Elas sofrem com as calçadas de São Paulo
Três paulistanas que já enfrentaram buracos, multas, burocracia e outros problemas relacionados às calçadas
CORRIDA DE OBSTÁCULOS
De tempos em tempos, a empresária Luana Trindade desaba no chão ao correr na rua. Já levou quatro tombos desde o fim de 2011, quando começou a se exercitar. O último e mais grave ocorreu em agosto: tropeçou em uma calçada destroçada pela raiz de uma árvore na Avenida Sumaré, antes da reforma de 2012 (foto). Ralou as mãos, sofreu estiramento muscular na perna direita e passou uma semana com dores, afastada das atividades físicas. Suas primeiras corridas pelas vias de seu bairro, o Jardim Rosa Maria, na Zona Oeste, já haviam sido frustrantes. “Lá não é possível nem caminhar”, diz. “Tentei seguir algumas vezes pelo meio da rua, mas desisti.” As condições lamentáveis dos passeios obrigaram Luana a mudar de hábitos: agora ela só corre no Parque do Ibirapuera. “Cansei das calçadas, são ruins demais: pedregulho, raiz, piso levantado, mudança de pavimento, tem de tudo.”
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VÁRIAS DÚVIDAS E UMA MULTA
Em fevereiro de 2012, a analista de comércio exterior Ira Kutney recebeu de um fiscal o alerta para reformar a calçada de sua casa, na Rua Aecri, na Vila Madalena. Havia degraus e uma rampa junto à guia, além de uma lixeira e uma árvore em locais inadequados. A moradora procurou o Sistema de Atendimento ao Cidadão, mas não descobriu como se adequar. Em abril, tirou fotos do local e entregou uma petição na Subprefeitura de Pinheiros pedindo esclarecimentos. Uma semana depois, teve a resposta: uma multa de 547 reais. O auto de infração citava seu relatório como prova das irregularidades. “Gastei 4.000 reais para deixar a calçada no padrão, mas recorri da multa. O processo está em andamento.”
FÊMUR EM PEDAÇOS
Aos 71 anos, a profissional de turismo Marilda Tavares se orgulhava de nunca ter levado um tombo. Em agosto, no entanto, foi vencida por um buraco na entrada de seu prédio, na Avenida Angélica. Resultado: teve o fêmur direito partido ao meio. Submeteu-se a cirurgia, instalou uma haste de titânio no osso e permaneceu dez dias internada. “Foi uma lesão fora do padrão, pois aquele não é um local frágil. Deve ter sido uma pancada e tanto”, afirma o ortopedista Marco Antonio Ambrósio, do Hospital Samaritano. A recuperação ainda envolveu quatro meses de fisioterapia. “Estou mancando e sentindo dor, mas o pior é que passei a ter medo de caminhar na rua”, diz Marilda. E a cena do crime? “Arrumaram logo após a minha queda.”