Jorge Mautner: “São Paulo é uma cidade ecumênica”
O músico e escritor fala do documentário que trata de sua carreira e também sobre sua relação com a cidade
Para resgatar a importância do músico e escritor Jorge Mautner, chega aos cinemas nesta sexta-feira (1º) um documentário sobre um dos ícones do tropicalismo, parceiro de composições de Caetano Veloso e Gilberto Gil e autor de Maracatu Atômico, música pop nos anos 1990, na versão de Chico Science e Nação Zumbi. Dirigido por Pedro Bial e Heitor D’Alincourt, Jorge Mautner — O Filho do Holocausto, uma mescla de documentário e ficção, abriu a versão carioca do festival É Tudo Verdade em 2012, e também ganhou três prêmios no Festival de Gramado.
A seguir, confira entrevista com o músico, também autor do filme O Demiurgo (1970), que acabou detido pela censura.
VEJA SÃO PAULO — Por que o filme leva “o filho do Holocausto” no título?
Jorge Mautner — É uma referência explícita ao livro que escrevi com memórias, desde 1941. Nasci no Rio de Janeiro, pouco depois que meus pais chegaram aqui, fugidos do holocausto nazista.
VEJA SÃO PAULO — De que maneira esse fato influenciou a sua obra?
Jorge Mautner — Eu não diria que influenciou, mas que determinou. O Brasil é um amálgama que não existe em nenhum outro lugar.
VEJA SÃO PAULO — Você morou um período de sua vida em São Paulo, no final dos anos 1940. Do que você se lembra desse período?
Jorge Mautner — Me mudei para São Paulo quando minha mãe se casou novamente com o violinista Henri Müller, que foi a primeira viola da Orquestra Sinfônica da cidade. Aqui estudei no colégio Dante Alighieri, escrevi para o jornal Última Hora… Acho São Paulo maravilhosa. Foi em São Paulo que descobri o maracatu, o Jackson do Pandeiro e a Vai-Vai, quando ainda era uma escola de samba desconhecida. Assim como o Brasil, São Paulo é uma cidade ecumênica, um amálgama que não existe em qualquer outro lugar.
VEJA SÃO PAULO — Como foi assistir novamente a O Demiurgo para o documentário, ao lado de Caetano Veloso e Gilberto Gil?
Jorge Mautner — Rever O Demiurgo é sempre uma experiência impressionante. Desde que conheci Caetano Veloso e Gilberto Gil, durante o exílio em Londres, firmamos uma parceria que não é só artística. Eles deram verdadeiras aulas de cultura aos ingleses.