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Em Terapia

Por Arnaldo Cheixas Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Terapeuta analítico-comportamental e mestre em Neurociências e Comportamento pela USP, Cheixas propõe usar a psicologia na abordagem de temas relevantes sobre a vida na metrópole.
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Saber dizer “não”

Quem nunca entrou numa roubada? Pode-se entrar de forma totalmente involuntária. Mas também é possível entrar numa por não avaliar bem determinada situação antes de se envolver nela. Isso pode acontecer quando a pessoa tem dificuldade de dizer “não” ao outro ou quando, na verdade, não avalia bem os riscos presentes nas situações nas quais […]

Por VEJA SP
Atualizado em 26 fev 2017, 22h29 - Publicado em 18 mar 2014, 22h11
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Quem nunca entrou numa roubada? Pode-se entrar de forma totalmente involuntária. Mas também é possível entrar numa por não avaliar bem determinada situação antes de se envolver nela. Isso pode acontecer quando a pessoa tem dificuldade de dizer “não” ao outro ou quando, na verdade, não avalia bem os riscos presentes nas situações nas quais se envolve. Tanto uma postura quanto a outra acabam por produzir em algum momento problemas difíceis de administrar e que atrapalham a vida da pessoa. Problemas financeiros, constrangimentos, insatisfação por ter de fazer algo que na verdade não era desejado etc. Como lidar com isso?

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No desenho Bob Esponja, o maior amigo do protagonista é Patrick, uma simpática e ingênua estrela do mar. Patrick está sempre animado com tudo o que lhe propõem. Raramente entende as confusões nas quais se mete. Outra característica de Patrick é seu excessivo otimismo. Mesmo que algo não esteja dando certo, basta um mínimo sinal positivo para que ele imediatamente renove sua motivação e se engaje novamente com toda energia no seu objetivo, que raramente é alcançado. Há um episódio no qual Patrick acredita cegamente que será promovido ao cargo de gerente da lanchonete em que trabalha. Embora os sinais apontem para a impossibilidade disso acontecer, ele alimenta por dias essa expectativa. Ele só entra em contato com a realidade no dia em que o dono da lanchonete anuncia o nome do escolhido para o cargo. Patrick fica completamente entristecido ao receber a notícia de que não será ele o gerente. No seu caso, ele rapidamente acaba se engajando em outra situação e a tristeza é superada. Mas será assim nas nossas vidas?

patrick

Tem um aspecto que faz bastante sentido na postura de Patrick, considerando que se trata de uma estrela-do-mar, animal do filo dos equinodermos. O sistema nervoso dos equinodermos é ganglionar, ou seja, não há uma estrutura central como o cérebro que integre de forma complexa as informações recebidas de modo a permitir a elaboração de comportamentos também complexos. Não há inibição do comportamento. Eles respondem de maneira quase imediata aos estímulos do ambiente.

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No caso do humano, embora haja a capacidade de inibição de comportamentos devido à presença de estruturas mais recentes na evolução (áreas cerebrais frontais), há também estruturas primitivas homólogas àquelas encontradas em outras espécies como a estrela-do-mar. Essas estruturas mais primitivas, embora sejam moduladas por funções centrais, influenciam bastante nosso comportamento. Se não aprendemos a controlá-las, as respostas disparadas por elas (agressividade, impulso motor, fuga) podem não ser benéficas em certas situações.

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Para além desses fatores da evolução do sistema nervoso, elementos da vida social e do próprio psiquismo também influenciam o modo como tomamos decisões. Quando não treinamos a reflexão, também respondemos de forma imediata a situações diversas, o que acaba por nos colocar em situações nas quais não desejaríamos estar. Para evitar isso numa situação de tomada de decisão, é importante um treino em separar o que é seu daquilo que é do outro ou que está fora de seu controle. Atrasar a resposta a uma proposta feita ajuda muito nesse treino. Empolgação excessiva do outro mostra que você deve ir com calma. Frases como “Cola na minha que cê tira dez!”, “Eu tenho um plano!” ou “Não tem erro!” são ótimos indicativos da necessidade de alerta. Ao atrasar os comportamentos (e decisões), você terá oportunidade de avaliar melhor as consequências mais prováveis de sua escolha e, assim, evitar maiores problemas. Dizer “sim” indiscriminadamente é sempre perigoso. O exercício do “não” evita gasto de energia com problemas desnecessários, permite o engajamento em situações mais prazerosas e garante disposição para a resolução dos problemas realmente inevitáveis. Patrick Estrela… só no desenho.

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