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Paulo Goulart é enterrado no Cemitério da Consolação

Ator morreu na quinta (13) após lutar contra um câncer no mediastino diagnosticado havia dois anos

Por Dirceu Alves Jr.
Atualizado em 5 dez 2016, 15h09 - Publicado em 13 mar 2014, 15h08

Sob aplausos e ao som da música “Eu sei que vou te amar”, de Tom Jobim e Vinícius de Morais, o corpo de Paulo Goulart foi enterrado no Cemitério da Consolação no início da tarde desta sexta-feira (14). A família do ator, que morreu ontem aos 81 anos, saiu na sacada do Teatro Municipal, onde ele foi velado nesta sexta-feira (14), para retribuir o carinho dos fãs que ainda aguardavam em frente para se despedir. Muito emocionada, a atriz Nicette Bruno agradeceu ao lado dos filhos e também atores Beth Goulart e Paulo Goulart Filho.

“É como se tivesse recebido um abraço de cada um. Cada momento de oração é um sentimento de condolência que recebemos com o coração aberto. Ele agora é a essência da luz”, disse Beth Goulart. “A separação é momentânea. Basta pensar nele que ele vai estar presente”, acrescentou Paulo Goulart Filho. Segundo a segurança do teatro, cerca de 5 000 pessoas já passaram pelo funeral, que começou às 8h30 da manhã.

Além dos fãs do ator, passaram pelo velório o governador Geraldo Alckmin e a primeira-dama Lu Alckmin, os autores de novelas Walter Negrão e Silvio de Abreu, o apresentador Leão Lobo e os atores Antônio Petrin, Marcos Caruso e Othon Bastos. O enterro está marcado para as 14h no Cemitério da Consolação.

Paulo Goulart morreu por volta das 13h da quinta-feira (13) após uma longa luta contra o câncer. O ator estava internado havia um mês e meio no Hospital São José, em São Paulo. Casado com a atriz Nicette Bruno, ele deixa também os filhos Bárbara Bruno, Beth Goulart e Paulo Goulart Filho, além de sete netos.

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Em janeiro passado, Paulo Goulart completou 81 anos com muita esperança para o futuro. No mês seguinte, celebraria seis décadas de vida em comum ao lado de Nicette Bruno, mãe de seus três filhos. Ele vinha melhorando gradativamente do câncer no mediastino diagnosticado havia dois anos e planejava  escrever um livro para narrar a sua experiência e luta contra a doença. 

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Presença constante nos palcos, na televisão e no cinema por seis décadas, Paulo Afonso Miessa participou de 56 peças e 44 novelas. Nascido em Ribeirão Preto (SP), ele começou a trabalhar com comunicação ainda na adolescência em uma emissora de rádio fundada por seu pai na cidade de Olímpia.

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Em 1952, a sua vida começou a mudar para sempre. Recém-chegada a São Paulo, a atriz niteroiense Nicette Bruno, com 18 anos, precisava de um parceiro para a montagem de Senhorita Minha Mãe. Publicou o seguinte quadro na imprensa: “Procura-se um galã para Nicette Bruno”. Se muitos candidatos leram, ela até hoje não sabe, mas um amigo, o diretor Ruggero Jacobbi, indicou um rapaz, locutor de rádio e recém-contratado pela TV Paulista, bem boa-pinta. 

Em entrevista a VEJA SÃO PAULO em 2008, Paulo lembrou com detalhes da cena, assim que entrou no Teatro de Alumínio, na Praça da Bandeira. “Achei aquela mulher charmosa, mas um pouco estranha. Usava uma boina azul e fumava que nem atriz de Hollywood, soltando um pouco da fumaça e depois tragando”, descreve.

Durante a mesma entrevista, Nicette jurou que no primeiro encontro só teve interesse profissional pelo futuro marido. “Ela era caxias, não achava certo o envolvimento entre colegas”, afirmou Paulo. O romance só deu a largada bem depois da estreia, quando a moça desmanchou a pose de diva e declamou o poema Único Amor, de Olegário Mariano, encarando os olhos do pretendente numa festa.

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Em 26 de fevereiro de 1954, uma sexta-feira véspera de Carnaval, os dois fizeram do altar da Igreja Santa Cecília, na capital, o palco de estreia de seu principal espetáculo. A lua de mel, em um sítio em Mairiporã, durou apenas os quatro dias de folia. Havia pilhas de textos para decorar, porque na quarta-feira os dois já voltariam para a TV Paulista.

