‘Choking game’: a morte rondando os adolescentes
O país começou a semana chocado com a notícia da morte de um adolescente de 13 anos que, ao tentar produzir asfixia em si mesmo por enforcamento como parte de um jogo, acabou perdendo o controle da situação, resultando em um fim trágico. Alguns pacientes andam me perguntado se quem faz isso tem algum problema psicológico. O grupo de […]
O país começou a semana chocado com a notícia da morte de um adolescente de 13 anos que, ao tentar produzir asfixia em si mesmo por enforcamento como parte de um jogo, acabou perdendo o controle da situação, resultando em um fim trágico. Alguns pacientes andam me perguntado se quem faz isso tem algum problema psicológico.
O grupo de amigos, que estava jogando League of Legends na internet, combinou que o “castigo” para quem perdesse seria cumprir o desafio do choking game (conhecido no Brasil como jogo de asfixia ou jogo do desmaio). Ele consiste em produzir uma hipóxia cerebral voluntária e transitória com o objetivo de alcançar uma espécie de “barato”.
A hipóxia cerebral nada mais é do que a diminuição da disponibilidade de oxigênio no cérebro. Esta condição é extremamente perigosa porque pode evoluir para uma anóxia (a ausência completa de oxigênio no cérebro), o que produz lesões irreversíveis e a própria morte. O meio mais simples de produzir a hipóxia é a asfixia mecânica, ou seja, interrupção da respiração.
A perigosa brincadeira tem sido registrada desde 1995 nos Estados Unidos e se espalhado para outros países desde então. É comum entre adolescentes (11 a 17 anos), que produzem a asfixia por meio principalmente do estrangulamento. Para isso usam cintos de calças, coleiras de cachorros, cordas ou até mesmo lenços, como é comum na França. A ação quase sempre é feita na companhia de amigos, que auxiliam a alcançar a hipóxia comprimindo o peito do colega (ou dando um abraço forte, que impede a expansão dos pulmões).
Os Estados Unidos registraram 82 mortes (entre 6 e 19 anos) como resultado direto do choking game entre 1995 e 2007, sendo que a maioria era meninos que estavam sozinhos ao praticar a asfixia. É importante ressaltar que o objetivo não é se suicidar mas sim uma condição transitória de inconsciência que acaba por gerar um estado de letargia, euforia ou “barato”.
Também vale dizer que, no caso ocorrido nesta semana no Brasil, a causa da tragédia não foi o jogo League of Legends mas sim o choking game, utilizado como “castigo” para o perdedor do jogo.
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Não há estudos suficientes que demonstrem claramente as razões que motivam os adolescentes a praticarem o desafio da asfixia nem se a prática está associada a transtornos mentais mas podemos especular um pouco.
Os adolescentes que participam da brincadeira nem sempre aparentam apresentar problemas psicológicos mas parece haver uma correlação entre a prática do jogo e o abuso de substâncias químicas e um histórico prévio de abuso sexual. Como a asfixia pode produzir eventuais alucinações, o jogo pode ser um meio de se produzir os mesmos efeitos que as drogas mas sem a necessidade de consumi-las.
É interessante também refletir sobre o fato de a maioria das vítimas bem como dos praticantes serem meninos. O contexto do jogo, de desafio aos limites do corpo pelo estado de quase-morte, pode ser fomentado pelos padrões de representação tradicionais de masculinidade, de acordo com os quais os meninos são frequentemente desafiados pelo grupo a se arriscarem em ações perigosas, potencialmente fatais no caso do choking game.
Sinais de que seu filho ou sua filha podem estar praticando o choking game são a presença de marcas no perímetro do pescoço bem como a presença dos materiais citados anteriormente (cintos, cordas, lenços…) e que até então não faziam parte do cotidiano do adolescente.
Ainda estamos aprendendo sobre o jogo (porque os registros são poucos e relativamente recentes) mas a presença dos pais na vida dos adolescentes é sempre essencial e a atenção a mudanças de comportamento – normais nesta faixa etária- devem ser condutas permanentes. A participação no cotidiano precisa se dar de forma agradável e não simplesmente com o objetivo de fiscalizar as ações dos filhos.