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Leia capítulo da autobiografia de Gilberto Gil

Hoje, Gilberto Gil faz o show de abertura da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Mas essa não é a única participação do cantor e compositor baino no evento, que ocorre de 3 a 7 de julho. Além de comparecer a uma das mesas literárias, Gilberto Gil aproveita a ocasião para lançar a sua autobiografia Gilberto […]

Por Leonam Bernardo
Atualizado em 27 fev 2017, 01h00 - Publicado em 3 jul 2013, 14h26
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A capa da autobiografia: lançamento na Flip (Foto: Divulgação)

Hoje, Gilberto Gil faz o show de abertura da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). Mas essa não é a única participação do cantor e compositor baino no evento, que ocorre de 3 a 7 de julho. Além de comparecer a uma das mesas literárias, Gilberto Gil aproveita a ocasião para lançar a sua autobiografia Gilberto Bem Perto (Nova Fronteira, 400 páginas, R$ 59,90). Escrito a quatro mãos com a jornalista Regina Zappa, o livro aborda o período de exílio, os festivais da década de 60 e outras fases da trajetória do artista.

Leia aqui um trecho do capítulo A infância no sertão:

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A INFÂNCIA NO SERTÃO

“Onde o fim da tarde é lilás”

(“A paz”)

Ituaçu tinha apenas duas ruas. Na de cima, de terra batida, se concentrava a maior parte da população. Lá viviam os comerciários, empregados domés­ticos e outros trabalhadores menos favorecidos. Na outra, a de baixo, mora­vam os comerciantes e notáveis cidadãos, como os médicos, o padre, o juiz de direito, os farmacêuticos. Uma das mais respeitadas da cidade, a família do doutor José Gil Moreira tinha casa na rua de baixo.

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Nascido em Salvador, em 26 de junho de 1942, seu primogênito Gilber­to Passos Gil Moreira ainda nem completara um mês quando deixou a rua Ismael Ribeiro, no bairro de Tororó, nos braços da mãe, Claudina, para viver os nove anos seguintes na bucólica Ituaçu, no interior da Bahia. Não havia luz elétrica na cidade de oitocentos e tantos habitantes, e mais algumas centenas nos arredores, segundo registra o censo de 1950. Isso não era dificuldade para sua mãe, que vivera até os 12 anos em Salvador numa casa sem eletricidade, vendo a noite ser iluminada por lampião regado a óleo de baleia. Candeeiros, velas e aladins protegiam da escuridão.

Cidade de classe média e média baixa, Ituaçu não conhecia pobreza ex­trema, nem riqueza desproporcional. Território habitado originalmente pelos índios maracaiares e tapajós, ao pé da Chapada Diamantina, o lugar chamava­-se originalmente Brejo Grande. “Nesse ambiente começamos a crescer, eu e minha irmã. Tinha quintal com pé de fruta-pão, jaqueira, mangueira, goiabeira, abacateiro”, lembra-se Gilberto Gil da primeira infância.

Em casa, Gilberto Gil era chamado de Beto. Seus pais, Claudina Passos e José Gil Moreira, Cola e Zeca, casaram-se em 1941, em Salvador, onde viviam com suas famílias modestas, que se esforçaram para dar a educação que os tornasse alguém na vida. Claudina conheceu José numa festa de são João, no bairro de Santo Antônio, em Salvador, durante o período das festas tradicionais em que se cantavam as trezenas para santo Antônio. Claudina nunca se esqueceu do dia em que conheceu seu marido. Pouco antes de morrer, em 2012, contou a história com saudade:

“Conheci Zeca na casa de uma colega minha, Hilda. Quando terminava a trezena, tinha piano na casa e quem sabia tocar tocava, quem queria dançar dançava. Aí começamos a cantar e Zeca de olho em mim. Gostou, simpatizou. Mas não me disse nada, não sabia que ele tinha gostado de mim. Quando terminou minha licença, voltei para Palmeiral e Zeca vivia perguntando por mim. ‘Ah é professora e ensina no interior. Ela volta nas férias do fim do ano.’ Um dia, eu estava em casa, em Salvador, de férias, e Hilda chegou com uma cartinha em que ele fazia a declaração. Disse que tinha me apreciado muito, meus modos, meus procedimentos e queria que nos aproximássemos. Peguei a carta e mostrei à mamãe. Ela disse: ‘É, vamos ver, tem que experimentar’. Perguntei se podia chamá-lo para ir lá em casa e ela deixou. Ele marcou o dia e foi. Eu gostei dele, simpatizei também. Aí continuamos a conversar, a gente vai vendo as intenções de um, a boa vontade do outro, e vai se animando. Ele ainda ia se formar. Na formatura pediu que eu entrasse com ele na igreja e na faculdade. Ele disse: ‘Cola, vou te dar já o anel de noivado para você entrar como minha noiva.’ Naquele tempo era assim. Eu só entrava como noiva ou esposa. Namorada, não. Fui com ele. Era 1939. Um ano e meio de namoro e um ano e meio de noivado. Casamos em 1941. Beto nasceu em 1942 e Dina em 1943. E ponto final”.

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A família que criaram era composta por José, Claudina, Gilberto e Gildina, que nascera um ano depois do irmão. Gilberto tinha recebido o nome em homenagem a um amigo de infância do pai. Mas havia ainda outra integrante fundamental. Presente em todas as horas e responsável pela educação dos meninos, lá estava a avó Lídia, na verdade a tia que criou José, depois que seus pais morreram muito cedo, num curto espaço de tempo. Lídia era irmã do pai de José e criou o sobrinho como filho. Para os pequenos Beto e Dina, a tia-avó Lídia era verdadeiramente a avó que nunca conheceram. A casa e a tutela das crianças, em Ituaçu, ficavam a seus cuidados para que José e Claudina pudessem trabalhar. Sua presença criativa e afetuosa deixou marcas profundas na infância do menino.

“Minha avó cuidava do dia a dia. Aprendi a escrever, a ler, a contar, as primeiras histórias, Monteiro Lobato, os primeiros livros. Minha mãe era a disciplinadora, no sentido de exigir atenção aos valores morais, aos horários. A avó era mais liberal, era o afeto, a coisa lúdica”, lembra Gil.

Na escola Marquês de Abrantes, em Salvador, Lídia havia sido professora primária de muito prestígio. Gente que mais tarde ocupou cargos importantes dentro e fora da Bahia passou pelo crivo de dona Lídia. Mas, uma vez aposentada e com o “filho” José já casado, deixou o bairro de classe média baixa onde viviam e que concentrava a força católica da cidade, o bairro de Santo Antônio Além do Carmo — que abrigava o convento do Carmo e a Igreja de Santo Antônio —, e seguiu para Ituaçu para cuidar dos seus “netos”. Lídia permaneceu solteira e era muito costumeiro que as mulheres solteiras se dedicassem a educar e a criar as crianças da família. Ela era a preceptora. Beto nunca frequentou o maternal ou a escola primária. Tudo era em casa, o mundo infantil girava em torno da avó Lídia, que foi tutora e cuidou da educação básica.

 

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