Grupo Galpão abre mão da essência brasileira em “Eclipse”
De Anton Tchecov, drama está em cartaz no Sesc Vila Mariana
Desde julho, uma mostra na cidade comemora as três décadas do Grupo Galpão. Depois de reapresentar Romeu e Julieta, Till — A Saga de um Herói Torto e Tio Vânia, os mineiros levam ao palco um novo mergulho na obra do russo Anton Tchecov (1860-1904). O drama Eclipse traz um tema recorrente da ficção: a iminência do fim do mundo. Desta vez, porém, a companhia criou uma montagem mais voltada à estética e deixou as sensações de lado. Esta opção acarreta algumas consequências — causa estranheza na plateia, acostumada a uma linguagem menos engessada, e nos atores, bem mais técnicos do que emotivos.
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Cinco pessoas (interpretadas por Chico Pelúcio, Inês Peixoto, Julio Maciel, Lydia Del Picchia e Simone Ordones) aguardam o término de um eclipse solar confinadas em um mesmo lugar. Eles começam a discutir sobre fé, felicidade, vocação e caos, ultrapassando os limites do respeito. Baseada em fragmentos de 150 textos curtos, a dramaturgia coletiva cresce ao inspirar-se no estilo literário e nas visões de Tchecov a respeito da vida.
O rodízio permanente de encenadores é uma das principais características do Galpão e impede uma acomodação na linguagem. Diante da proposta de estabelecer uma relação intimista com o universo do autor, justifica-se a escolha do diretor russo radicado na Alemanha Jurij Alschitz. A ousadia rendeu um espetáculo poético com momentos delicados. Contudo, o excesso de rigor cênico e a sequência de monólogos imprimem uma frieza incomum no repertório do grupo. Eclipse mostra refinamento, mas se aproxima muito mais de um espetáculo europeu. Distante e seco, carrega uma alma gringa que se desvia do estilo tão brasileiro do Galpão.
AVALIAÇÃO ✪✪