o empresário Leonardo Moraes, de 31 anos. Ele, que se define como “pão-duro”, afirma não gastar mais que 300 reais por noite, já que não bebe.
Tênis e bonés vetados
Uma das pioneiras entre os clubes de luxo, a filial da norte-americana Pink Elephant, que estava fechada desde 2011, voltou a funcionar em abril, no Itaim. Com entrada restrita a um público que pode pagar entre 200 a 470 reais (homens) e 100 a 200 reais (mulheres), a maior barreira ainda é o dress code imposto na porta. “O hostess pode barrar o cliente que não estiver bem vestido”, confirma Arlen Coelho, gerente de marketing da casa. A regra, explica, dá preferência a clientes “que tiveram o cuidado na hora de escolher o figurino para a noite”. “Homens devem estar de sapato e camisa de botão. Não entram de sneaker [tênis esportivo] ou boné. Depois que o cliente entra, eu não me importo de tratá-lo como um príncipe”, ele diz.
Não que o dia de realeza não vá custar ao escolhido. Para ocupar um dos camarotes, é preciso fazer a pré-reserva e pagar uma porcentagem adiantada (em valores que variam de 4 a 20 mil reais). Um dos ocupantes, o empresário e modelo Gabriel Nelson, 24 anos, garante que a conta, vale a pena. “Camarote a gente divide entre os amigos e tem a consumação. Às vezes a comanda passa um pouco”, conta. E o que pode ser considerado uma extravagância? “Apenas uma vez extrapolamos. Na noite do Calvin Harris, na Ballroom, gastamos juntos 20 mil reais”, conta.
Cada camarote tem uma atendente exclusiva, responsável por deixar a temperatura da champanhe no ponto e nunca, nunca, deixar a mesa desabastecida. A efusiva comemoração com rojões que era moda até pouco tempo foi abandonada depois da tragédia numa boate em Santa Maria (RS). “Temos chuva de papel, meninas lindas que vão até a mesa, paramos a festa para mostrar o acontecimento. Afinal, o cliente quer isso: ver e ser visto”, explica o gerente. Coelho diz já ter atendido um pedido de cinquenta garrafas de champanhe de um único camarote uma vez (a 2 800,00 reais cada) e, após conseguir finalmente produzir uma comemoração à altura, foi surpreendido pelo mesmo pedido vindo do camarote vizinho. “É sempre assim: se um faz, a outra mesa quer fazer também.”
Mesmo público, outro endereço
A mudança de endereço não alterou em nada o público da Royal. Desde que saiu do centro para a Vila Olímpia, a casa investe nas terças-feiras de hip hop, com nomes como Anitta e Naldo, expoentes do funk carioca. Meninas de shorts, saltos e muitos acessórios encaram a pista com copos de caipirinha nas mãos. Poucos têm mais de 30 anos. As entradas ficam entre 50 reais para mulher e 100, homens. Já os camarotes, a partir de 2 500 reais, para até dez pessoas.
A consumação é negociável. Também existe a opção da mesa – e basta comprar o bowl de uísque ou vodca, e desembolsar 480 reais por garrafa. “O que eu gosto é o conforto de ter a garrafa ao meu lado. Mostra que o staff confia no cliente. Imagina, uma garrafa de vidro na mão de um cliente”, diz o fotógrafo Rubens Pita, de 32 anos, que frequenta a casa desde o início. Ele também é adepto dos camarotes e como sempre encontra com os amigos na noitada, não fica difícil dividir a conta. “Não passa de 8 mil reais, aliás, dificilmente chega neste valor”, diz.
De acordo com o gerente de operações Anderson Soares, que coordena o atendimento ao público, as meninas também estão começando a colocar a mão no bolso. “Elas estão mais independentes e estão comprando o próprio camarote para se divertir com as amigas”, explica. Leticia Siciliano e Gabriella Vasconcellos, de 21 e 22 anos, estão neste grupo. “Não é sempre, até porque a gente chega aqui com namorado e amigos. Mas acontece sim de comprarmos”, diz Letícia, também habitué das terças-feiras na casa. Além do hip hop e do DJ (um dos preferidos é o Puff) elas se sentem mais à vontade com o público mais maduro. “Não dá para sair de fim de semana, tem muita criançada”, queixa-se. Às terças, por ser mais tranquila, muitos conhecem o staff pelo nome, como o gerente Luiz e a hostess Cássia, que também se esmeram para decorar os nomes dos frequentadores fiéis. A noite termina sempre quando está amanhecendo, mesmo quando o dia seguinte é de trabalho.