Picco

Resenha por Saulo Yassuda

Transparentes, os drinques do Picco encantam a retina e bagunçam o cérebro. Com colorações distintas, e praticamente sem decoração, as misturas, quase todas filtradas e clarificadas, vão chegando e revelando uma sorte de tons. É meio que a escala Pantone da coquetelaria. Amarelo-clarinho, o cannolo (rum na manteiga noisette, limão-siciliano, xarope de pistache, vinho marsala e ricota; R$ 39,00) deixa um toque azedo na língua que rapidamente vai embora quando se lambe o açúcar de confeiteiro polvilhado na taça, tal qual nos tubos dos cannoli sicilianos. Também inspirado em uma sobremesa, o cheesecake (tequila com frutas vermelhas, mascarpone e cordial de morango fermentado com gochujang e mel; R$ 43,00) resplandece em vermelho. O gostinho das frutas mesclado ao lácteo surpreende pelo ardido que fica na garganta ao final. Quase dourado, o old banana (rum, uísque, banana-da-terra e xarope de cerveja stout; R$ 47,00) traz um atraente caramelo à boca. Mas não é mais delicioso que o figo giuseppe (Cynar, jerez oloroso, vinagre balsâmico, suco de uva verde e figo; R$ 43,00), que se revela um líquido robusto e complexo de tudo, com visual de vinho tinto. Cada vez mais, a métrica do Picco parece ser aprimorar o que vai dando certo — campeão do título de melhor bar de drinques em 2023, segue no topo do pódio neste COMER & BEBER 2024. De olho no que se faz na Europa e nos Estados Unidos, tanto em estética quanto em técnicas e conceitos, o bartender e sócio Lula Mascella (que trabalhou de outubro a fevereiro últimos em Portugal) consegue, junto da equipe, traduzir bem o que rola de bom no mundo ao público da Rua Lisboa. A galera aprova e continua a se espalhar pela calçada, pelas mesinhas e no próprio balcão, em ambientes animados por DJs e jazz ao vivo. Enquanto se beberica, é inevitável chamar uma das boas pizzas individuais, como a verde e nero (R$ 80,00), de molho de tomate, muçarela, escarola, pancetta e azeitona.

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