Seis boas sugestões de leitura para a quarentena
A lista vai de literatura clássica a títulos que acabaram de chegar às livrarias e são muito recomendados para o momento
A competição do século XXI
Poucos temas são tão fascinantes e obrigatórios para estes tempos de reflexão forçada quanto a ascensão da inteligência artificial. o livro Inteligência Artificial (Globo Livros, 292 páginas, R$ 29,90 o e-book; R$ 49,90), do taiwanês radicado em Pequim Kai-Fu lee, ex-presidente do Google na China, ele próprio um cientista pioneiro nesse setor, demonstra a urgência de mergulharmos no assunto. o autor explica como os mundos jurídico, hospitalar, bancário, de segurança, da medicina, da mídia, da defesa, entre tantos outros, vão ser transformados de cima para baixo pelos sistemas que são capazes de ler e avaliar milhões de dados e processá-los.
Lee narra como em alguns supermercados chineses o consumidor já não paga com cartão nem com celular: o reconhecimento facial se encarrega de debitar as compras, calculadas por sensores, à conta do cliente cadastrado. O ato é chamado de “sorria para pagar”. os pormenores dos aplicativos da China que misturam as funções de Tinder, instagram, Facebook, WhatsApp com consultas médicas remotas são um poderoso lembrete que o país que copiava os EUA em tanta coisa aprendeu a inovar com saltos dignos de Bruce Lee.
Muito se fala nas hordas de desempregados que surgirão nas próximas décadas por causa dessa revolução, algo que é detalhado pelo cientista chinês (felizmente, ele também aponta profissões e expertises que estarão em alta nos próximos anos, para dar algum otimismo).
Lee explica que a inteligência artificial, longe de ficção dos Jetsons, é uma ferramenta que determinará em breve quem é competitivo ou não nas mais diferentes indústrias. Formado em Columbia e na Carnegie Mellon, ele tem a linguagem direta para explanar assuntos complexos de forma simples, valorizada pelas universidades americanas. Depois de ser executivo na Apple, na Microsoft e no Google, criou um fundo para startups chinesas na área — virou celebridade no país, onde o assunto da tecnologia mobiliza mais que qualquer BBB.
Entretanto, em alguns trechos, o livro peca por transpirar o nacionalismo chinês do autor, que menospreza algumas debilidades do modelo não democrático da potência asiática e aposta demais em sua fortaleza para competir com um “decadente” sistema americano. Como ainda é um ângulo raro por aqui, faz pensar.
Para Lee, a inteligência artificial favorece monopólios (já onipresentes no vale do silício, das redes sociais aos mecanismos de busca), por sua dependência de dados. “Produtos melhores atraem mais consumidores, que geram e entregam mais dados, que aperfeiçoam os produtos, o que termina atraindo mais usuários”, descreve.
O recado mais perturbador do livro é que, dadas as condições atuais, o vale do silício americano e a China terão domínio exclusivo no setor. o resto do mundo, sem o know-how, nem a escala, será tratado como “vassalo” desses dois impérios. Essa revolução deixará o planeta ainda mais desigual, exacerbando o contraste com as poucas regiões que vão conseguir gerar os empregos mais bem remunerados do futuro. Raul Juste Lores
Como lidar com as emoções
Psiquiatra, professor-colaborador da USP, médico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, doutor em ciências e bacharel em filosofia, Daniel Martins de Barros tem uma boa notícia em tempos de emoções conturbadas. Não é preciso buscar formas mágicas para eliminar os sentimentos ruins, mas sim aprender a ler o que raiva, medo, nojo ou tristeza, por exemplo, estão contando.
Em O Lado Bom do Lado Ruim (Editora Sextante, 160 páginas, R$ 24,99 o e-book; R$ 39,90), ele foge do linguajar técnico hermético e apresenta pesquisas científicas e também experiências pessoais para ensinar o que é possível aprender com cada sensação. “As emoções são sinais. Funcionam como os alarmes da UTI. Não adianta desligar o alarme sem identificar o que está causando o problema”, afirmou Daniel em entrevista ao podcast Jornada da Calma. Longe de romantizar o sofrimento, Barros dedica a publicação a todos em busca de alívio. “Meu trabalho é ajudar as pessoas a lidar melhor com o lado ruim de suas histórias.” Helena Galante
DOS TABLADOS PARA A POLTRONA
Confira as indicações de quatro atores que estariam nos palcos da cidade nesta semana
Cleto Baccic, o Willy Wonka de Charlie e a Fantástica Fábrica de Chocolate: “Neste momento, eu sugiro o Ensaio Sobre a Cegueira, de José Saramago (Companhia das Letras, 288 páginas, R$ 37,90 o e-book; R$ 57,90). Além de ser uma leitura deliciosa, nos faz refletir sobre a fragilidade do ser humano. Mais atual do que isso, impossível.”
Flávia Garrafa, do monólogo Fale Mais sobre Isso: “Recomendo o último livro lançado em vida pela Fernanda Young, o Pós-F: Para Além do Masculino e Feminino (Editora Leya, 128 páginas, R$ 24,99 no e-book; R$ 34,90). Li depois de sua morte e parecia que estava tendo a oportunidade de conversar novamente com ela. Ouvia sua voz, seu jeito lúcido-caótico e extremamente inteligente de falar sobre a vida! Vale a leitura, pois são reflexões atuais, valiosas e vibrantes.”
Irene Ravache, do monólogo A Alma Despejada: “Eis um bom momento para conhecer a vida de um gênio lendo Leonardo da Vinci (Editora Intrínseca, 640 páginas, R$ 35,62 no e-book; R$ 52,00). O autor é o jornalista americano Walter Isaacson. Em sua obra, ele detalha os múltiplos talentos de Da Vinci nas mais variadas áreas da arte e da ciência. E a palavra gênio, hoje tão vulgarizada, encontra seu personagem real. Minha próxima leitura, do mesmo Isaacson, será a biografia de Benjamin Franklin.”
Velson D’Souza, intérprete do papel-título no musical Silvio Santos Vem Aí “Trabalhei com Aziz Ansari em sua série autoral Master of None, da Netflix americana. Dele, recomendo o livro Romance Moderno (Editora Paralela; 328 páginas; R$ 29,90 no e-book; R$ 39,90), sobre a evolução do romance na sociedade. Após fazer uma pesquisa científica com o sociólogo Eric Klinenberg, Aziz escreveu um tour do nosso universo romântico usando seu humor irreverente.”