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Randômicas

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Músicos aceitam encomenda de criar canção para dar de presente

É possível escolher tema, e as faixas, de cerca de dois minutos, são interpretadas por profissionais, registradas em vídeo e enviadas via WhatsApp

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Atualizado em 11 set 2020, 09h09 - Publicado em 11 set 2020, 06h00
Lenna e Grajew, em Luz Azul: presente para Heitor, inspirado em Panis Angelicus (Youtube/Reprodução)
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A empresária Vivian Pisaneschi, de 52 anos, estava quebrando a cabeça para encontrar um presente ideal para a prima, Lúcia Diello, que havia dado à luz Heitor, seu primeiro filho, e que em meio à quarentena não podia receber visitas. “Queria algo original para que o bebê levasse para a vida.” A ideia veio de uma postagem no Instagram da cantora Fabiana Cozza, sobre o projeto A Nossa Música, plataforma em que é possível encomendar uma canção ou composição instrumental a partir de um tema.

As faixas, de cerca de dois minutos cada uma, são criadas e interpretadas por músicos profissionais, registradas em vídeo e enviadas via WhatsApp e pelas redes sociais (a gosto do cliente). Quando Heitor completou 1 mês de vida, recebeu sua lembrança, Luz Azul, com Lenna Bahule e Daniel Grajew. Entre as referências estava Panis Angelicus com Pavarotti e a mensagem sobre romper barreiras. “Conseguiram traduzir o que queríamos e ainda deram um ar mais moderno.”

A mamãe de primeira viagem não conteve as lágrimas. “Foi extremamente emocionante”, conta Lúcia. “Estamos isolados da família e a música é muito reconfortante, como se o caos não existisse.” Ela afirma que a faixa já faz parte do dia a dia do recém-nascido. “Fazemos o ritual de dormir com ela, vai estar sempre com o Heitor.”

composições criativas
Paula Mirhan, o violinista Herz, em Ouvindo o Vento Passar, em parceria com Segreto: composições criativas (Youtube/Reprodução)

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Luz Azul é uma das cerca de setenta composições que já foram criadas dentro do projeto, que está em seu terceiro mês. Encabeçada pela pianista Júlia Tygel, A Nossa Música foi inspirada em outra iniciativa, Versinhos de Bem-querer, das bordadeiras do Vale do Jequitinhonha. “São trinta músicos já inseridos no mercado musical, com muitos shows, e que ficaram sem poder tocar em lugar nenhum”, conta Júlia. “Entre lives e vídeos para a internet, que geralmente não revertem em renda, decidimos testar esse formato.” E tem dado certo. Para ter uma faixa para chamar de sua, o site sugere contribuições financeiras a partir de 300 reais, que, segundo a pianista, apesar de pouco para uma composição, ajuda na dinâmica da empreitada. “No fim do mês, juntamos todo o valor arrecadado e distribuímos de acordo com a função de cada um nas criações. Todo mundo recebe igual”, explica.

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Há ainda uma porcentagem ao Conexão Música Fundo Emergencial, para auxiliar profissionais da área que passam por necessidade. Segundo ela, tem chamado atenção a felicidade do público não só por receber as obras mas também por colaborar com a arte. “Há uma revalorização e a música se tornou veículo de afetos.”

A juíza Tatiana Magosso entrou em contato com a plataforma justamente para contribuir com a causa dos artistas. Aproveitou que seu filho, João Paulo, de 4 anos, estava passando a quarentena com seus quatro avós no interior de São Paulo para pedir uma canção para o momento. O resultado foi a delicada Qua Qua Qua, de Marcelo Segreto e Rodrigo Ursaia. “Quando pedi o mote, não tinha atentado para o fato de ter escrito quatro anos, quatro avós e quarentena e achei muito criativa a brincadeira do qua-qua”, conta.

Tatiana e João
Tatiana e o filho João: os dois gostaram da música Qua Qua Qua (Arquivo pessoal/Reprodução)
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Também interessado em ajudar estava o empresário Renato Miralla, que mora em Barcelona e viu a indicação de um amigo. A ideia era chegar aos ouvidos da mãe, Maria Judite, que passa por um tratamento médico em São Paulo. “Queria uma homenagem que lhe desse mais força. Quando entendeu que a música tinha sido feita especialmente para ela, ficou muito feliz”, relata.

Júlia diz que os amigos abraçaram logo a causa com carinho. “Estavam loucos para tocar de novo, compartilhar criações”, diz. “Alguns até se questionaram se dariam conta de entregar um trabalho bonito”, diverte-se. Foi o caso de Patrícia Bastos, que recebeu a encomenda de um fado logo de cara. “Passei algumas noites sem dormir porque nunca tinha feito algo similar”, conta. No fim, gostou e convocou seu irmão, o músico Paulinho Bastos, para se juntar ao time.

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Parte do coletivo, o violinista Ricardo Herz tem se divertido com as descobertas musicais e destaca os encontros inéditos (e virtuais) que o projeto vem realizando, sob responsabilidade do curador Benjamim Taubkin. “Foi um incentivo para eu compor mais e fazer parcerias com pessoas com quem nunca tinha trabalhado antes.” Diz Júlia: “Tem saído resultados muito incríveis, com qualidade, e está nos planos deixar o projeto vivo mesmo depois da pandemia”.

Segreto e Ursaia
Segreto e Ursaia: música para quarentena (Youtube/Reprodução)

Se depender do público, A Nossa Música terá vida longa, como aposta a professora Soraya Reginato da Vitória, que encomendou o presente para o companheiro, Felipe de Oliveira, inspirado em versos que ela escreveu, chamado O Beijo. Com um bebê recém-nascido, ela já planeja composições para o pequeno. “Estamos pensando com muito carinho em um mote para ele.”

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Júlia e Ursaia, em O Beijo: música inspirada nos versos escritos por Soraya para o companheiro (Youtube/Reprodução)

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Publicado em VEJA São Paulo de 16 de setembro de 2020, edição nº 2704.

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