“Rock in São Paulo soa até um pouco melhor que Rock in Rio, não?”. A maior parte dos 60 000 fãs que lotaram o show do Iron Maiden no Anhembi, na noite de sexta (20), levou ao pé da letra a provocação bem humorada do vocalista Bruce Dickinson. Dois dias antes da apresentação dos ingleses no festival, a “torcida” paulistana da banda – cuja faixa etária vai dos 10 aos 60 anos de idade – comprovou com entusiasmo que, mesmo sem álbum novo ou hits nas paradas de sucesso, os veteranos do heavy metal não perdem a majestade.
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Atender todos os desejos dos seguidores, aliás, é um dos segredos da fórmula eficiente do sexteto, que revive o próprio passado com pirotecnia e cenários com um quê teatral. O saudosismo, no caso, não é nada acidental: a turnê Maiden England reaproveita elementos da 7th Tour of the 7th Tour, de 1988, que divulgou o disco Seventh Son of a Seventh Son. Não à toa, o setlist é quase todo composto por hits da década de 1980, quando o grupo foi descoberto pelos brasileiros em uma passagem eletrizante pelo primeiro Rock in Rio (1985).
Quase trinta anos depois, o Iron Maiden mudou muito pouco – o que, para seus admiradores, parece contar como um elogio. No palco, eles criam “versões ampliadas” para as capas de seus discos e ilustram as músicas com bonecos gigantes que se movem e, em alguns casos, disparam chamas a poucos metros dos músicos. Fogos de artifício em diversas cores e telões cristalinos, que exibiam imagens de geleiras despencando e insetos, atualizam o espetáculo. Mas o essencial não sofre alteração: a energia de Dickinson, 55 anos, que explora cada desnível do palco rodopiando e trocando de figurinos, e a habilidade de instrumentistas competentes como o baixista Steve Harris, 57, e o guitarrista Dave Murray, 56.
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O script não permite surpresas – eles seguem o planejado até no bis, com Aces High, The Evil the Men Do e Running Free. Dickinson, no entanto, aproveita cada brecha para conversar rapidamente com o público, repetir meia dúzia de vezes a frase “Scream for me, Brasil!” (em português: grite para mim, Brasil) e inserir “cacos” no roteiro. Em meio aos climas cavernosos de Phantom of the Opera, chegou a elogiar o churrasco brasileiro e as caipirinhas. “Nós trouxemos fogos de artifício e umas roupas que já estão um pouco velhas, mas tudo bem”, brincou, com sotaque britânico carregado.
A plateia, uniformizada de preto e em clima de confraternização da “família metal”, respondeu à altura, em coro, em faixas como Run to the Hills e Can I Play with Madness. Nesses momentos, o som embolado do Anhembi não chegou a incomodar – mais prejudicados nesse quesito técnico ficaram as bandas que antecederam o Iron, o Slayer e o Ghost. No clímax do show, uma versão gigante do mascote Eddie simulou a capa do disco Seventh Son of a Seven Son. “Amanhã estaremos no Rio. Vamos ver o que acontece”, disse Bruce. Quando ouviu as vaias de deboche da plateia, livrou-se rapidamente da saia-justa. “Rock in Rio? F*-se”, completou, desta vez sob aplausos e gritos de “Mêi-den! Mêi-den!”.
Confira o setlist completo do show:
- Moonchild
- Can I Play with Madness
- The Prisoner
- 2 Minutes to Midnight
- Afraid to Shoot Strangers
- The Trooper
- The Number of the Beast
- Phantom of the Opera
- Run to the Hills
- Wasted Years
- Seventh Son of a Seventh Son
- The Clairvoyant
- Fear of the Dark
- Iron MaidenBIS
- Aces High
- The Evil that Men Do
- Running Free