Colégio Santa Cruz completa 70 anos e lança podcast sobre sua história
Produção trata da origem e também do vanguardismo dos padres e de seus vários ex-alunos famosos, como Chico Buarque
Para contar a história de seus setenta anos, o Colégio Santa Cruz decidiu criar o Podcast Santa 70, com oito episódios que trazem verdadeiras relíquias escondidas em fundos de baús fonográficos, a principal delas uma entrevista feita pela apresentadora Hebe Camargo com o padre PaulEugène Charbonneau, teólogo canadense que foi o idealizador do projeto educacional da instituição.
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Registrado apenas em áudio, o teor do encontro de 1973 era inédito até então e é relembrado no primeiro episódio do podcast, que já está disponível nos tocadores Spotify, OLA Podcasts e Google Podcasts.
Charbonneau recebeu Hebe no colégio, numa espécie de retribuição da apresentadora às visitas que ele fazia ao programa dela no Teatro Record. Hebe chegou no momento em que o também filósofo e professor celebrava uma missa para os alunos, cantando um trecho da ópera-rock Jesus Christ Superstar.
O áudio traz uma conversa entre os dois sobre educação e juventude. A ideia é a de que novos trechos dos 45 minutos da entrevista sejam apresentados nos próximos episódios, a ser veiculados todas as quintas-feiras. Como se fosse um programa de rádio antigo, cada episódio é contextualizado com uma notícia histórica da época, sempre no começo e no final da década retratada.
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Eles trazem trechos do diário do padre canadense Lionel Corbeil, o fundador da instituição, e entrevistas com vários ex-alunos, professores e personalidades, como os integrantes da primeira turma, todos com mais de 80 anos atualmente; um professor de física que leciona há 46 anos na instituição; e ainda relatos de personalidades, como a cineasta Marina Person, o escritor Marcelo Rubens Paiva, a apresentadora Didi Wagner, o cantor Chico Buarque e a médica Ana Escobar, todos ex-estudantes do Santa, como é mais conhecido por quem passou por lá ou ainda estuda no colégio.
Apesar de não terem dado depoimentos exclusivamente para os episódios do podcast, visitantes ilustres também integram os episódios, como é o caso da atriz Fernanda Montenegro e do músico João Bosco, presentes na inauguração do teatro, em 2002, e ainda do escritor José Saramago, que palestrou na instituição em 2003.
Segundo Fábio Aidar, também um ex-aluno que virou professor e hoje é diretor-geral do Santa Cruz, a instituição já foi procurada para receber novos relatos. “Eu recebi essa sugestão e nem imaginava o sucesso que faria. É impressionante a quantidade de famílias que nos procuram para poder contar suas histórias”, diz.
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Em meio aos relatos que escuta estão histórias dos contatos travados entre alunos e os padres canadenses que fundaram o colégio, e também com o pároco brasileiro José Amaral de Almeida Prado, morto em janeiro deste ano e que marcou várias gerações de estudantes.
No caso dos mais antigos, a memória mais recorrente é de Charbonneau, que morreu em 1987 e é considerado até hoje a “alma” do colégio. E não só pelas suas ideias e ideais sobre educação, mas sobretudo pelo seu lifestyle. Jogador de tênis e boxeador, Charbonneau também jogava bola com os
alunos.
Por vezes dispensava a batina e se valia de autores nada ortodoxos em suas aulas, tais como Jean-Paul Sartre, Franz Kafka e Fiódor Dostoiévski, além de abordar temas como sexo, drogas e reforma agrária, isso no início dos anos 1960, características que são lembradas no podcast.
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Apesar de retratar as sete décadas, o podcast terá oito episódios. O último vai contar como a escola enfrentou a pandemia e também como lida com questões como inclusão e luta antirracista. Dos 3 200 alunos, 600 são bolsistas, matriculados em cursos técnicos e de educação de jovens e adultos.
Além disso, a instituição criou um programa específico para a diversidade racial — tema da conversa com Chico Buarque — em que oferece bolsas totais ou parciais a negros e indígenas.
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Publicado em VEJA São Paulo de 28 de setembro de 2022, edição nº 2808