“A minha escrita é muito maior que eu”, diz Rico Dalasam, que lança disco
O rapper paulista faz dois shows do álbum 'Escuro Brilhante' neste final de semana, no Sesc Vila Mariana; confira a entrevista
Rico Dalasam apresenta o show do seu novo disco, Escuro Brilhante, em duas sessões no Sesc Vila Mariana neste sábado (2) e domingo (3).
O álbum do rapper, cantor e compositor paulista, que ainda não foi lançado, irá fechar a trilogia aberta com Dolores Dala Guardião do Alívio (2021), e continuada com o EP Fim das Tentativas (2022).
Em entrevista à Vejinha, o artista deu detalhes sobre o novo trabalho, que terá dez faixas inéditas, incluindo o single pop Espero Ainda. “Não tem nada triste dessa vez”, adianta o músico.
As novas músicas estarão no repertório da apresentação, além de hits anteriores como Braille e Expresso Sudamericah. 12 anos. Sesc Vila Mariana. Rua Pelotas, 141, Vila Mariana, ☎ 5080- 3000. ♿ Sáb. (2), 21h. Dom. (3), 18h. R$ 40,00. sescsp.org.br.
O que podemos esperar do seu novo disco, Escuro Brilhante?
Esse álbum pinça os intervalos de tempo em que percebi uma capacidade nova de viver coisas boas e especiais. Lembrar virtudes que ficam apagadas. Eu juntei esses intervalos de situações boas, passei a percebê-los. É dessa ordem de acontecimentos que se trata o disco: o exercício de se lembrar o próprio brilho. São dias ensolarados após três anos de uma narrativa dolorosa, de coisas tristes. É também um reencontro com os acabamentos populares, com uma quantidade de palavras menor para construir os refrões. Eu abro mão da complexidade para contar as histórias de maneira objetiva.
Porque você decidiu começar a turnê antes de lançar o disco?
Eu coloquei as músicas para a prática. Esse movimento está fora da lógica fonográfica. Eu respeito e trato muito o meu poema, e tento dar muitos caminhos para ele antes de virar um fonograma. Essa é a hora da palavra, do poeta, de outras coisas que o fazer mercadológico descarta. Eu quero muito ter um disco com mais tempo de respiro, antes que ele perca força de movimento. Quando você junta 2 400 pessoas em um local, como foi na Audio (estreia da turnê em julho), tem uma outra lógica. Perceber a contemplação, a facilidade com que se aprende um refrão, o quanto aquela música tem um impacto instantâneo, tudo isso. São muitas interrogações na produção de um disco. Eu nunca tenho dúvidas com os meus poemas — penso que a minha escrita é muito maior que eu, inclusive. Mas, nas outras coisas, eu carrego incertezas.
Como a resposta do público contribui na finalização do disco?
A gente deve estar no sétimo show do Escuro Brilhante, e as pessoas têm demonstrado suas reações. Percebi que algumas faixas precisavam de definições, e mexi nelas. Mas, com isso, a parte visual me iluminou outras camadas e caminhos. Falta só isso para lançar, penso que não tem mais o que adiar.
Qual a sua visão sobre as pressões do mercado musical sobre os artistas, nos lançamentos?
Uma aplicação de botox dura em média três meses. Uma aplicação de um ácido dura em média um ano a dois, se você tiver uma produção de colágeno bem ativa no seu corpo. São poucas as jaquetas de oito anos atrás que se mantém no guarda-roupas das pessoas, por mais que você goste. Às vezes eu ouço um disco muito rapidamente, e já salvo quatro músicas, talvez cinco, se ele me amarrou muito. Ali eu percebo que descartei o trabalho de várias pessoas. O tempo fonográfico é assim, mas o tempo da arte não. Por isso os discos importantes ganham vida nova de geração para geração. A gente é condicionado a valorizar restos, de roupa, de tecnologia — porque não faríamos isso na música? Estamos habituados a ver isso, uma música com sabor de resto. Para ela chegar com sabor de degustação inédita, vai precisar do efeito do tempo.