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Homens com Hermès

Há mais de duas décadas no comando da moda masculina da grife francesa, Véronique Nichanian convenceu gerações de que mais cor, mais textura e mais echarpes no lugar de gravatas são escolhas viris — só que muito mais charmosas

Por Simone Esmanhotto, de Paris
Atualizado em 1 jun 2017, 18h10 - Publicado em 11 ago 2012, 01h00
Hermès-Man-Madison
Hermès-Man-Madison (Frank Oudeman/)
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Véronique Nichanian acabara de voltar de Nova York quando recebeu VEJA LUXO em sua sala, no 4º andar do número 24 da Rue du Faubourg Saint-Honoré, em Paris. Retornava de uma visita à única das 328 Hermès no mundo dedicada aos homens. Aberta em 2010, tem quatro andares na Madison Avenue. No último, funciona o sob medida. Ali, um nostálgico pode encomendar, por exemplo, um suéter de cashmere que reproduza um modelo tricotado pela mãe décadas atrás. “Lojas masculinas são minha ideia de paraíso”, diz a estilista, formada pela Escola da Câmara de Alta-Costura de Paris, em 1976. Véronique nunca costurou um longo. Diplomada, entrou para a Cerruti, que vestiu Richard Gere em Uma Linda Mulher. Chegou à Hermès em 1988, doze anos depois de a grife lançar a coleção masculina. No organograma, ocupa o segundo posto. Tem carta branca para juntar crocodilo e lã num paletó ou propor calças laranja e lenços pink. Só deve satisfações ao chefe, Pierre-Alexis Dumas, e ao marido (que confessa mimar com dicas de moda). O cargo, ela diz, “coube perfeitamente no meu caráter”.

Ao contrário da maioria das mulheres que se espelham na mãe, ela aprendeu o segredo do bem vestir com o pai, descrito como “discreto, adepto do sob medida e conhecedor de tecidos”. Com ele, entendeu o significado de ser “chique, simplesmente”. “Detesto frufru”, resume. Vestida com a infalível combinação de calça (de alfaiataria ou jeans), camiseta (branca, preta ou cinza) e joias de prata da maison, Véronique concedeu a entrevista a seguir.

A linha masculina da Hermès é best-sellerna França, à frente de etiquetas como Dior Homme. O que a torna atraente?

Os homens são exigentes no que diz respeito ao conforto e ao tecido. Apreciam um detalhe invisível, como um bolso forrado de pelica. Querem uma roupa que funcione no dia a dia, diferentemente da mulher, que fantasia. É o que procuramos atender.

O jeito da parisiense de se vestir (e até de comer) é tão comentado que la parisienne virou tema de livros e uma meta de estilo. O que se pode aprender com o parisiense?

Le parisien se conhece muito bem e expressa sua personalidade, importa-se menos com o dress code e mais com um estilo. Adoro como ousa misturas que muitos condenariam ou en-rola a echarpe com displicência. A isso se dá o nome de charme.

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Você esteve no Rio de Janeiro e em Salvador. Como os brasileiros se destacam?

Fiquei fascinada. Todos parecem bastante à vontade na própria pele. Sinto que há muito menos convenções, e é um refresco ver como dominam o uso das cores.

Nos últimos anos, os homens têm comprado roupas e acessórios num ritmo que já ultrapassa a sede de consumo feminina. O que mudou no jogo de aparências masculino?

Antes, era comum vê-los com a namorada palpiteira. Hoje, eles sabem exatamente o que querem, vão sozinhos e não se distraem entre as araras. Por isso, a loja da Madison é bem dividida: o térreo concentra os acessórios; o 1º andar, as roupas casuais e o couro; o 2º, os costumes; e o último, o sob medida. Assim, eles podem ir direto ao que interessa.


look verão 2012 hermès
look verão 2012 hermès ()

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Esse comportamento afeta sua criação? Os homens estão mais abertos, e sinto que assimilaram propostas que venho apresentando uma estação atrás da outra: mais cor, um tecido novo, uma silhueta diferente. O guarda-roupa masculino hoje é muito mais rico. E isso significa que sou constantemente testada. Procuro formas de deixar ternos mais respiráveis para o verão, por exemplo — o que influencia a fabricação de tecidos. Vivo em tecelagens pedindo inovações. É o caso deste paletó de algodão do verão 2012: com 120 gramas, equivale ao peso de uma camisa.

Há um limite para essa criatividade? O limite não é de gosto nem de idade, mas do corpo. Nesse sentido, o mais importante é acertar a proporção, muitas vezes uma questão de milímetros no comprimento. A roupa certa aumenta a dose de autoestima. Isso é o mais importante. Por isso, prefiro homens que usam meias brancas com sapatos pretos por decisão própria àqueles que não têm corpo de modelo mas insistem na calça justa “porque todo mundo vai usar”. Ter personalidade, ainda que os outros o considerem cafona, é melhor do que ser vítima da moda.

Você é, enfim, a mulher que entendeu o que os homens desejam. Importa-se de dividir o segredo?

(Risos) O segredo é ir aos poucos, devagar e com doçura. Jamais anuncio de uma hora para outra: “Mudou tudo!”. Talvez seja assim que eles queiram ser tratados em qualquer área da vida — não só na moda.

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