“É o disco mais diferente da minha carreira”, diz o rapper Rodrigo Ogi
Confira a entrevista com o artista paulistano que lança, nesta quarta-feira (27), o álbum 'Aleatoriamente', produzido por Kiko Dinucci
O rapper Rodrigo Ogi lançou nesta quarta-feira (27) o seu novo disco, Aleatoriamente (2023), com participações de Juçara Marçal, Russo Passapusso, Siba, Tulipa Ruiz, Don L e Thiago França.
No álbum, o artista paulistano — um dos nomes mais relevantes do hip hop nacional — evoca temas como a precarização de trabalho, a morte e o amor em doze faixas inéditas, com produção de Kiko Dinucci, integrante do Metá Metá.
A atmosfera sombria, representada nos visualizers (acima) que acompanham as faixas no Youtube, transmitem ideias gestadas pelo compositor nos últimos três anos — o álbum começou a ser feito ainda em 2019.
O projeto também conta com a colaboração de Alana Ananias, DJ Nato PK e Nave. Confira a entrevista com o rapper ao final deste texto.
Foi ainda nos anos 90 que Ogi começou a pixar e rimar na capital paulista, mas foi no início dos 2000 que começou sua carreira musical. Seu disco de estreia viria em 2011, o aclamado Crônicas da Cidade Cinza, dedicado à cidade de São Paulo.
Desde então, lançou outros dois álbuns: R Á! (2015) e Pé no Chão (2017). Em 2021, sua canção Crash, gravada por Juçara Marçal no disco Delta Estácio Blues (2021), ganhou o Prêmio Multishow na categoria Canção do Ano.
O show de lançamento de Aleatoriamente acontecerá no dia 27 de outubro, no Sesc Pinheiros. Os ingressos começam a ser vendidos no dia 17. 12 anos. Sesc Pinheiros. Rua Pais Leme, 195, Pinheiros, ☎ 3095-9400. ♿ Sex. (27), 21h. R$ 40,00. sescsp.org.br.
Como foi o processo de produção de Aleatoriamente (2023), ao lado de Kiko Dinucci?
É o disco mais diferente da minha carreira. Procurei o Kiko justamente para chegar nesse resultado, e fugir do que eu já tinha feito. Eu criei as letras em cima de baterias ou loops — ele pegava isso e alterava tudo, mantendo somente as melodias e harmonias. Toda vez que eu criava algo mais convencional, ele dizia: “Não, não é esse o caminho”. Levamos um tempo até ter esse entrosamento, porque estava com a minha cabeça muito na minha zona de conforto. Quando nos acertamos, a coisa começou a fluir mais. É um disco que eu não criei expectativa alguma, mas fiquei satisfeito com o resultado.
As letras desse disco seguem uma linha narrativa e muito visual, diferente de outros trabalhos seus. Como você chegou nisso?
Talvez seja o meu melhor momento de escrita, o mais maduro. Daqui para frente as coisas vão caminhar de outro jeito nas minhas letras. Elas falam de temas desde a precarização do trabalho até as coisas do coração, mas sempre com aquela coisa lúdica, um realismo fantástico. São várias nuances, camadas, as faixas vão conversando umas com as outras. Eu descobri um método de criação que funciona bem: sentar e trabalhar, para não enferrujar a escrita, e ler. Eu já lia bastante, mas passei a pegar livros e anotar as ideias que surgem, mesmo que não tenham nada a ver com a música que vou compor. A leitura me dá muitos insights, parece ser a fagulha elétrica que faz a coisa fluir.
Em Chegou sua vez e Valha-me, você cita um personagem chamado “João Queiroz Muniz”. Quem é essa pessoa?
É um personagem baseado nesse povo bolsonarista, conservador, que acha que bandido bom é bandido morto e que tudo é “Deus, Pátria e Família”. Essas pessoas que não perceberam o quanto estavam sendo destruídas e trataram o seu algoz como o seu salvador.
Por que escolher Aleatoriamente como o título do disco?
Aleatoriamente foi uma das últimas faixas que fizemos. Nós pensamos em vários nomes, e, como eu falo muito da morte nessas músicas, queria seguir essa linha. Mas o álbum foi tomando outra forma, e fiz essa música sem roteiro, percebendo esse fator aleatório de pensamentos. Escolhi esse nome pelo disco ser bem diverso nos temas, e esse título casar perfeitamente com isso. Essa faixa é uma viagem mental, com vários pensamentos ao mesmo tempo.