Chegou dentro de um daqueles mesmos saquinhos plásticos americanos, com fecho de apertar com o dedo indicador e o polegar, nos quais minha mãe mandava para a escola meus lanches, na Califórnia, na década de 60. Quem o trouxe de lá dos Estados Unidos foi meu primogênito, Lucas, de 29 anos. Graças à viagem do filho, minha mãe conseguira, finalmente, mandar-me um presente bacana. Ela estava convencida de que eu iria adorar o Fitbit, como é chamada a geringonça.
Quando abri o saquinho, logo percebi que teria de chamar os universitários. Vieram dois plugs de conectar no computador, um livrinho do tamanho de um selo dos Correios e uma pulseira de plástico preto, em formato futurista, meio Jornada nas Estrelas. Mais nada. Teoricamente, o aparelho acompanharia a quantidade de exercícios que realizo por dia, calculando o número de passos dados. Segundo minha mãe, nos dias em que ela faz cooper com a amiga Margie, completa 10 000 passos.
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Lucas, que usa um aparelho desses, mas de marca mais badalada, montou-o para mim. São necessários um computador e um telefone inteligente. No fim do processo, quando ele fechou o aparelho no meu pulso, acenderam-se luzes em padrões futuristas. Senti-me, por um segundo, em um filme, era aquele humano comum e mortal que, ao vestir a pulseira, ganha alguns superpoderes pontuais.
Segundo me explicaram, bastava usar a pulseira. As máquinas dariam conta do resto. Contariam meus passos, fariam uma avaliação e diriam como estou indo. Quem me lê de vez em quando sabe que sou pedestre. Gosto de andar. Vou a pé, de ônibus e de metrô para tudo quanto é lado em São Paulo. Estava animado diante da possibilidade de ver cada passo contabilizado.
No primeiro dia da pulseira, levei o caçula, Sammy, de metrô à escola, fui ao trabalho de ônibus e depois à academia de ginástica, em que caprichei nos aparelhos. A pulseira entrou em modo vibratório por um segundo enquanto estava na esteira. Não sabia o significado daquilo, mas, depois do susto, concluí que só poderia ser um sinal positivo. Ao consultar o aplicativo do telefone, de noite, em casa, no entanto, constatei que foram contabilizados apenas 161 passos, menos de 200 metros. Não era possível. Só nas escadarias da Rua Aspicuelta, na Vila Madalena, foram 94! Deprimi-me. Mandei um e-mail para o Lucas. Ele prometeu vir à minha casa examinar a pulseira no fim de semana.
No dia seguinte, resolvi nem vesti-la. Para quê? Embora fosse estilosa, só iria me deprimir. Foi quando abri a caixa de correio do e-mail. Havia ali uma mensagem enviada pelo Fitbit cumprimentando-me pelos 16 704 passos dados no dia anterior. Era o equivalente a 12,62 quilômetros, mais de três vezes a distância percorrida diariamente pelo americano médio. Pelo jeito, a máquina demora um pouco para processar os dados. Segundo a mensagem, havia superado minha meta, que, como vim a saber, era de 10 000 passos. Não sei quem estabeleceu esse objetivo para mim, diga-se. Mas não tive dúvida. Subi ao quarto e coloquei a pulseira. Quando se acenderam as luzes futuristas, senti-me preparado para ganhar o dia.
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