Alcova

Resenha por Saulo Yassuda

Atrás do portãozinho lateral de um imóvel antigo, alguns degraus levam ao Alcova. “Se pode, simplesmente, descer a escada e entrar?”, questionariam os visitantes de primeira viagem. Sim, não são aceitas reservas ali. “Mas o que haverá lá embaixo?”, prossegueriam. Trata-se do território etílico-gastronômico do chef Luis Felipe Lago e do bartender Takeshi Ohashy. No quase porão à meia-luz, a dupla dispôs apenas três mesas e um balcão para exibir seu trabalho. Na seara líquida, o visitante encontra vinhos naturais, jerez e os coquetéis de Takeshi, que passou por bancadas como a do Mi.Ado. Ele manda drinques precisos no dulçor e na acidez, como o sp sour (R$ 35,00), abrasileirada interpretação do ny sour com mescla de cachaça branca e a versão em catuaba, limão-taiti, açúcar e um dedo de “vinho” de jabuticaba. Outra boa escolha, o umê fashioned (bourbon, licores de uva tannat e umeshu e bitter; R$ 55,00) é mais intenso, mas com menos punch alcoólico que o old fashioned clássico. Luis Felipe, ex-wine bar Beverino, muda o menu a cada dia. Suas porções em cumbucas ou pratos têm influências culinárias distintas. O tofu, numa variação com textura de flã, veio em caldo de legumes com brócolis (R$ 25,00). A abóbora-cabotiá frita surgiu coberta de vatapá vegano de castanha-de-caju, amendoim e azeite de dendê, de sabor concentrado e contrabalanceado por manchas do leite de castanha e tomatinhos (R$ 35,00). Picante e um quê adocicado, o feijão-carioca com tomate trouxe um ovo cozido quase bem passado no molho (R$ 50,00), junto de arroz-cateto, que infelizmente estava malcozido na visita. Tanto os preparos quanto o serviço são de responsabilidade dos integrantes da dupla proprietária, que, sem auxílio extra, apresenta um ritmo particular de trabalho. Não se trata de um programa para ir com pressa, ou com horário justo.

Informações checadas em outubro de 2024.