Cápsula do tempo para guardar memórias da pandemia
Com os desafios vividos no isolamento, essa antiga tradição pode ser uma alternativa para reunir as experiências da quarentena - e guardá-las para o futuro
De Andy Warhol a Miguel de Cervantes, grandes personalidades já deixaram para a posteridade suas cápsulas do tempo, com cartas, retratos e objetos que representem as experiências e lembranças de suas épocas. Um ano como nenhum outro, 2020 também será lembrado pelas próximas décadas — inclusive tendo as máscaras protetoras como um de seus maiores símbolos.
Em casa, onde a população passou boa parte do tempo, a ideia de criar uma cápsula pode servir como autorreflexão de fim de ano ou como registro da quarentena em família. Não há regras para definir quando reabri-la, seja em cinco, dez ou vinte anos, mas não faltam ideias criativas para guardar para o futuro sua seleção de memórias da pandemia. Confira algumas delas:
O recipiente
A cápsula pode ser feita com potes de vidro, caixas ou até as tradicionais latas de biscoitos natalinos, por exemplo — basta ter espaço suficiente para os objetos que pretende guardar. Como parte do “ritual”, a dica é decorar sua superfície com colagens e materiais como tinta, adesivos e fitas
Onde armazenar
Enterrar a cápsula pode não ser uma boa ideia se a única opção for o jardim do prédio — e na terra seu invólucro corre o risco de estragar em pouco tempo. Para que não caia no esquecimento, vale deixá-la escondida no guarda-roupa ou exposta em uma prateleira de casa com a data em que foi selada e as instruções para sua abertura.
Os objetos do ano
A primeira máscara, o primeiro tubo de álcool em gel e outros apetrechos da pandemia merecem ser escolhidos. Para muitos, o tempo de isolamento pode ser definido como a vez em que aprenderam a cozinhar, tricotar ou cuidar de plantas, e objetos que resumam essa experiência devem entrar na lista. Pen drives e controles remotos, para quem torce pelo futuro high-tech, podem cair em desuso nos próximos anos e deixar de ter utilidade, mas também são uma maneira de representar o período em que a cápsula foi criada.
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Carta para si mesmo
Escrever uma carta para seu “eu” do futuro é uma sugestão comum para quem vai montar a cápsula. “Este ano pode ter feito com que as pessoas pensassem no que fizeram de errado e o que ainda podem aprender”, pondera o designer Daniel Blumenthal, do site Cápsula do Tempo. Reflexões como essa são um bom caminho para começar e devem ser feitas sempre com palavras otimistas e amistosas (sem se cobrar caso algum plano de 2020 não se concretize).
Heranças de família
O processo de escolher o que entra na cápsula do tempo também pode ser uma atividade feita em família. Juntos, todos podem desenhar uma árvore genealógica, reunir fotos dos parentes em 2020 e escrever a mão uma lista de perguntas para todos os integrantes responderem antes de lacrar a cápsula, com curiosidades como músicas, pratos e filmes favoritos que marcaram a vida em quarentena. Outra ideia é escolher algum “artefato” da vizinhança, como um cardápio do restaurante do bairro ou uma fotografia que mostre a rua e a fachada de casa.
Retratos do passado
Além de papéis e recortes que remetam ao período vivido em quarentena, como uma antiga lista de mercado e edições de revistas favoritas, fotos impressas com a família também podem entrar na cápsula. “E eu faria fotos de locais próximos de casa, como um supermercado com seus caixas, filas e clientes”, sugere o filósofo Francisco Gomes Júnior. “Em dez anos talvez não existam caixas controlados por pessoas, substituídas por sistema de reconhecimento facial ou pelo hábito de fazer compras por delivery. As imagens do nosso dia a dia servirão de recordação.”
Afago material
Separe a embalagem das guloseimas, bebidas e produtos que trouxeram conforto dentro de casa: um chocolate favorito, a tampinha da cerveja aberta nos fins de semana ou o creme novo que começou a usar antes de dormir. Com os itens que deram prazer na quarentena, sua cápsula vai guardar boas memórias de um período muitas vezes cansativo e doloroso. Vale incluir qualquer outro objeto com valor sentimental que tenha marcado os meses de isolamento.
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Publicado em VEJA São Paulo de 30 de dezembro de 2020, edição nº 2719