Três perguntas para Alexandre Borges
Ao lado do pianista português João Vasco, o ator cruza as obras de Fernando Pessoa e Vinicius de Moraes no recital <em>Poema Bar</em>, que tem sessões gratuitas no Teatro do Sesi
Como se deram a parceria com o português João Vasco e o interesse por poesia?
Tenho uma ligação forte com Portugal. Cheguei a morar no Porto por mais de um ano, entre 1989 e 1990. Nessa época, li pela primeira vez um livro de Álvaro de Campos, heterônimo de Pessoa, e foi transformador. Também conheci a obra de Mario de Sá-Carneiro e Florbela Espanca. Fui apresentado ao João Vasco por amigos, e há algum tempo pensávamos em um trabalho conjunto. Saiu esse projeto, que eu mesmo produzo e já tem quase dois anos. Na Alemanha, por exemplo, foi muito emocionante ver a plateia cheia de brasileiros que fazia tempo não ouviam nada em sua língua.
Como foi feito esse recorte entre Pessoa e Vinicius?
É um depoimento muito pessoal. Os dois têm uma poesia da noite, das mulheres, de rua, algo muito orgânico. Minha história tem relação com Vinicius. O primeiro fi lme que fi z, Mil e Uma, foi dirigido pela Suzana de Moraes, fi lha dele, em 1994. Também fui amigo da Luciana, sua outra filha. Na época, elas me disseram que eu lembrava o pai delas quando jovem. Achei engraçado, afinal temos a visão do Vinicius um pouco mais velho, não?
Duas décadas depois, essa imagem faz sentido?
Uma coisa é fato: eu adoro conviver com as mulheres, seja com a minha, a Julia Lemmertz, ou com as atrizes com quem trabalho. Quando leio Vinicius, percebo essa alma boêmia e me identifico. É o retrato de um poeta, um homem que não teve medo do que a vida lhe ofereceu.