Historiadora Lilia Schwarcz conta como entrou no mundo das artes
Ela é a nova curadora-adjunta do Masp e assina a curadoria de uma mostra dedicada a Nelson Leirner
Se o nome de Lilia Schwarcz já era muito comentado entre sociólogos e antropólogos, agora estará em voga no mundo das artes: a historiadora acaba de ser anunciada como a nova curadora-adjunta do Masp. Além disso, ela assina a curadoria de uma mostra dedicada ao artista Nelson Leirner na Galeria Vermelho.
Autora de livros como As Barbas do Imperador, uma biografia sobre Dom Pedro II, e Brasil: Uma Biografia, lançado na Festa Literária Internacional de Paraty, em julho deste ano, Lili, como é chamada (“Pode me chamar de Lili, só minha mãe me chama de Lilian quando está muito brava”) namora com o mundo das artes há um bom tempo.
+ Produção de fotos de Eduardo Viveiros de Castro é exibida
Nesses dois livros, a fotografia é usada como documento para mostrar diferentes momentos da história do Brasil. E, mais do que isso, torna a abordagem leve e mais compreensível, assim como a linguagem utilizada pela autora em todos os seus livros. Indicada pelo curador Adriano Pedrosa para integrar o time do Masp, Lilia afirma que o convite foi fruto da parceria firmada no ano passado para a mostra Histórias Mestiças, Realizada no Instituto Tomie Ohtake, a exposição investigava a mestiçagem do povo brasileiro e sua repercussão na arte.
No Masp, ela irá continuar suas pesquisa nos campos da história e da arte e será responsável pelo núcleo de narrativas sobre memória e identidade. A primeira exposição dedicada ao tema, Histórias da Infância, está prevista para março de 2016. Antes disso, no dia 6 de outubro deste ano, ela organizará um seminário sobre o assunto, no qual especialistas brasileiros vão debater sobre a temática da infância para a produção de materiais e ideias para a mostra. “Estou honrada com o convite do Masp. Apesar de eu não me considerar uma curadora, acredito que seja exatamente a abordagem multidisciplinar minha contribuição para a instituição”, afirma a historiadora.
+ Argentino César Paternosto expõe na Galeria Dan
Lilia também se apossou da ideia de explorar a arte a partir da história quando foi convidada pelo paulistano Nelson Leirner para fazer a curadoria de sua mostra na Galeria Vermelho. Todas as obras apresentadas por Leirner são releituras de grandes nomes, como Yayoi Kusama, Leonardo da Vinci, Fontana e Damien Hirst. Ao lado de cada obra, a curadora apresenta um texto em que contextualiza a obra original, além de abordar a ideia sugerida na releitura de Leirner.
Aos 83 anos, Leirner continua produzindo obras que criticam o mercado da arte com ironia. No diálogo com Da Vinci, por exemplo, dezenas da imagem de Mona Lisa estampadas em canetas, pratos e canecas criticam a perda do valor das obras de arte por causa da banalização. Em outro trabalho, o artista recria a obra do inglês Damien Hirst, que consiste em um tubarão conservado em formol. O item foi vendido por 12 milhões de dólares e, ao produzir um aquário com simpáticos tubarões de pelúcia, Leirner questiona a supervalorização de obras como esta no mercado.
“É a maneira que ele encontrou para dizer que não há nada de sagrado na arte”, explica Lilia. Professora na USP, UFRJ e Princeton, nos Estados Unidos, a historiadora ainda arranja tempo para estudar cabo a rabo a vida do jornalista Lima Barreto: “Pesquiso este tema há oito anos. Mesmo com todos esses novos projetos, logo vou lançar a biografia”.