Falsa e brilhante
Preferido de Michelle Obama, Tom Binns é o mestre das bijus chiques com preço de joias verdadeiras e que fazem bonito nos tapetes vermelhos
No universo etéreo do mundo da moda, conquistar uma celebridade como cliente significa aumentar os lucros de forma concreta. As perspectivas crescem quando, no caso, a pessoa em questão é Michelle Obama, a primeira-dama dos Estados Unidos e uma mulher reconhecidamente elegante. Em encontros oficiais e visitas de Estado, ela costuma brilhar — no sentido literal da palavra — com bijuterias de um de seus designers prediletos: Tom Binns. Em jantar com a rainha Elizabeth II em 2011, a mulher de Barack Obama usou um colar de cristais que mais parecia uma instalação surrealista (na verdade, a peça foi inspirada em Margaret Dumont, atriz de comédia da Hollywood dos anos 30 e 40). Custa 5 500 reais. A rainha da Inglaterra, por sua vez, tinha o pescoço decorado com um conjunto de pérolas e de esmeralda scolombianas avaliado em 5 milhões de dólares. “Michelle é fã do meu trabalho porque tem senso de humor”, diz Binns. “Ela conhece a integridade da peça e sabe a minha história.”
Este senhor de olhos azul-turquesa e voz grave (que não revela a idade “nem sob tortura”) é, antes de mais nada, um artesão. Seus dedos têm cicatrizes por causa da prática de cortar, polir e lapidar matérias-primas como prata, cristal, cobre, pedaços de vidro e pérolas de plástico. O designer que faz celebridades do quilate de Julia Roberts, Anne Hathaway e Beyoncé preterir joalherias tradicionais como Cartier e Van Cleef & Arpels nasceu em Belfast, a capital da Irlanda do Norte. Seu pai, ex-marinheiro do Exército britânico, trabalhava na construção civil, enquanto a mãe cuidava dos cinco filhos. De origem protestante, Binns estudava e vivia em bairro onde todos os vizinhos compartilhavam a mesma religião. Segregar-se em guetos era a consequência da guerra religiosa com os católicos. “Minha família não tinha dinheiro para comprar brinquedos para todos os filhos”, conta. A necessidade fez com que ele descobrisse sua vocação. O garoto pegava restos de ferro e madeira nas ruas, ou de brinquedos quebrados de vizinhos mais privilegiados, para construir carrinhos e bonecos. “Basicamente, hoje faço a mesma coisa”, diz ele. “Só que com acessórios.”
No fim dos anos 70, quando o conflito piorou e as bombas explodiam com mais frequência, ele se mudou para Londres. Lá, cursou faculdade de desenho de joias na Middlesex Polytechnic. Nos anos 80, desenvolveu acessórios para a butique do então casal-sensação Vivienne Westwood, estilista precursora da estética punk, e Malcolm McLaren, produtor do grupo Sex Pistols. “Os cantores Boy George e Duran Duran, que andavam fantasiados nas ruas, eram meus clientes.” Nos anos 90, quando grupos terroristas irlandeses cometeram ataques na capital inglesa, Binns fez suas malas rumo a Nova York, onde desenvolveu coleções em parceria com o estilista Narciso Rodriguez. Com o ataque de 11 de setembro, decidiu mudar-se de lá. “Sempre fugi de encrenca.”
O homem que basicamente se veste de roupas pretas ou brancas vive hoje na solar Venice Beach,na Califórnia. Seu ateliê de 1 000 metros quadrados fica a uma quadra da praia, frequentada por uma juventude loira e bronzeada. “Aqui, vejo os hippies, os skatistas, os surfistas. Todos me inspiram.” O colorido da natureza local e do visual de seus habitantes está nas coleções de Binns. Desde 2004, ele se associou a Cristina Viera-Newton para reestruturar a grife. Ex-modelo brasilera que trabalhou como relações-públicas da grife de Valentino, ela fica responsável por comercializar e divulgar a marca, que faz dois showrooms por ano em Paris. “Binns cria e desenvolve o produto, eu boto no mercado”, diz ela, moradora de uma mansão em Santa Monica. As duas coleções anuais têm 480 itens, e cada um deles é produzido apenas trinta vezes. Há também as peças únicas, que chegam a custar 10 000 reais. São as preferidas de Michelle Obama.“Tudo o que ela veste se esgota em menos de uma semana nas lojas”, conta Cristina. A explicação para os preços é que toda a produção das bijus é feita nos Estados Unidos. “Sou leal ao país no qual escolhi viver e onde posso desenvolver meu trabalho”, afirma Binns, que não faz bijus para parecer joias de verdade. Mas, muitas vezes, isso ocorre. Em 2009, na saída do desfile da Chanel, em Paris, a editora de moda inglesa Suzy Menkes bateu o olhos nos brincos que a socialite Andrea Dellal usava e disse: “Como você ousa exibir esmeraldas tão grandes com o mundo acabando em crise?”. Andrea retrucou: “Querida, isso é apenas um pedaço de vidro verde”. Além de bijus estupendas, Binns vende ironia.