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Em Terapia

Por Arnaldo Cheixas Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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A seleção brasileira precisa de apoio psicológico?

Choro de Neymar coloca a questão novamente em pauta

Por Arnaldo Cheixas
Atualizado em 29 jun 2018, 18h07 - Publicado em 29 jun 2018, 18h03
 (RODOLFO BUHRER/FOTOARENA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO/Veja SP)
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Neymar chorou copiosamente na semana passada assim que o juiz apitou o fim do angustiante jogo vencido pela seleção brasileira contra a Costa Rica (2X0).

Os dois gols marcados só saíram nos acréscimos do jogo. Não houvesse vencido, a seleção teria ficado em situação complicada, com poucas chances de ultrapassar a fase de grupos da Copa.

Verdade que Neymar e toda a seleção são bastante cobrados. Há muita pressão. O futebol é tão fortemente fincado na cultura brasileira que criticar e duvidar da seleção é um jeito de se proteger de qualquer possível frustração que resultados ruins produzam. Apesar de o futebol ser só um esporte, os desdobramentos do desempenho do time parecem se espalhar para todo o resto da vida brasileira. Quem aguenta perder para a Argentina de peito aberto? Então melhor já preparar o psiquismo para encarar essa possibilidade. “Mas eu não disse?”, “eu já sabia”, “ainda bem que eu já estava torcendo contra!”… E assim vai a relação dos brasileiros com a equipe nacional.

Em 2014 também teve muito choro. Primeiro de Thiago Silva na vitória por pênaltis contra o Chile e, depois, de vários jogadores no histórico 7 X 1 imposto pela Alemanha. Não é errado chorar no esporte assim como não é errado chorar na vida. Chorar é uma expressão legítima de sentimentos e emoções. Oscar chorou quando o Brasil bateu os Estados Unidos no basquete na final dos Jogos Pan-Americanos de 1987, Senna chorou em sua última vitória em Interlagos. Até Pelé chorou como criança quando marcou seu primeiro gol em Copas no ano de 1958!

Essencialmente o choro é uma resposta autonômica do sistema nervoso, completamente involuntário. Mas, assim como outros comportamentos involuntários, eles podem ser modulados pela consciência. Que o digam as crianças que aprendem a modular o choro para conseguir que os adultos satisfaçam suas vontades e também os atores, que aprendem com o treino a controlar quando as lágrimas devem aparecer.

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Muitos dizem que Neymar estava fingindo o choro. Outros dizem que ele estava descontrolado. Outros ainda dizem que foi um momento muito bonito de demonstração de humanidade e comprometimento. Não pretendo aqui a impossível tarefa de dizer quem está certo mas vou colocar alguns pontos que me parecem relevantes nessa reflexão:

1. A única pessoa que pode dizer se o choro do Neymar foi sincero ou simulado é o próprio Neymar. Ninguém tem capacidade para julgar o choro de outra pessoa. Podemos interpretar e inferir a partir do que percebemos da realidade mas a resposta só a pessoa que chora tem.

2. Por ser o principal jogador da equipe e um atleta diferenciado, parte da gigantesca pressão que existe sobre a seleção brasileira se transfere para Neymar individualmente.

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3. Essa pressão gera uma sensação de que ele tem de dar conta de resolver todas as partidas nas quais o time encontre seus limites. Ele não deveria se sentir tão responsável.

4. Essa pressão também faz com que Neymar sofra muitas críticas por comportamentos privados seus e que não tem vínculo com a discussão sobre o futebol. Um exemplo foi o quanto se discutiu sobre o novo corte de cabelo que ele usou no primeiro jogo do Brasil na Copa. O cabelo de Neymar, assim como deveria acontecer com qualquer pessoa, é uma questão inteiramente dele. Podemos discutir seu desempenho como atleta, podemos discutir se ele sonegou ou não impostos, podemos discutir se ele chegará a alcançar a chuteira de ouro da Fifa… Mas jamais podemos discutir seu corte de cabelo, com quem ele namora ou que lugares ele frequenta.

5. O que me preocupa é que Neymar parece lidar de forma muito despreparada com essas questões. Logo após o jogo, ao perceber que seu choro estava sendo criticado, ele publicou um tweet desabafando. Disse que ninguém sabe tudo o que ele passou para poder disputar a Copa (houve incerteza já que ele precisou se recuperar de uma cirurgia para poder se integrar ao grupo), usou expressões duras como “falar até papagaio fala…”. Para quem ele está respondendo? Ele não deveria gastar tanta energia com questões assim. E, quanto mais ele repercutir esse tipo de crítica, mais elas acontecerão. Sem perceber ele acaba por reforçá-las.

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6. O que me assusta é que se fala sobre a necessidade de Neymar amadurecer desde que ele era um garotinho jogando pelo Santos. O que me assusta é que, depois de descobrirmos por causa do “sete-a-um” que a CBF não tem psicólogos na Seleção, quatro anos se passaram, estamos em outra Copa do Mundo e a CBF continua sem um trabalho de psicologia do esporte para seus times.

Já naquela ocasião (em 2014!!!) o psicólogo do esporte Eduardo Cillo fez um apelo aqui mesmo neste espaço para que deixássemos de lado o jeitinho brasileiro e para que um trabalho sistemático de psicologia do esporte fosse inserido pela CBF em suas diversas equipes nacionais. Isso é realmente incompreensível.

Bom, temos de novo mais quatro anos até a Copa de 2022. E não digo isso por achar que o Brasil não tenha condições de vencer o torneio desse ano. Ele tem e eu espero que vença! Ainda assim, não se pode mais admitir a ausência da psicologia do esporte na comissão técnica da seleção. Seus benefícios já não poderiam ser percebidos na Copa do Mundo de 2018, mas há tempo suficiente até 2022. Basta começarmos logo!

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