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Metrô retomará programa de visitas guiadas às obras de arte em estações

Verdadeiro museu subterrâneo reúne 92 peças de nomes como Tomie Ohtake, Odiléa Toscano e Emanoel Araújo em corredores, plataformas, jardins e túneis

Por Clayton Freitas
Atualizado em 2 jun 2023, 14h11 - Publicado em 2 jun 2023, 06h00

Apesar de usar a estação Brás do metrô quase todos os dias, a corretora de imóveis Bruna Thamires Costa, de 27 anos, nunca tinha parado para ver com detalhes uma instalação artística que fica ao lado dos bloqueios. “Aqui na verdade virou um ponto de referência, eu indico para amigos quando preciso esperar um pouco, mas na correria nunca parei para contemplar. É linda, impressionante”, afirma. As peças em aço inoxidável da instalação foram produzidas por Amélia Toledo e o conjunto denominado Caleidoscópio recentemente passou por restauro. Trata-se de uma das 92 obras contemporâneas dispostas em 36 estações do metrô e que são assinadas por relevantes nomes, entre eles José Roberto Aguilar, José Guerra, Gilberto Salvador, Josely Carvalho, Renina Katz, Tomie Ohtake, Odiléa Toscano, Wesley Duke Lee, Emanoel Araújo, Alex Flemming, Maria Bonomi e Claudio Tozzi. “O que se propõe é provocar o olhar e estimular um momento de respiro nesse ir e vir constante. Como toda a relação com a obra de arte faz pensar um pouco sobre nós mesmos, o contato com elas pode provocar estranhamento e há quem goste ou não”, diz Renan Andrade, coordenador de Ação Cultural, Social e Acervo do Metrô de São Paulo.

Caleidoscópio: Bruna confere seu reflexo em obra de Amélia Toledo na estação Brás
Caleidoscópio: Bruna confere seu reflexo em obra de Amélia Toledo na estação Brás (Flávio Florido/Veja SP)

Para tentar fisgar os olhares e estimular que as pessoas conheçam esse verdadeiro museu subterrâneo, o Metrô deve retomar a partir de julho os programas de visitas guiadas. Em breve também deverão ser instaladas novas obras, inclusive dando espaço a manifestações que não são privilegiadas no acervo, como arte digital e grafite. Esse objetivo ainda esbarra em custo, e uma das alternativas poderá ser contar com patronos. Parte das obras do acervo do Metrô também está passando por restauro. A lista inclui um conjunto de quatro painéis da artista plástica Tomie Ohtake instalado desde 1991 na estação Consolação da Linha 2-Verde e denominado Quatro Estações. Além de detalhista, o processo de recuperação da obra enfrenta outro desafio, já que só pode ser feito num pequeno intervalo de tempo na madrugada, enquanto as composições deixam de rodar pelos trilhos. Isso fará com que o trabalho demore um mês para ficar pronto. Os bastidores dos restauros viraram tema de uma websérie (leia mais abaixo).

Garatuja: escultura de Marcello Nitsche na Sé foi uma das primeiras obras a serem incorporadas ao acervo
Garatuja: escultura de Marcello Nitsche na Sé foi uma das primeiras obras a serem incorporadas ao acervo (Flavio Florido/Veja SP)

A instalação de obras de arte nas estações de metrô teve início há 45 anos, logo após a proposta da prefeitura de São Paulo de reurbanizar a Praça da Sé. Além da praça, obras de arte também foram instaladas na estação entre os anos de 1978 e 1979, as primeiras da vasta coleção. A lista inclui Garatuja, icônica escultura de Marcello Nitsche instalada no jardim da estação (foto acima), um painel de Renina Katz (no acesso sul da estação), um mural de Claudio Tozzi no acesso norte e uma escultura de Alfredo Ceschiatti no mezanino central. Outro painel, de Mário Gruber, denominado Como Sempre Esteve, o Amanhã Está em Nossas Mãos e localizado na plataforma central, também deveria ser entregue em 1979, porém, só pode ser concluído em 1987, após o fim da ditadura militar. O motivo é que o artista recebeu ameaças de morte pela temática que abordava no mural, apresentando integrantes de povos originários e pessoas oriundas da África como prisioneiros e em situação de trabalho escravo, dominados por homens brancos empunhando armas. A última obra de arte instalada em uma estação de metrô foi a escultura Descanso da Sala, de José Spaniol, em 2014, na estação Alto do Ipiranga (Linha 2-Verde). O Metrô afirma não ser possível quantificar o valor de seu acervo, até porque nenhuma obra será alvo de comercialização. “Certamente seria na casa de dezenas de milhões de reais”, afirma Renan Andrade. Para conferir algumas das obras, nem é preciso pagar o valor da tarifa de 4,40 reais e ter acesso ao sistema, já que elas estão em áreas de circulação fora dos bloqueios das catracas, algumas em locais externos às estações, como o caso das esculturas Voo de Xangô, de Gilberto Salvador, na estação Jardim São Paulo, da Linha 1-Azul, Homenagem a Galileu Galilei II, de Cleber Machado, na estação Vila Madalena, da Linha 2-Verde, e Sem Título, de Caíto, na estação Sumaré, também da Linha 2. Outro caso curioso é de um pequeno e charmoso espaço do Museu de Arte Sacra que fica dentro da estação Tiradentes, da Linha 1-Azul, que exibe exposições temporárias.

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Enquanto as visitas guiadas não voltam, é possível conferir quais são as obras e onde elas estão instaladas no site do Metrô, pelo endereço metro.sp.gov.br. Também é possível consultar uma caprichada edição que traz fotos, detalhes técnicos, um pouco do histórico de cada uma das obras e ainda uma pequena biografia de cada um dos artistas.

Quatro Estações: painéis de Tomie Ohtake estão na parede de túnel da estação Consolação
Quatro Estações: painéis de Tomie Ohtake estão na parede de túnel da estação Consolação (Márcia Alves/Metrô SP/Divulgação)

Restauro na madrugada

O restauro e a conservação das obras sempre foram feitos pelo Metrô, porém, foram turbinados após um projeto capitaneado pela InfoArte, uma empresa especializada em produção de projetos culturais que busca apoio de empresas. Bastidores desse meticuloso trabalho feito desde 2020 podem ser conferidos em uma websérie da Frontera Filmes disponível no YouTube (infoarte_br). Segundo Eduardo Lara Campos, sócio-diretor da InfoArte, já foram captados e investidos 1,2 milhão de reais para recuperar 33 obras. Duas delas, uma de Tomie Ohtake (foto acima) e outra de Odiléa Toscano (foto abaixo), ainda estão em recuperação e o trabalho deve se estender por pelo menos um mês. Elas foram deixadas por último por estarem dentro dos túneis. Com isso, o trabalho só pode ser feito na madrugada e com auxílio de técnicos do Metrô. Outras oito obras deverão ser recuperadas até 2024, em investimento que soma 1 milhão de reais.

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Equipe de restauração em obra Sem Título de Odiléa Toscano, na estação São Bento
Equipe de restauração em obra Sem Título de Odiléa Toscano, na estação São Bento (Luiza Marques da Costa/Frontera Filmes/Divulgação)

Publicado em VEJA São Paulo de 7 de junho de 2023, edição nº 2844

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