Edifício Bretagne traz ares de cenário de Hollywood, pompa e bom humor
A façanha é do arquiteto João Artacho que ousou ir além, na década de 1950, das obras de influências modernistas e neoclássicas ao redor
Era dezembro de 1950 quando foi publicado o primeiro anúncio do Edifício Bretagne, na Avenida Higienópolis. Uma fração mínima de paulistanos morava em prédios, e o nascente mercado imobiliário queria saber o que vendia. De um lado, edifícios modernistas ou influenciados pelo art déco. De outro, neoclássicos como o São Thomaz, na Praça da República, entregue em 1949. O arquiteto autodidata e construtor João Artacho Jurado inventou sua terceira via — com ares de cenário de Hollywood, pompa e bom humor.
Ele já tinha lançado prédios menores e até discretos no centro e em Higienópolis, e erguido o loteamento Cidade Monções, no Brooklin. Quis inovar em três empreendimentos simultâneos (Viadutos, Planalto e Bretagne). Nesse último, os dezoito andares seriam revestidos de pastilhas coloridas.
Haveria piscina, salão de festas, sala com piano, playground e até um bar. A propaganda batia bumbo para as “comodidades extras que não poderiam ser obtidas individualmente” — ele sabia que seu público-alvo, a nova classe média, não frequentava clubes sociais aristocráticos e que muitas unidades tinham “apenas” 107 metros quadrados. A vasta cobertura do terraço-jardim, de curvas niemeyerianas, parece saída dos Jetsons (só que é alguns anos anterior ao desenho americano). Espírito da época, sem olhar para trás. A inauguração do Bretagne atraiu artistas e colunistas sociais. Um sucesso para quem ousou não fazer mais do mesmo.