Três perguntas para Maitê Proença
A atriz e dramaturga paulistana de 55 anos aborda a velhice na comédia dramática<em> À Beira do Abismo Me Cresceram Asas</em>
Em seu texto anterior, As Meninas, o tema foi a infância. Por que tratar da velhice agora? São as duas pontas da vida, e ambas têm a sinceridade como algo em comum. Vivemos uma época em que se empregam muitas palavras para transmitir poucas verdades.Quis falar de pessoas que não têm tempo a perder. Faço ginástica com senhoras de 85 anos e elas falam coisas terríveis e cheias de sabedoria. “Maitê, aquele vestido é lindo, só que não caiu bem em você. Não use mais”, ouvi outro dia. E ela tinha razão. Essas mulheres não devem ser vistas como coitadinhas. Elas tocam sua vida com personalidade e não precisam seduzir o tempo todo. Quase nunca as enxergamos dessa forma.
Existe pudor de abrir mão da beleza e interpretar uma octogenária? Eu não teria, mas não é o caso. Uma velha não é só o que se vê por fora. Em cena, não usamos maquiagem, apenas uma peruca. Abrimos mão de qualquer realismo. Também não faço voz de velhinha. Se fosse para ser assim, chamaria a Laura Cardoso, que atuaria muito melhor do que eu.
A dramaturgia e a literatura surgiram como um plano B para a carreira de atriz? Poucos projetos que recebo me provocam. Então, a saída é criá-los. Não me interessa ser uma atriz medíocre… Já fui e não voltarei a ser. Como teatro, também posso me dar muito mal, mas a responsabilidade será minha. Não vou culpar a Rede Globo. A dramaturgia me melhorou como atriz. Quando comecei a gravar Gabriela, eu sugeri à direção valorizar a minha personagem, Dona Sinhazinha, mais pelo olhar e não apenas pelos diálogos. Construímos um trabalho juntos.