O Tinder que se cuide: novo aplicativo de paquera cresce rápido em SP
Com cerca de 800 000 usuários na capital, o Happn planeja chegar à liderança dos aplicativos de paquera por aqui. Conheça os paulistanos mais cobiçados da rede
Quando o analista de recursos humanos Richard Jones, de 34 anos, quer paquerar as garotas interessantes das esteiras da Bodytech, da Vila Olímpia, ele tira o celular do bolso. Inscrito no Happn, aplicativo de encontros que vem fazendo sucesso na cidade, quer saber quais colegas de treino passaram pelo endereço nas últimas horas e também estão em busca de um romance. “Essa academia é um dos pontos onde costuma aparecer o maior número de garotas bonitas e, é claro, com corpo bem cuidado”, diz.
+ 7 festas juninas para levar seu amigo hipster
+ Avenida Paulista, o novo paraíso dos camelôs
Sua cotação está em alta: ele ocupa o quarto lugar entre os homens da capital mais assediados por meio da plataforma, segundo levantamento feito para VEJA SÃO PAULO pela empresa responsável pelo serviço. Em pouco menos de um ano, Jones já recebeu 2 480 “charmes”, que são manifestações de pessoas interessadas em seu perfil. Quando isso ocorre, pipoca no celular um aviso. Desse total de mensagens recebidas, ele calcula que dez resultaram em encontros ao vivo. “Fiquei com todas elas, exceto uma que era evangélica”, conta Jones, que continua solteiro e sempre de olho na telinha do aparelho.
Uma das vantagens do Happn é identificar as pessoas com as quais o usuário esbarrou na rua e determinar a frequência com que isso aconteceu. Assim, é possível saber se elas estão sempre naquele shopping ou vivem no mesmo bairro, por exemplo. Na concepção do negócio, isso ajuda a selecionar parceiros(as) não só por proximidade geográfica, mas também por áreas de interesse e hábitos em comum.
Criado em Paris, em janeiro de 2014, o aplicativo ultrapassou a marca dos 18,5 milhões de solteiros (ou comprometidos que escondem a aliança…). Com aproximadamente 800 000 inscritos, a cidade de São Paulo tornou-se, em janeiro deste ano, a campeã mundial em número de adeptos, à frente de Buenos Aires (650 000), Londres, Paris e Istambul (600 000). Por mês, 50 000 novos paulistanos embarcam na ideia. Por aqui, 60% são homens e 40% mulheres, e a faixa predominante é a de 26 a 35 anos (quase a metade do total).
+ Quermesse do Calvário: a festa que une hipsters e nonnas
A maioria acessa o programa uma vez a cada três horas — o Dia dos Namorados, celebrado neste domingo (12), e o Carnaval registram o auge de atividade. “Os brasileiros mostram-se um povo extrovertido e muito sociável, mas não esperávamos essa avalanche de usuários”, admite a francesa Marie Cosnard, diretora de tendências da empresa.
Segundo um levantamento do Núcleo de Estudos e Tendências da Atento, empresa de tecnologia, o Happn é a quinta ferramenta digital mais usada por quem quer encontrar a cara-metade no Brasil. As primeiras são Facebook, WhatsApp, Tinder e Instagram. Considerando-se apenas os aplicativos criados sob medida para a paquera, o Happn fica atrás somente do Tinder, que não divulga o número de inscritos (em março de 2014, havia na cidade cerca de 3 milhões de usuários, segundo estimativa da época).
Na Apple Store, o Tinder aparecia na semana passada em 28º lugar entre os programas grátis campeões de downloads no país, enquanto o concorrente francês estava bem atrás, na 58ª posição. “A tendência é que as pessoas mais velhas, as últimas a descobrirem o Tinder, fiquem ainda um tempo por lá, enquanto os jovens migram em peso para a novidade”, afirma Gil Giardelli, professor de inovação digital da ESPM.
+ Avenida Paulista terá exposição com 320 gatos de raça e vira-latas. É grátis
A farmacêutica Andressa Hornung entrou para o Happn há onze meses e abandonou o aplicativo rival. Aos 28 anos, essa paranaense moradora do Jardim Paulista, com 62 quilos em 1,67 metro de altura, é a campeã em quantidade de “charmes” recebidos na cidade. Foram 5 284 interessados no período, uma média de quase vinte por dia. Ela conta que respondeu a quatro paqueras até agora e todas evoluíram para um encontro — três delas com beijo na boca e nenhuma transformada em namoro.
