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“Voltar aos palcos foi o melhor momento da minha vida”, diz Adriana Calcanhotto

Na estrada com seu novo disco, 'Errante' (2023), a cantora e compositora gaúcha fala sobre o legado de Gal Costa e o futuro do projeto Partimpim

Por Tomás Novaes
20 jul 2023, 23h00

Adriana Calcanhotto, 57, está em turnê pelo Brasil com o seu disco mais recente, Errante (2023). A temporada de shows estreou em maio, em Portugal, país que se tornou a segunda casa da artista.

Professora de composição na Universidade de Coimbra desde 2017, a cantora e compositora gaúcha voltou a viver no Rio de Janeiro por conta da pandemia.

“Eu não cheguei a morar em Portugal, fiquei indo e vindo. Na verdade, morei um pouco, porque tenho uma parte da minha biblioteca lá — e, para mim, onde estão os livros também significa morar (risos)”, conta ela, que voltará a lecionar no país em 2024.

Além dos shows de lançamento do novo álbum de inéditas, com passagem por São Paulo nos dias 27, 28 e 29 deste mês, no Sesc Pompeia, a artista também fará uma apresentação na cidade no próximo dia 11, ao lado de Rodrigo Amarante, na Audio.

A agenda da cantora está disputada desde o início do ano, quando fez uma série de shows em homenagem a Gal Costa (1945-2022), a convite da equipe da ícone baiana.

Sobre o luto, a turnê atual e os próximos passos de sua carreira, confira a entrevista.

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Você começou sua nova turnê em Portugal. Essa temporada europeia foi especial?

Eu senti que voltar a estar nos palcos, na estrada, com uma banda que é um espetáculo, resultou no melhor momento da minha vida. Consegui reunir um grupo de músicos que nunca se apresentou nessa formação, mas que já tocou junto em outros trabalhos. Todos têm uma admiração muito grande entre eles, e rolou uma química perfeita. E me dei conta também de que demorei muito para colocar o naipe no palco, sempre gostei dos sopros, mas trabalhava com eles separados. Agora estou fazendo todas as canções do show assim.

Nessa etapa portuguesa, você cantou com Salvador Sobral, um dos novos nomes da música lusitana. Qual a sua relação com essa nova geração de Portugal?

Eu acompanho eles quando estou lá, e uma coisa que eu entendi muito sobre a música que eles fazem, e até sobre a geração anterior, é que todos foram formados ouvindo Tom Jobim e coisas do Brasil. Eles são loucos por isso, pelas canções, pela bossa nova, as harmonias mais complexas. Entendi muito mais o trabalho deles quando soube essa informação.

O seu novo disco, Errante (2023), fala sobre sua vida nômade de artista. Como nasceram as canções desse trabalho?

O disco não nasceu como um álbum. Era um material de autora, canções minhas, música e letra, que estavam guardadas. Depois da pandemia, quando compus uma safra isolada, confinada aqui em casa, chegou o momento em que dava para sair e gravar no estúdio. A gente teve essa experiência de gravar todo mundo junto — não só a base, mas a faixa inteira. Depois, levar esse projeto para o palco… por isso digo que foi um momento diferente de tudo. Ser nômade é interessante no sentido de que você é obrigado a desapegar de certas coisas, se desprender de certas ideias. Você está rodando o mundo, os seus valores não são seus quando você está em outra cultura, e isso é a coisa mais incrível.

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No começo do ano, você viajou o Brasil com sete shows da turnê Gal: Coisas Sagradas Permanecem. O que esse projeto significou para você?

Significou muito, porque foi muito difícil para mim. Eu não estava conseguindo assimilar essa perda, talvez eu não tenha conseguido ainda. Esse convite foi importante porque veio do Marcus Preto, diretor dela, e toda a equipe — a banda, a iluminadora, o roadie. Eram as datas dela que me convidaram a cumprir. Isso me fez ficar meses dentro do estúdio assistindo à Gal, todos os shows que havia disponíveis, todas as entrevistas, making-ofs, canções, clipes. Ela ficou vivíssima para mim aqui, enquanto eu estava montando o show. Isso foi muito importante, ela ficou muito presente, as coisas que ela dizia, o que ela achava. E os shows foram muito emocionantes. A pena é que eu já tinha as datas da turnê Errante, e esse convite foi feito só para fazer aquelas mesmo.

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Que portas a Gal abriu, com a ousadia e a potência dela, para as cantoras que vieram depois?

Muitas. Nesse sentido ela era totalmente ousada e versátil, porque ela se entregava para os diretores que faziam os shows, quem quer que fosse. A Gal cantava o que ela queria cantar, não importa o que as pessoas estavam achando. Ela sempre fez o que quis, e isso não é pouca coisa. É um exemplo para a nossa geração.

“A Gal cantava o que ela queria cantar, não importa o que as pessoas estavam achando. Ela sempre fez o que quis, e isso não é pouca coisa”

O que você levou de aprendizados ou inspirações da turnê em homenagem à Gal para a sua carreira?

A entrega, sabe? Isso de subir no palco e se transformar em outra coisa. Porque a gente ia assistir à Gal e, durante o show, ela era aquela tigresa, aquela fera. Mas depois era aquela pessoa tão doce, tão querida. Era incrível.

Ano que vem, o primeiro disco da Adriana Partimpim faz vinte anos. Você tem algum projeto em mente?

A Partimpim, ela, gostaria de fazer coisas, o problema sou eu (risos). Sou uma só, por ela, ela estaria cantando. Mas eu quero sim, quero fazer mais coisas. Estou pensando nisso, porque ano que vem, em tese, ainda terá a turnê Errante. Mas também acho que, se vamos revisitar cada disco a cada número redondo, a gente acaba não olhando para a frente.

Naquele álbum de 2004, você gravou Fico Assim sem Você, sucesso da dupla Claudinho & Buchecha que até hoje está no seu repertório. Como aconteceu a escolha dessa música?

Eu passei muitos anos juntando canções para o que poderia ser um disco Partimpim, essa ideia veio muito antes da realização. Em 1999, eu fiz uma primeira versão do disco, mas não gostei da sonoridade. Quando eu ouvi, já pensei que estava datado. Então coloquei na prateleira — a gravadora e todo mundo que trabalhou até reclamou um pouco, mas eu sabia que não era aquilo o que eu queria. Então começou a tocar a música do Claudinho & Buchecha em todas as rádios, por conta do acidente do Claudinho (faleceu em 2002, vítima de um acidente de carro). Aquele verso, “Buchecha sem Claudinho”, emocionava a gente, os dois garotos no auge do sucesso, jovens, e aquela desgraça. Enfim, eu fiquei apaixonada. E aquele disco que eu estava sentada em cima, esperando o momento para rever, eu entendi que essa canção tinha muito a ver. E não estava errada.

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