Fui à abertura da última exposição do fotógrafo paulistano Bob Wolfenson. Está na Galeria Milan, no coração da Vila Madalena, na Rua Fradique Coutinho, quase esquina com a Wizard. Deu para ir a pé de casa, apesar do frio, à noite. Bob é um dos grandes personagens da nossa cidade. Fotografa de tudo. Já publicou até na NATIONAL GEOGRAPHIC, mas fez fama com retratos de mulheres com pouca ou nenhuma roupa elaborados para a revista PLAYBOY. Sua atuação profissional lhe vale a admiração da população e uma certa inveja (branca) dos homens.
Tenho a sorte de contar Bob entre os meus amigos. Vejo-o menos do que gostaria, mas acompanho sua obra com atenção. Conheço seus livros, já vi apresentações dos seus grandes sucessos. Mas, ao entrar nesta exposição, que fica em cartaz até o dia 28, fui surpreendido. Não sei o que esperava, mas não era aquilo.
São imagens, todas elas, de salas de recepção, de jogos, quartos, restaurantes e áreas comuns de hotéis, a grande maioria da região das águas de Minas Gerais. Trata-se de lugares simples, singelos. Surpreendente é sua beleza, construída de nacos de nostalgia do Bob. Quem conhece nosso país reconhece imediatamente a brasilidade das fotos. Num primeiro momento concluí que seria essa a chave do seu carisma. Tendo a achar o Brasil bonito.
Mas aí descubro a segunda surpresa da exposição. No meu caso, foram as revistas na recepção de um dos hotéis retratados que deram a pista. Tento identificar os títulos. Sem nenhum sucesso. Sou revisteiro. Que publicações são aquelas, me pergunto. Procuro mais informações na legenda impressa na parede. Vejo, um pouco envergonhado, que estamos longe do Brasil, em Cracóvia, na Polônia. Outras imagens são de Havana, em Cuba, do Colorado, nos Estados Unidos. Fascina sua semelhança com as demais fotos — de cenários tão brasileiros. Isso surpreende e faz pensar sobre como nós construímos nossas nacionalidades. Muitas dessas imagens estão publicadas no livro Belvedere, da editora Cosac Naify.
Essa não foi minha única exposição de fotografia da semana, nem a mais grandiosa. Poucos dias depois, peguei a Linha Vermelha do metrô até o Sesc Belenzinho para a abertura de Gênesis, de Sebastião Salgado. Ela vai ficar em cartaz na cidade até o comecinho de dezembro. Não deixe de ir. Salgado é brasileiro, mineiro, e talvez seja o fotógrafo mais festejado do mundo. As imagens retratam os quatro (ou cinco ou seis) cantos do planeta em preto e branco. São gloriosas, épicas. Mostram, nas palavras do autor, “a boa metade” da Terra que ainda está preservada. São flagrantes de montanhas, paisagens, animais e de gente “primitiva” de tirar o fôlego. Estão no livro de mesmo nome editado pela Taschen, mas a exposição é ainda melhor. Algumas das fotos são apresentadas no Sesc em formato gigante. Uma delas acabou sendo pendurada em cima do piso de vidro que cobre a piscina. Tem gente nadando embaixo. O impacto é bacana. Só numa metrópole agitada como a nossa você verá coisa semelhante.