Memorial da América Latina renova atrações e bate recorde de público
Pouco mais de dois anos depois do incêndio que destruiu seu auditório, o espaço da Barra Funda aposta em eventos populares, como a exposição <em>A Turma do Chaves</em>
Desde o início, o que era para ser um centro cultural de proporções generosas — são 84 000 metros quadrados de área — ganhou a inglória pecha de elefante branco. Não por acaso. Projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, junto com o antropólogo Darcy Ribeiro, o Memorial da América Latina foi encomendado pelo então governador Orestes Quércia e tinha a utópica missão de estreitar as relações culturais e políticas do Brasil com os vizinhos de continente.
Custou na época 48 milhões de dólares, dez vezes mais do que o estimado inicialmente. Foi inaugurado em 1989 e logo assumiu a função de palco de solenidades e recepções oficiais do governo estadual, com um ou outro evento mais expressivo.
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Essa história de pouco público para muita pompa e circunstância começa a ganhar novos contornos. No fim da década de 90, pouco mais de 100 000 pessoas visitavam o endereço por ano. A frequência passou a aumentar nos últimos tempos. Em 2016, somente até maio, o número bateu a marca de 1,2 milhão de frequentadores, mais que o dobro do total registrado em 2015. “A cidade está finalmente descobrindo o local”, comemora João Batista de Andrade, cineasta e escritor mineiro, que preside a instituição desde o fim de 2012. “A fórmula é ser culto e popular ao mesmo tempo.”
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Um exemplo dessa filosofia é a exposição A Turma do Chaves, que recria a vila do seriado mexicano, em cartaz até este domingo (19). Ela sozinha arrastou para lá mais de 200 000 pessoas. O sucesso ajudou a custear, entre março e maio, uma retrospectiva dedicada a Wifredo Lam, artista cubano que conviveu com Pablo Picasso e Joan Miró. Também colaborou para incrementar o público da mostra de fotografias intitulada A União Soviética Através da Câmera, estimado em 30 000 pessoas.
Além de conferir essas atrações, quem chega ao centro cultural da Barra Funda nos fins de semana encontra atualmente vários festivais gastronômicos. Eles passaram a ser promovidos mensalmente, com barraquinhas que oferecem de milho a churro, bem como feiras de vinil e de artesanato. Outros eventos fazem ainda parte da programação, entre corridas, shows de maior porte (os ingleses do Kaiser Chiefs apresentaram-se por lá recentemente) e os já tradicionais Festival de Cinema Latino-Americano e Festival Ibero-Americano de Teatro.
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Não é exagero dizer que se trata de um renascimento das cinzas. Em novembro de 2013, um incêndio consumiu todo o interior do Auditório Simón Bolívar, sua construção mais icônica, que respondia por 83% da renda extra do Memorial. “Esse desfalque foi importante, pois trabalhamos com uma verba limitada”, afirma Andrade.
Do orçamento inicial de 28 milhões de reais para 2016, foram liberados 22 milhões devido ao contingenciamento de gastos do governo do estado. Desse montante, 7 milhões de reais estão empenhados na reforma do auditório, do qual somente a recuperação estrutural está terminada. Não há prazo para a finalização da obra.
As mudanças recentes no lugar não se limitam à utilização do espaço. Um novo modelo de gestão mais participativa foi implementado, na qual todos podem apresentar ideias e contribuir para pôr os projetos de pé. Para fazer isso funcionar, Andrade buscou nos quadros do Poupatempo, reconhecido modelo de eficiência, seu atual diretor administrativo e financeiro, Felipe Pinheiro.
Ele ajudou a orquestrar parcerias com empresas para melhorar as instalações do Memorial, incluindo aí a atualização de toda a estrutura hidráulica e de iluminação. “Só no contrato de manutenção, conseguimos uma redução de 55%, o que significou no último ano uma economia de 327 000 reais”, conta Pinheiro.
Em termos de espaços culturais que se deram bem popularizando seu cardápio, uma referência na cidade é o Museu da Imagem e do Som. A mudança começou há cinco anos, e, desde então, o local vem batendo recordes. O público do MIS, que em 2010 foi de pouco mais de 60 000 pessoas, alcançou 600 000 em 2014. “Fomos buscar outras fontes de receita, por meio de patrocínios e parcerias, para oferecer uma programação mais diversificada”, diz o diretor executivo André Sturm. “Vejo que o Memorial da América Latina segue um caminho semelhante.”
Ele reforça que é preciso investir em eventos simultâneos. “A pessoa não pode ir a uma mostra e só voltar quando tiver outra, dali a um ano. Ela precisa se tornar uma frequentadora regular do local.” Trata-se de algo que o endereço da Barra Funda está fazendo direitinho: só até maio deste ano, foram dez exposições, quatro a mais do que em 2015 inteiro.
O que vem por aí — Os principais eventos dos próximos meses
› 21 a 27 de julho Festival Latino-Americano de Cinema
› 6 e 7 de agosto Festival do Bacon
› 13 e 14 de agosto Festa da Independência da Bolívia
› 3 de setembro Arte na Pele — exposição sobre a história da tatuagem no Brasil
› 15 a 25 de setembro Festival Ibero-Americano de Teatro
› 17 a 20 de novembro Flink Sampa
› 18 de novembro A Arte Naïf no Brasil