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Livro reúne textos de Athos Abramo, primeiro crítico teatral de São Paulo

'Athos Abramo: o Crítico Reencontrado' será lançado na próxima quinta (19), na SP Escola de Teatro

Por Júlia Rodrigues
13 jan 2023, 06h00
Capa de 'Athos Abramo: o Crítico Reencontrado': críticas e relatos familiares (GIOSTRI/Divulgação)
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Antes mesmo de Décio de Almeida Prado, grande expoente da crítica teatral brasileira, consolidar seu nome, houve um crítico pioneiro que documentou as primeiras peças estreladas por Cacilda Becker (1921-1969) e o sucesso de Procópio Ferreira (1898-1979), em uma era de grandes transformações no teatro paulistano. Na quinta (19), seus trabalhos são resgatados no livro Athos Abramo: o Crítico Reencontrado (2023, 186 págs., Giostri), em lançamento na SP Escola de Teatro. A obra é iniciativa do crítico teatral Jefferson Del Rios e da professora Alcione Abramo, filha de Athos, e reúne textos publicados na imprensa, além de relatos familiares.

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Entre tantos imigrantes italianos em São Paulo, a família Abramo era uma das que se destacavam. Muitos de seus membros foram influentes na cultura, na política e no jornalismo da capital no século XX. Filhos de Vincenzo Abramo e Afra Yole Scarmagnan, Cláudio Abramo (1923- 1987) introduziu importantes modificações no estilo de grandes jornais paulistas, o desenhista Lívio Abramo (1903-1992), por sua vez, ganhou o título de melhor gravador nacional na 2ª Bienal Internacional, e Lélia Abramo (1911-2004) foi uma importante atriz.

Athos (1905-1968) era o segundo irmão mais velho e, como a maioria dos veículos nos quais escreveu deixou de existir, seu pioneirismo foi esquecido. Mas não por sua filha Alcione, hoje com 89 anos, e sua irmã Lélia, que guardaram seus textos. “Tínhamos o costume de ler jornal todos os dias e recortávamos os textos do meu pai. Sempre quis reunir as críticas dele em um livro”, diz Alcione. Esse material, junto a fontes do Arquivo Público do Estado de SP, compõe a obra, que traz críticas escritas entre 1945 e 1968, período em que Athos exerceu a profissão. “No contexto pós-II Guerra, surgiram em São Paulo grupos de teatro importantes, como o Teatro Brasileiro de Comédia, o Teatro de Arena e o Teatro Oficina. Athos foi testemunha da passagem de um tempo para outro”, explica Del Rios.

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Em uma de suas críticas, de 1945, cita a “animação lírica e vibrante delicadeza” de Cacilda em um de seus primeiros trabalhos, a peça A Farsa de Inês Pereira e do Escudeiro. Também escreveu sobre espetáculos estrelados por Procópio Ferreira, ator e diretor pelo qual possuía grande admiração.

Cartaz antigo de peça de teatro
Cartaz da primeira peça do I Guitti: Lélia Abramo e Vladimir Herzog no elenco (Acervo Pessoal/Família Abramo/Divulgação)

O crítico não esteve só nas plateias, mas também dirigiu seu próprio grupo de teatro amador, o I Guitti (traduzido do italiano, Os Saltimbancos), a partir de 1955. A primeira montagem, La Regina e gli Insorti (A Rainha e os Insurgentes), foi no Teatro Leopoldo Fróes, na Vila Buarque, hoje extinto. Sob nome artístico de Lia Dogliani, a peça foi a estreia de Lélia Abramo, que depois alcançou o triunfo com Eles Não Usam Black-Tie (1958), de Gianfrancesco Guarnieri, e atuou no cinema e na TV, como em Pai Herói (1979). Seu colega de elenco foi o jovem Vladimir Herzog (1937- 1975), que se aventurou nos palcos antes de se tornar jornalista. “É um livro de grande importância não só para quem gosta de teatro. Ele mostra um pouco da história da cultura paulistana entre o pós-guerra e a ditadura militar”, conclui Del Rios.

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Publicado em VEJA São Paulo de 18 de janeiro de 2023, edição nº 2824

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