“Procuro um relacionamento sério, mas sou bem seletiva e não estou com pressa”, avisa a musa do Happn. Não foi para a frente, por exemplo, o lance rápido com um dentista que ela avistou primeiro em um restaurante no Itaim e depois no consultório dele, aonde chegou como paciente. Acabou virando amizade. “De quebra, ganhei um dentista bonito.”
O analista do mercado financeiro Michael Fraser, de 33 anos, americano radicado por aqui desde 2013, compôs o seu perfil com uma foto de aventura, no topo de uma montanharepleta de neve, durante um passeio de esqui. A isca funcionou, e, desde junho de 2015, Fraser conseguiu 2 365 “charmes”, a sexta maior marca da capital. Sua experiência serve como dica para quem quer se dar bem.
“Acho legal quem mostra os hobbies. É mais fácil escolher pessoas com as mesmas afinidades”, ensina. A estratégia rendeu-lhe cerca de quarenta encontros. “Gosto de chamá-las para praticar esporte comigo ou tomar uma cerveja no barzinho aqui perto.” Com esse desempenho, não é de estranhar que ele só tenha elogios à plataforma. “Ela veio para ajudar”, comenta.
+ 20 sites e eventos de troca de produtos e serviços na capital
Roberta Chede, de 19 anos, não se deu bem com o negócio. A estudante de arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, morena de olhos castanhos e cabelos longos, soma 2 400 fãs. “Mas eu não costumo me entusiasmar por ninguém, é meio frustrante”, relata. Roberta chega a contabilizar dez “charmes” cada vez que vai às aulas (é a 13ª no ranking feminino na metrópole). “De todos os que mostraram interesse, só cheguei a conversar com três e sair com um.”
Bastou esse único cara a cara para ela cair em uma pegadinha recorrente em aplicativos de relacionamento. “Marcamos em uma festa, mas, quando cheguei lá, ele estava totalmente diferente da foto, nem reconheci”, conta a estudante. “Só havia duas imagens e nenhuma delas estava em boa qualidade. Nunca mais caio nessa.” Depois da experiência ruim, ela fica atenta à aparência dos pretendentes, aos locais por onde eles passaram e se há amigos em comum (outra informação disponível) para melhorar a investigação.
Diferentemente do Tinder, o Happn não obriga os candidatos a ver apenas uma pessoa por vez. Os indicados surgem na tela às dezenas, em um mosaico atualizado a todo o tempo. Se alguém não for marcado ao aparecer ali em determinado dia, poderá mesmo assim voltar ao cardápio. “A ideia é dar uma segunda chance de abordar aquela pessoa em que ficamos interessados mas com quem não tivemos coragem de falar numa festa ou no caminho para casa”, explica a relações-públicas Marie.
+ Fique por dentro das novidades do Masp em junho
O cadastro é rápido. É possível entrar com o nome de usuário e a senha do Facebook. O aplicativo passa a ter acesso aos dados da página, como gostos, nome, idade e profissão. Para montar o perfil, podem-se usar até nove fotos que estejam na rede social ou outras da sua biblioteca de imagens, e também inserir um slogan, ou melhor, umafrase. Em seguida, são escolhidas as preferências, que são: homem ou mulher (ou ambos) e idade.
O “charme” é um recurso pago. Cada pacote com dez créditos custa 1,99 dólar (cerca de 7 reais) e o de 250 sai por 36,99 dólares (129 reais). Isso significa que os admiradores da campeã Andressa investiram, juntos, ao menos 2 726,54 reais para declarar sua simpatia por ela. Há, porém, um botão gratuito, o crush. Funciona como o match do Tinder: a pessoa só saberá do interesse caso ela também tenha marcado o pretendente.
Mesmo com a multiplicação de usuários e a venda desses atalhos premium, o aplicativo ainda não opera no azul. “É difícil introduzir publicidade em uma plataforma como essa sem deixar clientes irritados, por isso estamos estudando campanhas que se adaptem à nossa estrutura”, afirma Marie. Essa situação comercial desfavorável pode virar rapidamente. Em 2015, por exemplo, o Happn recebeu na França um aporte de 12,5 milhões de euros liderado pela Idinvest, com a participação de outras empresas e investidores individuais.
Geografia da azaração
A Avenida Paulista é o local da cidade onde os usuários mais se esbarram. Abaixo, os outros seis maiores do ranking:
2º Alto da Lapa
3º Cidade Universitária
4º Vila Olímpia
5º Itaim Bibi
6º Pinheiros
7º Barra Funda