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A Liberdade é pop

Por Matthew Shirts
Atualizado em 5 dez 2016, 16h05 - Publicado em 26 abr 2013, 17h27

Basta sair na escadaria da Estação Liberdade do metrô, em São Paulo, para chegar ao exterior. Parece mágica. Ou um romance. Não há alfândega, nem avião. Mas a sensação é cristalina. Começa com o visual “temático” da agência do banco, passa pelos postes de luz típicos, pelo cheiro, pelo supermercadinho japonês logo ali e se confirma através da limpeza do chão. A Praça da Liberdade é muito arrumadinha, privilégio reservado a poucos lugares no centro da nossa querida cidade.

Fazia tempo que eu não descia do metrô na Liberdade. Tinha ido em busca de uma esponja com cabo, dessas de ensaboar as costas debaixo do chuveiro, sabe qual é? Onde se encontra um negócio desses? Desconfiava que houvesse naIkesaki, uma loja de cosméticos e produtos para o cabelo na Galvão Bueno, próximo à Rua dos Estudantes. Quem olha da calçada não dá muito pela loja. Basta entrar, no entanto, e ir descendo a rampa de andar em andar para conhecer um mundo novo. Parece filme.

Quem me levou lá pela primeira vez foi minha filha, Maria, ainda pré-adolescente. Faz dez anos. Um amigo dela, da mesma idade, aspirante a cabeleireiro, precisava de uma ajuda adulta para comprar uma peruca própria para treinar penteados. Ele sabia onde encontrar. Perguntou se eu os levaria. Levo, é claro, respondi. Nossa pequena expedição prometia emoções multiculturais. Não decepcionou.

A Ikesaki teria a esponja, pensei, na semana passada, quiçá uma seção inteira de esponjas com formatos e finalidades diversos. Mas me perdi no caminho entre litros de óleo de argan e as tesouras Matsubaki, que chegam a custar 1 000 reais. Quando indago o motivo do preço, a atendente responde de bate-pronto: “São feitas do mesmo aço das espadas dos samurais”. Quem olha acredita.

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A cultura da Liberdade é outra, como dizia. Uma das lojas ali na praça se chama Lucky Cat, ou Gato da Sorte. No Ocidente, o gato, quando muito, traz azar. Os supermercadinhos são exóticos e irresistíveis. Parecem o Japão. O arroz fica na entrada, em lugar de destaque, ao lado dos lindos cogumelos shimeji e das maçãs sejaiiyi, gigantes. A fila é única naquele a que eu fui, na semana passada, o Marukai, organizada para maximizar a eficiência por uma funcionária com patrocínio de uma marca de arroz no uniforme. Não é de bom-tom se distrair na fila, diga-se. Era longa, umas quinze pessoas, quando fui, às 10 horas da manhã da quarta-feira, com direito a japoneses, brasileiros e gringos de toda parte. Comida japonesa é pop. Os supermercadinhos da Liberdade vendem cada coisa melhor que a outra. São o paraíso do miojo, por exemplo. Serve-se saquê nos corredores desde cedo. “Fiz uma caipirinha”, diz a moça vestida de quimono a um japonês velhinho e animado. “Ou o senhor vai preferir puro?” Achei invasivo aguardar a resposta. Mas, se tivesse de apostar, colocaria as fichas no puro. As verduras são sempre belas, também, e sempre um pouquinho exóticas, maiores ou menores, muito limpas.

Achei a esponja. Comprei também grãos de café cobertos com chocolate para os meus colegas de trabalho. São gostosos. Deixam a gente pilhada, tal como o bairro.

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