Época de ouro da luta livre é homenageada em documentário
<em>Monstros do Ringue </em>tem estreia prevista para a 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Um lutador sobe nas cordas do ringue, levanta os braços e conclama o público a gritar seu nome. Em seguida, sai correndo e desfere um golpe completamente maluco, saltando com as pernas no pescoço do adversário, em uma espécie de gravata com os membros inferiores. Nem bem esporte nem bem teatro, a luta livre, ou telecatch, foi sucesso de público no Brasil dos anos 60. Inspirado na modalidade olímpica homônima, trata-se de um espetáculo quase circense, com bizarros movimentos acrobáticos, coreografias pueris e combates armados, sempre entre um mocinho e um vilão.
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Esse universo curioso é o tema do documentário Monstros do Ringue, dirigido por Marc Dourdin e produzido por Sérgio Kieling. Seu lançamento está programado para ocorrer durante a 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, entre os dias 22 de outubro e 4 de novembro.
Por meio de fotos e vídeos antigos, somados a depoimentos atuais, o filme relembra a trajetória do show por aqui. A década de 60 representou o auge do negócio. Em 1969, a censura proibiu a exibição do telecatch na televisão antes das 23 horas, sob o argumento de que seria violento. A mudança de horário levou a audiência à lona. Nos anos 80, houve um revival do espetáculo, que durou pouco tempo. “Encontramos muitos personagens e casos interessantes”, conta Dourdin. “Foi difícil chegar a 87 minutos do corte final.”
A produção reconstitui duelos lendários. Um deles reuniu Aquiles, o Matador, e o Fenômeno Michel Serdan. Anunciado em 1987 como a Batalha do Século, prometia parar São Paulo. Mais de 20 000 pessoas compraram ingressos para o evento. Ao longo de três meses, os rivais trocaram provocações diante das câmeras da TV Record, emissora que adquiriu os direitos de transmissão.
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Inicialmente marcada para o Ginásio do Ibirapuera, a luta acabou transferida para o Ginásio Poliesportivo de Itapecerica da Serra, onde o ringue foi cercado por uma jaula. A estratégia de marketing previa que apenas o campeão sairia vivo de lá. Em 13 de setembro, após vinte minutos de pancadaria encenada, Serdan levou a melhor. “No dia seguinte, recebi um telegrama do Boni parabenizando-me pela vitória e comentando que o combate havia superado a audiência da novela das 8”, lembra o lutador, referindo-se ao ex-diretor de operações da Rede Globo.
Surgido no exterior, o telecatch estreou na TV Excelsior em 1959. Nos anos seguintes, atrações idênticas ou variantes dele seriam transmitidas semanalmente no horário nobre de várias emissoras: Tupi, Record, Bandeirantes, Globo e Gazeta. No auge da popularidade, personagens como Mister Argentina, Tony Videla, Fantomas, Verdugo, Múmia e Tigre Paraguaio recebiam atenção similiar à de jogadores de futebol e astros do cinema.
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Nenhum, no entanto, brilhou mais que o galã louro Ted Boy Marino. De sunga e cabelos penteados, o íta loargentino foi o principal ícone do show, chegando a estrelar comerciais de TV e o filme Dois na Lona, com Renato Aragão. Ele morreu em 2012, aos 72 anos, de parada cardíaca. É uma das estrelas homenageadas em Monstros do Ringue.