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O Instituto Baccarelli, em Heliópolis, pede socorro

Com cortes no orçamento, a ONG que ensina música em uma das maiores favelas do país faz campanha para seguir com seus projetos

Por Débora Crivellaro
Atualizado em 7 set 2017, 15h30 - Publicado em 7 set 2017, 06h00
Tamires Kamisaka, a primeira-tuba da sinfônica: vida transformada (Antonio Milena/Veja SP)
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O porteiro do Instituto Baccarelli sabe de cor, por exemplo, a idade e o histórico de cada um dos oito pares de gêmeos que ali estudam. Ele não é o único. A escola, onde todos são tratados pelo nome, inclusive os pais, traz uma realidade de cuidado pouco conhecida mesmo em grandes instituições particulares de áreas nobres paulistanas.

Ocupa um prédio de quatro andares no coração de uma maiores favelas do país, Heliópolis, na Zona Sul, onde vivem 120 000 pessoas. Há 21 anos a associação criada pelo maestro Silvio Baccarelli transforma o universo dessa região por meio da música. Atualmente, acolhe 1 300 alunos, com idade entre 5 e 28 anos, acompanhados de 55 professores.

Há corais e cinco orquestras em atividade, entre elas a renomada Sinfônica de Heliópolis, protagonista de turnês internacionais e regida por Isaac Karabtchevsky. Oferece ainda salas com acústica impecável e equipamentos e instrumentos modernos.

Assim como acontece com outras ONGs, a entidade — que sempre se prezou da qualidade — enfrenta um período difícil. O equipamento utilizado nas aulas consome 760 000 reais por mês. No último ano, no embalo da crise econômica, as doações — que mantêm o funcionamento da instituição — caíram de 9,2 milhões para 6,7 milhões de reais, uma diferença de quase 30%.

Instituto Bacarelli
Aula de música: alunos com idade entre 5 e 28 anos (Antonio Milena/Veja SP)

Sustentam toda essa estrutura principalmente companhias como Bradesco, Cielo, Vivo e Volkswagen. O principal baque sofrido recentemente, entretanto, tem a ver com a perda de patrocínio da Petrobras, seu principal mantenedor. A parceria teve início há doze anos, com uma ajuda anual de 970 000 reais.

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O valor cresceu durante todo esse período e chegou a 2 milhões de reais em 2014 e 2015. Para 2016, estava previsto 1,5 milhão de reais, porém o repasse do dinheiro não foi concluído. Em nota, a estatal afirmou que não patrocina mais iniciativas de formação e revisou seu programa para “se adequar ao novo plano estratégico e de negócios e à nova realidade orçamentária”.

No momento, graças em parte a reservas financeiras, não houve mudança alguma no dia a dia da instituição. Para dar continuidade ao trabalho sem prejudicar o quadro de alunos e funcionários, além da agenda de apresentações, o instituto acaba de lançar uma campanha nas redes sociais, batizada de #vemtocarconosco.

A ideia é aumentar as doações de pessoas físicas, que representam hoje 25% da verba da entidade. Isso pode ser feito a partir da destinação de até 6% do imposto de renda devido. Quem aderir ao programa terá o direito de deduzir 100% desse valor na declaração do ano seguinte.

Nas publicações da web, a entidade ensina o passo a passo da operação. “Queremos ver se a população nos dará um atestado de relevância com essa ajuda”, afirma Edmilson Venturelli, diretor de relações institucionais do Baccarelli. Se novas parcerias não forem acertadas e a conta seguir desfalcada, as atividades e o número de estudantes beneficiados podem diminuir em 2018.

Instituto Bacarelli
Ingrid Ranieri: “Quero atuar em uma orquestra” (Antonio Milena/Veja SP)

A busca pela excelência e a ligação com a área musical rendem incontáveis histórias de mudança pessoal. Tamires Kamisaka, de 23 anos, foi abandonada pela mãe aos 5 na casa do pai em Heliópolis. Entrou no projeto aos 8 anos e fez dele seu lar. Hoje, é a primeira-tuba da orquestra sinfônica e cursa faculdade de música.

Apesar de não ter recebido apoio da família e de ter mudado de residência várias vezes durante a juventude, ela não desistiu de sonhar. “Pretendo tocar em outros grupos e participar de festivais fora do país”, diz.

Tamires virou inspiração para Ingrid Ranieri, de 12 anos, integrante da instituição desde os 5. A menina faz parte do coral e toca violoncelo — frequenta a escola quatro vezes por semana. Ainda está na 6ª série do ensino fundamental, mas tem traçado na cabeça seu futuro profissional: “Quero atuar em uma orquestra”, afirma, decidida. Vinte e um anos depois, a semente da transformação pela música está enraizada e precisa render cada vez mais frutos.

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