Autor do clássico “Ronda”, Paulo Vanzolini morre aos 89 anos
Compositor e zoólogo estava internado desde a última quinta (25), data de seu aniversário, para tratar uma pneumonia. Seu enterro será hoje no Cemitério da Consolação
Morreu na noite deste domingo o compositor e zoólogo Paulo Vanzolini, aos 89 anos. Ele estava internado desde o dia 25 de abril, data de seu aniversário, no Hospital Albert Einstein, no Morumbi. Foi diagnosticado com septicemia, infecção generalizada causada por bactérias que infectam o sangue. Seu estado se agravou depois de uma pneumonia e o sambista não resistiu. O corpo do músico foi velado no mesmo hospital e o enterro está marcado para as 16h desta segunda, no Cemitério da Consolação, na capital paulista –ambas as cerimônias são restritas a familiares e amigos. Ele deixa a mulher, a cantora Ana Bernardo, e cinco filhos do primeiro casamento, com Ilze.
Um dos grandes representantes do samba paulistano, Vanzolini compôs cerca de 60 canções. Entre as mais conhecidas do público estão Ronda, Volta por Cima e Praça Clovis, que se tornaram célebres nas vozes de Inezita Barroso, Beth Carvalho e Maria Bethania, entre outros intérpretes.
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O refrão de Volta por Cima – “levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima” – se transformou em lema de superação. Ela foi composta na época em que Vanzolini servia o exército e fazia rondas na cavalaria pela zona de prostituição: via diversas mulheres procurarem homens no bar. “Mas não era para uma reconciliação, era na verdade para encher de bala”, costumava dizer, aos risos. Talvez pelo fato de ter se tornado uma música tão popular, uma das mais pedidas, inclusive, em karaokês, Vanzolini afirmava não gostar mais de Ronda.
O artista, nascido em São Paulo em 1924, passou dois anos morando no Rio de Janeiro durante a infância, quando o pai, o engenheiro Alberto Vanzolini, foi convocado para trabalhar na construção do Instituto de Educação, no bairro da Tijuca. A família decidiu voltar à capital paulista quando a Revolução de 1930 estourou.
Vanzolini cursou doutorado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e era professor emérito da USP – foi diretor do Museu de Zoologia por 30 anos, organizando uma das maiores coleções de répteis do mundo. “Algumas das minhas melhores músicas eu fiz quando estava nos Estados Unidos, com saudades de São Paulo”, disse em entrevista ao jornal O Globo, em 2009. Em 1948, casou-se com Ilze, então secretária da Reitoria da USP e com quem teria cinco filhos.
Por outro lado, o zoólogo não teve formação musical. Suas composições eram cantaroladas e amigos músicos as transformavam em partituras. “Meu professor foi o rádio”, costumava dizer. A cantora Ana Bernardo (filha de Arthur Bernardo, dos Demônios da Garoa, e sua última mulher) e o violonista e arranjador Ítalo Peron sentiram dificuldade em produzir a antologia do artista pelo fato de a grande maioria de suas composições terem sido guardadas apenas na memória.
Para se manter àquela época em São Paulo (morava no Edifício Martinelli), Vanzolini chegou a trabalhar temporariamente no programa Consultório Sentimental, apresentado pela atriz Cacilda Becker na Rádio América. Ele dava dicas sobre como emagrecer.
Depois que estourou com Ronda, no fim dos anos 50, foi chamado para trabalhar na produção de programas musicais da cantora Aracy de Almeida, na TV Record. Foi lá que conheceu e se tornou amigo Adoniran Barbosa.
Em 1962, o então popular cantor Noite Ilustrada gravou Volta por Cima. Suas músicas que até então eram conhecidas apenas pelos frequentadores do Bar Jogral, o seu preferido, localizado na Rua Augusta, passaram a alcançar um público maior. Em 1967, o proprietário do bar, Luís Carlos Paraná, juntamente com Marcus Pereira, decidiu produzir o disco Paulo Vanzolini: Onze Sambas e uma capoeira. Lá foram lançadas pela primeira vez Praça Clovis e Capoeira do Arnaldo. Adoniran Barbosa diz que compôs Praça da Sé em contrapartida a Praça Clovis, de Vanzolini.
Um de seus poucos parceiros nas composições, Toquinho (Boca da Noite, No Fim Não se Perde Nada e Noite Longa), gravou algumas delas em 1969. Somente em 1981 foi que Vanzolini ganhou seu primeiro disco individual, intitulado Paulo Vanzolini por Ele Mesmo. Em 2003, quatro CDs compilando quase todas as canções do artista foram lançados pela Biscoito Fino, sob o apropriado título Acerto de Contas.
Desde 1997 sem compor, Vanzolini foi relembrado no documentário Um Homem de Moral, de Ricardo Dias, lançado em 2009. “A vida é feita de partes. Agora estou pensando em criar meu neto”, disse em entrevista ao jornal O Globo, no ano do lançamento do filme.