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“Acreditamos no milagre”, diz pai de menino à espera de medula óssea

Em campanha que mobilizou o país e personalidades como Neymar e Kaká, Luc Bouveret conta detalhes da batalha contra o tempo pela vida do filho

Por Ana Carolina Soares
Atualizado em 1 jun 2017, 16h55 - Publicado em 26 abr 2015, 15h47

É uma rotina dura para um menino de 11 anos: três transfusões de sangue por semana, uma bateria de antibióticos diariamente e, pior de tudo, passar os dias isolado em casa, longe dos amigos, por causa da baixa imunidade à espera de um doador compatível para passar por uma cirurgia. No fim de março, Tancrède Bouveret descobriu ser portador da síndrome mielodisplásica, uma forma rara e bem agressiva de leucemia, que afeta a produção de células. Só um transplante de medula pode salvar o garoto e o procedimento precisa ser realizado nas próximas três semanas.

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Nessa luta contra o tempo na busca por um doador compatível, seus pais, Luc Bouveret e David Arzel, iniciaram uma campanha nacional. Além de ganhar a adesão de personalidades, como a presidente Dilma Rousseff e os esportistas Kaká e Neymar, o movimento realizou um feito impressionante: o número de doadores de medula óssea no hemocentro da Santa Casa, em São Paulo, disparou dos doze candidatos habituais para 1 200 voluntários só no sábado (25). Ainda assim, o doador compatível ainda não foi encontrado.

tancrède bouveret
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“Fico feliz por saber que na luta para salvar meu filho, outras pessoas também serão beneficiadas”, diz Bouveret, terapeuta holístico. É a fase mais dura e ao mesmo tempo mais comovente de sua vida. De família nobre francesa, ele foi modelo da Dior na adolescência e ganhou prestígio mundial como decorador. Em 2009, um ano após decidir viver com a família no Brasil, teve um insight em Paraty, litoral do Rio, e descobriu que podia ajudar os outros ao ler auras. Ele e o marido, economista espanhol, decidiram largar a vida de luxo e se dedicar a ajudar o próximo ao abrir o New Ways, definido por eles como um centro de evolução do ser. Entre seus clientes, há grandes nomes da elite paulistana, como o designer Marcelo Rosenbaum e a estilista Gloria Coelho, além de altos executivos. “Nenhum dinheiro no mundo vale num momento como esse”, diz Bouveret. A seguir, ele fala sobre a luta de sua família:

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Na campanha pela saúde do seu filho, vocês acabaram beneficiando várias pessoas ao conseguir novos milhares de doadores de medula. Você é um homem espiritualizado. Como se sente ao analisar um cenário com tanta dor e, ao mesmo tempo, esperança?

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É muito estranho. Ontem, não dormi. Chorei a noite toda. É um misto de comoção e gratidão por ver tanto amor entre as pessoas e pesar, por ver de perto o que meu filho está passando, por saber que, apesar de tudo isso, o problema dele ainda não foi resolvido. Acho que a missão do Tancrède na vida é essa: ajudar a transformar o mundo, despertar esse amor e união entre as pessoas.

Como descobriram a doença?

Primeiro, vieram os sintomas de uma gripe forte. No fim de março, ele precisou ser internado por conta de uma pneumonia junto com uma anemia. Então, no início do mês, descobriram que não era anemia, mas síndrome mielodisplásica, essa espécie raríssima e agressiva de leucemia. Então, ficou mais três semanas no hospital, fez uma quimioterapia leve e voltou para casa, à espera de uma medula. Como sua resistência está baixa, é melhor que ele fique por aqui, não no hospital. Desde então, estamos nessa corrida.

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Qual o momento mais difícil?

Soubemos que o teste de compatibilidade de medula levava quatro semanas para ficar pronto. Meu filho não pode esperar. Antes de se submeter ao procedimento, ele precisará passar por uma quimioterapia muito forte e o organismo dele, aos poucos, está se debilitando. Até três semanas, o procedimento terá mais probabilidade de dar certo. Então procurei a presidente Dilma Rousseff e fomos encaminhados pela equipe dela a um encontro com o Ministro da Saúde. Agora, essa espera pelo resultado do exame de compatibilidade foi reduzida para sete dias. Com isso, retomei minha rotina como terapeuta na New Ways. No início, quando descobri a doença, fiquei paralisado.

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Nas fotos, apesar da doença, Tancrède parece tranquilo. Como ele lida com a situação?

É estranho dizer isso, mas acho que ele está muito feliz. Ele tem recebido muito amor e sente isso. Ele viu as mensagens dos ídolos dele, o Kaká e o Neymar. O médium João de Deus também mandou mensagem. Queremos muito que ele venha para São Paulo encontrá-lo. Além disso, o pessoal da escola dele, a St Paul’s, fez uma campanha. Dia desses, a Luciana Gimenez esteve aqui para visitá-lo. Ele e o Lucas (filho da apresentadora com Mick Jagger, vocalista dos Rolling Stones) são muito amigos. Mas Tancrède chora com saudade dos colegas e da escola.

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Sim. Apesar da pouca idade, ele faz questão de doar sangue e medula. Ele sofreu para fazer o exame, mas encarou bem. Ao mesmo tempo, está mais manhoso, voltou a fazer xixi na cama, anda muito carente e sensível.

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Os dois meninos foram gerados na Califórnia, filhos de barriga de aluguel. Imagino que tenha sido uma luta para você tê-los…

Sim, especialmente Tancrède. David e eu estamos juntos há oito anos. Quando eu completei 40 anos de idade, decidi ser pai, contra tudo e contra todos. Mas houve um problema na gestação e meu filho nasceu prematuro, com 6 meses e meio. Tinha só 25 centímetros! Tancrède já nasceu lutando pela vida. Escrevi um livro sobre isso, O Homem que Deu à Luz. Iria lançá-lo neste ano, mas diante desse problema todo, os planos foram suspensos.

Acho que ao sair dessa, Tancrède vai nascer do novo, então, diante de tanta mobilização promovida pela família, você poderá dizer que deu à luz pela segunda vez…

Não tinha pensado nessa forma. Acreditamos no milagre. Quando Tancrède passar por essa, vou reescrever o livro. Mas muito mais do que isso. Passarei minha vida retribuindo esse amor imenso das pessoas.

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