Luiz Antônio Rocha se destaca em SP com monólogos de cenários minimalistas
Diretor carioca, que trabalha sem patrocínio, tem dois espetáculos em cartaz na cidade e vai estrear outros dois no final de fevereiro
Com dois espetáculos em cartaz na cidade e outros dois marcados para estrear no final de fevereiro, o diretor carioca Luiz Antônio Rocha, 57, começou o ano dominando a cena teatral paulistana. Até o próximo dia 4, enquanto o Teatro B32 recebe o monólogo Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio, sobre a filósofa russa, o Teatro Bravos é palco de O Profeta, solo baseado no livro centenário do escritor libanês Khalil Gibran. Três semanas depois, o Teatro Itália abriga mais dois monólogos seus, um sobre a cantora chilena Violeta Parra, que estreia no dia 24, e outro sobre Frida Kahlo, a partir do dia 29. A presença quase simultânea em três teatros da capital vai contra o contexto atual, cuja tendência tem sido as temporadas curtas e o fechamento de salas — depois de dezesseis anos, o tradicional Cultura Artística vai reabrir em agosto na Consolação apenas com shows, sem peças.
Iniciado n’O Tablado, icônica escola de teatro no Rio, Rocha voltou a se dedicar principalmente às artes cênicas após vinte anos como diretor de elenco na Globo, onde trabalhou em novelas históricas, como Laços de Família (2000) e Mulheres Apaixonadas (2003). A nova fase veio acompanhada da mudança para a capital, há pouco mais de um ano, após morar durante um período na Serra da Mantiqueira. “Aqui é mais perto do aeroporto e consigo viajar com as peças”, diz.
Rocha, que trabalha sem patrocínios, acredita que o sucesso das produções é consequência dos temas que elas abordam. “São questões da existência humana, de conexão com o sagrado. Nossa publicidade é o boca a boca”, diz. E parece que o boca a boca tem funcionado. O solo sobre Blavatsky está na quarta temporada em São Paulo, e Frida Kahlo — A Deusa Tehuana estreia na capital após dez anos quase ininterruptos em cartaz no Rio e em cidades como Fortaleza e Belo Horizonte.
Segundo ele, outros fatores essenciais para as temporadas sucessivas, em diversas cidades, são o próprio formato, com apenas um ator em cena, e os cenários minimalistas, que se tornaram a sua marca. “Foi a forma que encontrei de viabilizar as peças sem patrocínio. Monólogos não são tão mais baratos de produzir, mas possibilitam a logística para viajar e dar vida longa às peças”, diz.
Na peça sobre Frida, por exemplo, a atriz Rose Germano dá vida à pintora mexicana em um cenário composto apenas por uma longa passarela e quatro cadeiras, cada uma pintada com uma cor primária. A inspiração para os tons veio do Museu Frida Kahlo, a Casa Azul, no México, onde diretor e atriz ficaram durante quinze dias enquanto pesquisavam para a criação da obra. “Trabalho o ator e a essência, o resto é supérfluo. Para mim, cenário tem que caber na mala”, resume. Enquanto o cenário e os figurinos de Frida Kahlo — A Deusa Tehuana, mais elaborados, viajam no avião em quatro cases pequenos, os de Helena Blavatsky, a Voz do Silêncio — uma mesa, uma cadeira e alguns objetos cênicos como livros — cabem em três malas.
A forma “compacta” dos espetáculos também permite apresentá-los fora dos teatros, em locais menos comuns. Paulo Freire, o Andarilho da Utopia (2019), monólogo que conta a trajetória do educador e foi indicado ao Prêmio Shell 2019 na categoria Inovação, já fez apresentações na rua, em um assentamento, em um refeitório e em frente ao prédio da Polícia Federal, em Curitiba, durante a vigília em protesto contra a prisão do então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2019. “Sempre que idealizo os espetáculos, coloco o meu ego em segundo lugar para pensar no que de fato aquele personagem precisa para que eu conte sua história”, diz.
Publicado em VEJA São Paulo de 16 de janeiro de 2024, edição nº 2877