Boneco Falcon retorna com sucesso às lojas da cidade
Brinquedo estava há dezessete anos fora do mercado
Nas últimas décadas, a concorrência de produtos importados, sobretudo da China, dizimou grandes fabricantes de brinquedos no Brasil, como a Atma e a Glasslite. A Estrela se manteve no mercado e está completando oitenta anos. Para comemorar o feito, vem relançando produtos que marcaram época, como o trem Ferrorama e o carro Pé na Tábua. Mas nenhum deles supera o sucesso do Falcon.
O boneco voltou às lojas no mês passado em duas versões, iguais às originais: Turbocóptero (199,99 reais) e Explorador (179,99 reais). Em poucas semanas, as 20 000 unidades praticamente se esgotaram no comércio. A produção foi dobrada para atender à demanda. “Nosso alvo é o público mais velho, que vai repassar as lembranças de infância para filhos e sobrinhos”, diz Carlos Tilkian, presidente da Estrela.
O produto chegou por aqui em 1977, inspirado no americano G.I. Joe, da Hasbro. Na versão nacional, manteve a pegada bélica, com tanques de guerra, helicópteros, facas e rifles entre os acessórios. “Foi a vedete da época na fábrica e quebrou um paradigma”, conta o químico Antonio Chelucci, que chegou à Estrela em 1976 e hoje é gerente de processos industriais.
Ele se refere a uma grande preocupação da companhia na ocasião: até que ponto os garotos trocariam os carrinhos de brinquedo por um boneco que movimentava as articulações e tinha o cabelo com textura de palha de aço? As vendas trouxeram a resposta: mais de 5 milhões de unidades foram comercializadas em cinco anos. Aos poucos, porém, o boneco foi perdendo a graça, até que saiu de linha, em 1983.
Nas duas décadas seguintes, ocorreram tentativas fracassadas de ressuscitá-lo. Os fãs fizeram uma campanha bem-sucedida pela volta do produto. Um deles foi o arquiteto Marcelo Peron, de 43 anos, que mandou mais de cinquenta e-mails para a fábrica.
“Deixamos claro que não aceitaríamos materiais de má qualidade, como ocorreu nos outros relançamentos”, lembra. Ele mantém uma página sobre o Falcon no Facebook com 10 000 seguidores. A turma usa o espaço para comprar e vender relíquias. Algumas chegam a custar 3 500 reais, a exemplo de um helicóptero da década de 80.
Com mais de 1 000 peças guardadas em casa, na cidade de Santo André, Peron afirma que só falta uma unidade para completar sua coleção: a embalagem original da “trincheira heroica”, de 1977. “Pago até 10 000 reais por ela”, garante.
Considerado uma autoridade no assunto, o arquiteto acabou sendo contratado pela Estrela para ajudar no retorno do boneco. “Pediram que desenhasse as caixas exatamente como eram no passado”, conta.
A exemplo do que ocorreu com o Falcon, a empresa pretende relançar em breve outros produtos que fizeram história, como a boneca Fofolete, o carro Maximus e o Pogobol. “Nossos artigos possuem grande valor sentimental e nunca iremos virar as costas para quem cresceu com a gente”, diz Tilkian.