Os trabalhos se seguiram, o dinheiro pingava de leve e logo nasceram Bárbara, hoje com 57 anos, e Beth, de 53 anos. Em 1965, nasceu o terceiro filho do casal, Paulo Goulart Filho, quando foram tentar a sorte em Curitiba. Nessa época, Paulo Goulart deixou o emprego em uma agência de publicidade e voltou com todos para São Paulo. 

A televisão ainda engatinhava. O cinema nunca foi muito presente na carreira deles. Correr atrás de dinheiro então significava ver as moedas tilintando nas bilheterias dos teatros Brasil afora e se ausentar, pelo menos fisicamente, dos filhos.

Sob os cuidados da avó, a atriz Eleonor Bruno, Bárbara e Beth com frequência encontravam os pais apenas uma vez por semana. “Eu os entendia plenamente. Nunca deixei de sentir o abraço, de aproveitar as horas em que rolávamos no chão e sei que a Bárbara concorda comigo”, afirmou Beth em 2008. Paulinho confessa ter sofrido mais na adolescência, no início dos anos 80, quando Paulo e Nicette passavam a maior parte do tempo no Rio por causa das gravações na Rede Globo. “Queria meu pai por perto e ele nunca estava aqui, nem para jogar um futebol comigo.”

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Esse afastamento necessário da família começou em 1970, quando o talento e a pinta de galão do ator chamou a atenção da Rede Globo. Ele emplacou as novelas Verão Vermelho, A Próxima Atração e Uma Rosa com Amor. De volta a São Paulo, a família foi reunida em um seriado de muito sucesso na TV Tupi batizado Papai Coração, em 1976, onde Paulo, Nicette, Eleonor, Bárbara, Beth e Paulinho dividiam a cena. Nessa época, veio um de seus grandes momentos no teatro.

Com a comédia Orquestra de Senhoritas, escrita por Jean Anouilh e dirigida por Luís Sérgio Person, ele interpretava uma mulher – sim, uma mulher, a Madame Hortense – e faturou os cobiçados prêmios Molière e o APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor ator de 1975. 

De volta à Rede Globo, Paulo foi par romântico de Eva Wilma em Plumas e Paetês (1980) e deixou a personagem de Glória Menezes pela jovem Maitê Proença em Jogo da Vida (1981/1982). 

O sucesso nunca foi um impedimento para o casamento. Os dois nunca formaram um par nas novelas na Globo, mas mantiveram-se firmas nas parcerias teatrais, seja no palco ou como produtores. Logo, os netos apareceram – são sete – e o apartamento onde o casal viveu por 36 anos na Rua Itambé, em Higienópolis, ficava muito mais feliz quando cheio.

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Nesas horas, Paulo e Nicette sempre pensavam em uma pergunta para qual nunca tiveram resposta: qual foi o segredo do casamento deles? Em 2008, Paulo Goulart arriscou um palpite: “invento surpresas para a rotina não nos sufocar o tempo inteiro. Muitas vezes, chego com um vinho debaixo do braço e vou para a cozinha. Em outras, eu mudo os quadros de parede só para surpreendê-la”.

Talvez os opostos de certa forma também se atraíram. Paulo sempre gostou do sossego da casa e de dormir cedo. Notívaga, Nicette precisava se esforçar ao extremo para convencer o marido a jantar fora. Por isso, o mundo ideal era quando, além da casa, os dois se encontravam no teatro. 

Em 2006 e 2009, Paulo e Nicette dividiram a cena naquele que seria seu último espetáculo em dupla, O Homem Inesperado. Eles interpretavam respectivamente um escritor egocêntrico e uma dona de casa que o tentava seduzir – intelectualmente – durante uma viagem de trem.

Nesses últimos anos, a televisão se fez muito presente na carreira de Paulo. Ele praticamente emendou as novelas Cama de Gato (2009), Ti-Ti-Ti (2010) e Morde e Assopra (2011). Sua última aparição foi em um episódio do seriado Louco por Elas (20120), ao lado de Eduardo Moscovis e Glória Menezes.

Mesmo doente, ele fez um pedido para sua amada Nicette. Ela não poderia em hipótese alguma deixar de trabalhar. E a mulher seguiu à risca. Mesmo com o coração na mão, Nicette Bruno integrou nos últimos anos os elencos de Salve Jorge (2012) e de Joia Rara, ainda no ar.

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